Não deve receber os sacramentos quem vive em união ilícita
Uma realidade com a qual os sacerdotes e catequistas cada vez mais precisam lidar é com os casos de catecúmenos jovens e adultos que vivem juntos (sem estarem casados na igreja) ou em situação de segunda união.
Em estado objetivo de pecado mortal, claramente essas pessoas não poderão receber os sacramentos. Então, o que fazer?
Antes de tudo, a equipe responsável pela catequese (clero e leigos) deve entender que essa “bomba” não deve ser jogada convenientemente nãos mãos do próprio catecúmeno. Não podemos lavar as mãos, dizendo: “A gente explica a doutrina da Igreja, e ele decide se vai receber os sacramentos ou não, mesmo sem mudar de vida”.
Todos – padres, catequista e catecúmenos – têm sua parcela de responsabilidade, e todos responderão diante do Senhor caso alguém seja autorizado a receber o Crisma e se a receber a Eucaristia, mesmo estando em pecado público.
ACOLHER OS PECADORES, JAMAIS REPELIR
Desde o início do catecumenato de jovens e adultos, é fundamental deixar claro para todos os catecúmenos qual é a doutrina da Igreja acerca do matrimônio. Isso pode ser feito por meio de uma palestra geral ou por meio de um panfleto, em que se explique aos catecúmenos o que eles devem esperar da catequese, e o que a Igreja espera deles.
Um catequista não pode ter vergonha do que Cristo ensinou, para que, no Dia do Juízo, Cristo não se envergonhe dele:
“Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério.” (Mateus 5, 31-32)
É preciso alertar sobre:
- a situação objetiva de adultério de quem vive em segunda união;
- o pecado grave dos que vivem juntos, mas não são casados na Igreja Católica (pessoas em concubinato, casados somente no civil e uniões homossexuais).
Antes de tocar nesses pontos delicados, é prudente preparar o terreno. Afinal, o objetivo não é espantar os pecadores da Igreja, e sim abraçá-los. Pois “Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes” (Marcos 12,17).
Como fazer isso? Um bom caminho é explicar que o fato de alguém frequentar a catequese não significa que ele, necessariamente, receberá o sacramento no final. Tudo vai depender se, após conhecer a proposta da Igreja para vida dele, o catecúmeno vai chegar (ou não) à conclusão de que aquele anúncio é verdadeiro, e aceitar seguir a doutrina católica.
Mas se alguém NÃO SE DISPÕE a seguir a doutrina católica, não faz sentido nenhum insistir em receber os sacramentos da Igreja. Se assim for, estará fazendo um pecaminoso “teatro” e cometendo sacrilégio.
Questões práticas
Já que, na cerimônia do Crisma, os crismandos prometem solenemente renunciar a Satanás e a todas as suas seduções. Em outras palavras: prometem rejeitar o pecado em suas vidas. Então, se alguém está vivendo em situação objetiva de pecado grave, obviamente, não está preparado para receber os sacramentos.
Esse é o ponto-chave da mensagem, que deve ser dito com muita ênfase: ainda que a pessoa, por suas escolhas pessoais de vida, não possa receber os sacramentos, as portas e o coração da Igreja estão abertas para ela.
Ela pode concluir o curso preparatório da catequese, pode participar das mais diversas pastorais e movimentos da Igreja, pode servir os pobres por meio das ações de caridade da paróquia, pode procurar os sacerdotes e diáconos para aconselhamento…
E, afinal, até o fim do curso preparatório da catequese, “muita água ainda vai rolar embaixo da ponte”. Então, é preciso ter a oportunidade ouvir a Palavra, conhecer melhor a Igreja e fazer bons amigos católicos, se possível.
É preciso dar uma chance para Jesus mudar o nosso olhar sobre as coisas.
Ao fim da palestra (ou do panfleto), com uma atitude positiva, diga algo como: “Todos os que estão em situação matrimonial irregular, por favor, me procurem. Vamos conversar, entender as situações e ajudar todos a caminhar com Jesus, caso a caso”.
Cuidado da Igreja
Em um primeiro momento, um catequista leigo pode acolher essas pessoas em situação matrimonial irregular. Mas é fundamental que, logo em seguida, elas sejam encaminhadas e acompanhadas muito de perto pelo sacerdote ou diácono responsável pela catequese.
Será preciso ver quais casos podem ser encaminhados ao tribunal eclesiástico (para julgamento de possível nulidade da união anterior); quais “ajuntamentos” não possuem nenhum impedimento e podem se tornar em breve casamentos católicos; etc.
O Papa Francisco diz que é preciso acompanhar, discernir e integrar a fragilidade das famílias em situações complicadas. O foco deve ser trazê-las para um caminho de santidade:
“Convido os fiéis, que vivem situações complexas, a aproximar-se com confiança para falar com os seus pastores ou com leigos que vivem entregues ao Senhor. Nem sempre encontrarão neles uma confirmação das próprias ideias ou desejos, mas seguramente receberão uma luz que lhes permita compreender melhor o que está a acontecer e poderão descobrir um caminho de amadurecimento pessoal”. (Amoris Laetitia, 312)
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Dúvidas
MEU CRISMANDO DIZ QUE VAI CASAR LOGO APÓS RECEBER OS SACRAMENTOS. DEVO CONFIAR?
Não, definitivamente, não deve confiar.
Minha cara quando algum crismando me vem com esse papo de “vô casar depois, eu juro seu moço”:
Em mais de duas décadas de atuação como catequista, NUNCA vi nenhum catecúmeno cumprir essa promessa!
Via de regra, o que acontece é:
1 – o padre resolve flexibilizar a lei da Igreja e dá um voto de confiança ao catecúmeno;
2 – mesmo em situação irregular, o catecúmeno recebe os sacramentos, prometendo que vai se casar em breve (assim que o pai doente ficar bom, assim que voltar para a terra natal, assim que vender o carro para usar o dinheiro na festa etc.);
3 – passam-se os meses, depois sucedem-se os anos, e a criatura nada de honrar a palavra dada: continua dando desculpas para seguir vivendo em pecado grave e público.
MAS ELE DIZ QUE PRECISA DE DINHEIRO PARA A FESTA…
Se alguém dá mais valor à dimensão material da vida (festa de casamento) do que ao estado de sua alma e ao seu destino final (a esperança de salvação), está simplesmente dando a prova cabal de que não está preparada para receber os sacramentos.
O QUE DIZ A AMORIS LAETITIA SOBRE A EUCARISTIA AOS “RECASADOS”?
Lamentavelmente, muitos padres e catequistas estão autorizando indiscriminadamente que crismandos em situação de segunda união recebam os sacramentos. E fazem isso dizendo que estão de acordo com a Amoris Laetitia. Errado!
Veja o que diz um trecho crucial do documento:
“Para evitar qualquer interpretação tendenciosa, lembro que, de modo algum, deve a Igreja renunciar a propor o ideal pleno do matrimónio, o projeto de Deus em toda a sua grandeza (…). A tibieza, qualquer forma de relativismo ou um excessivo respeito na hora de propor o sacramento seriam uma falta de fidelidade ao Evangelho e também uma falta de amor da Igreja pelos próprios jovens.
A compreensão pelas situações excepcionais não implica jamais esconder a luz do ideal mais pleno, nem propor menos de quanto Jesus oferece ao ser humano. Hoje, mais importante do que uma pastoral dos falimentos é o esforço pastoral para consolidar os matrimônios e assim evitar as rupturas”. (Amoris Laetitia)
Segundo Fonte de O Catequista
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