Uma semana diferente – Costumes e devoções da Semana Santa
Sentimento de piedade
A maioria dos católicos durante a Semana Santa tendem a modificar seus hábitos para demonstrar toda sua devoção e contemplação ao sofrimento redentor de Cristo. A Liturgia e as Tradições populares acompanham este movimento interior de profunda comoção.
Quem nunca derramou uma lágrima ao acompanhar uma encenação da Paixão de Cristo, ou durante a celebração da Paixão? Quem nunca chegando em casa depois, ficou recolhido meditando em cada chaga e gota de sangue do Senhor e cada lágrima de Nossa Mãe?
Você sabia que ter compaixão e chorar por Cristo Sofredor faz com que sua alma receba infinitas graças? Foi o que aconteceu com Santa Teresa de Ávila. Seus 20 primeiros anos de convento ela descreve sua alma como tíbia, ou seja, não era uma alma verdadeiramente convertida a Deus.
Foi quando lhe trouxeram uma imagem de Cristo Chagado. Ele sentiu uma profunda comoção e, recebendo naquela hora o dom das lágrimas, começou a dedicar-se a oração, juntamente com a leitura das Confissões de Santo Agostinho. Logo, afastou-se dos pecados que a aprisionavam.
Meditava todas as noites sobre o Cristo no Horto das Oliveiras até que seu ser foi completamente tomado pelo amor de Deus.
Portanto para nos ajudar neste movimento interior a Igreja e a piedade popular nos oferecem uma gama de práticas e costumes exteriores que nos ajudam a meditar no Mistério Pascal.
O Domingo de Ramos
É costume muito antigo na Igreja, a partir do Domingo de Ramos, cobrir com pano roxo as cruzes, quadros e imagens sacras. As cruzes ficam cobertas até o final da liturgia da Sexta-Feira Santa, os quadros e demais imagens até a celebração da noite de Páscoa.
O sentido desse ato fundamenta-se no luto pelo sofrimento e morte de Cristo. A cor roxa simboliza a tristeza, a dor e a penitência.
A cruz também é coberta, fazendo-nos recordar que nosso Jesus foi humilhado e sua Cruz se tornou vergonha para os judeus, seus compatriotas.
Procissões e ofícios
Nas paróquias mais tradicionais a Terça-Feira Santa é dia de procissão de Nosso Senhor dos passos, também chamada Procissão do Encontro. Em suma os fiéis se dividem em duas procissões; uma acompanha a imagem de Nossa Senhora das Dores e a outra de Nosso Senhor dos Passos.
Num determinado momento as duas se encontram e rezam as oração e cânticos correspondentes.
O Ofício das Trevas
Na noite de Quarta-Feira para Quinta-Feira Santa algumas paróquias costumam rezar o Ofício das Trevas. O nome assusta, mas tem um sentido. É uma Missa celebrada à noite e à luz de velas.
No altar fica um candelabro, chamado de Tenebrário, com 15 velas que representam os Apóstolos e Cristo (a vela central). São rezados 14 salmos e ao final de cada um, uma vela é apagada que simboliza o abandono de cada um dos discípulos ao aproximar-se a Paixão de Cristo.
Uma única vela ficar acesa a iluminar a igreja: é Cristo luz do mundo. Em determinado momento essa vela é levada para trás do altar simbolizando a descida de Jesus ao sepulcro. Ao final da liturgia, os coroinhas fazem soar as matracas, ou convidam os fiéis a baterem os pés no chão, enquanto o povo deixa a igreja.
Neste dia se recorda também o momento em que Judas combina o preço para entregar Jesus aos fariseus.
A Paixão
Chegamos na Quinta-Feira e temos a famosa Missa de Lava-Pés. As paróquias costumam encenar este momento com o pároco no lugar de Jesus a lavar os pés de alguns paroquianos escolhidos.
Para reforçar o sentido do despojamento de Deus, após a Missa de Lava-Pés o altar é despido; retiram-se toalhas e flores. Lembremos que na Liturgia o altar também é o Cristo.
O Santíssimo Sacramento é retirado do sacrário para voltar somente no Domingo. Não há canções para encerrar a celebração e os fiéis entram no drama da Paixão.
Algumas igrejas mantém o Santíssimo numa capela menor para uma vigília de adoração.
Neste dia em alguns lugares acontece a procissão do fogaréu. Ela começa à meia-noite com homens vestidos com roupas próprias representando os soldados romanos que foram buscar o Cristo e prendê-lo. Eles seguram tochas e tocam tambores e saindo de uma igreja até outra, onde encontrarão o estandarte de Cristo.
O cântico de Verônica
Chegamos à encenação da Via Sacra onde encontramos o tradicional cântigo de Verônica. O nome significa, em latim “veros icona”, ou imagem verdadeira.
A Tradição da Igreja atribui este nome a piedosa mulher que usou seu véu para enxugar o rosto ensanguentado de Jesus no caminho do Calvário. Assim que Jesus seguiu seu caminho, Verônica observou que o rosto do Senhor havia ficado impresso naquele tecido de maneira milagrosa.
Curiosidade: No livro apócrifo “Atos de Pilatos” diz que Verônica foi a mulher curada por Jesus de uma hemorragia (Lc 8,43-48)
Por isso, até hoje durante a Via Sacra na Sexta-Feira da Paixão, Verônica entoa um cântico de lamentação:
“Ó vós todos que passais pelo caminho, parai e vede se há dor igual à minha dor.”
O Sábado do Silêncio
Você consegue imaginar como deve ser o dia de alguém que acabou de enterrar alguém querido? Como será o dia seguinte para ela?
Então, é este o clima do Sábado Santo. Recolhimento e silêncio; o dia anterior foi de forte emoção, que mexeu com todas as células do nosso corpo, portanto demos a ele o descanso merecido.
As igrejas ficam fechadas para simbolizar o Santo Sepulcro; o nosso Deus repousa no seio da Terra, e toda a criação está em silêncio, pois o autor da vida desceu aos infernos para resgatar os seus fiéis desde a fundação do mundo. É um dia de espera.
Em alguns lugares as pessoas fabricam um boneco de tecidos e simulam o lixamento de Judas (Malhar o Judas). Todavia esta prática não condiz com o sentimento cristão, muito menos com a tradição bíblica que diz que o apóstolos cometeu suicídio após perceber o erro que havia cometido.
O Fogo Novo
À noite, todos se dirigem para a igreja com suas velas para a bênção do Fogo Novo. Tradicionalmente a Missa de Aleluia começa do lado de fora da igreja onde o padre abençoa o fogo que representa a passagem de Cristo da Morte à Vida.
O Círio Pascal, que representa o Cristo, é abençoado e preparado para ser aceso com aquele fogo novo. Ele é o primeiro a entrar na igreja (que deve estar com as luzes apagadas), mostrando que Cristo é a Luz que dissipa todas as trevas do mundo.
A liturgia deste dia é extensa: são ao todo sete leituras entre Antigo e Novo Testamento e sete salmos que narram a história do povo de Deus até a ressurreição de Cristo. Nesta Missa também acontecem o batismo dos catecúmenos que se preparam durante um ano.
Curiosidade: na antiguidade esta missa costumava ir madrugada adentro, pois o número de leituras e batismos eram bem maiores.
Cristo Ressuscitou, Aleluia, Aleluia!
Finalmente a Missa da Ressurreição no Domingo de Páscoa! Neste dia duas Missas distintas; uma celebrada antes ao amanhecer e outra ao longo do dia.
Esta data é tão importante e o mistério Pascal é tão rico que a Igreja abarca os próximos sete dias como se fosse o mesmo dia; o Primeiro da Semana (domingo). É a chamada Oitava de Páscoa.
Portanto, que possamos nos preparar para o grande dia da Páscoa.
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