Palavra do Mês de Janeiro – Com São José na periferia da vida do homem, na glória do Deus vivo!
“Também José subiu da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, cidade de Davi, chamada Belém” (Lc 2, 4)
Chegamos à meditação de mais uma Palavra do Mês dedicada a São José. Queremos fazê-la desta vez, acompanhando uma bonita reflexão do Papa Francisco, que tem tudo a ver, com o nosso chamado a “evangelizar os pobres”, materialmente e espiritualmente. Papa Francisco quis, de fato, convidar toda Igreja a contemplar e invocar São José, mesmo nesse tempo de grande crise global, e tudo isso, exatamente 150 anos depois que o Papa Pio IX proclamou São José Padroeiro da Igreja Universal.
Papa Francisco, após ter explicado o sentido do nome José, que em hebraico significa “Deus acrescenta, Deus faz crescer”, nos ensina a perceber como José, o esposo de Maria, é semelhante a José do Egito, que confia na providência de Deus, que “faz crescer”.
Os dois “Josés”, de fato, foram chamados a realizar grandes obras e receberam grande autoridade, mesmo a partir da pobre humilde condição. Sempre, a Palavra de Deus nos ensina que “Deus escolhe o que é fraco para confundir os fortes” (1Cor 1,27). Quando somos fracos, então se cumpre a força de Deus (cf. 2Cor 12,10). Nesta luz, podemos entender que também as referências geográficas que marcaram a vida de São José são fundamentais para entender a sua missão.
“Também José subiu da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, cidade de Davi, chamada Belém” (Lc 2, 4)
No Antigo Testamento, a cidade de Belém é chamada Beth Lechem, “Casa do pão”, ou também Efrata, devido a tribo que se estabeleceu naquele território. No entanto, em árabe, o nome significa “Casa da carne”, provavelmente devido ao grande número de rebanhos de ovinos e caprinos na área. Não foi por acaso, de fato, que quando Jesus nasceu, os pastores foram as primeiras testemunhas do acontecimento (cf. Lc 2, 8-20). À luz da história de Jesus, estas alusões ao pão e à carne referem-se ao mistério da Eucaristia: Jesus é o pão vivo que desce do céu (cf. Jo 6, 51). Ele próprio dirá de si: «Quem comer a minha carne e beber o meu sangue viverá eternamente» (Jo 6, 54).
Belém é mencionada várias vezes na Bíblia, desde o Livro do Gênesis. O profeta Miquéias predisse grandes coisas sobre Belém: «E tu, Bet-Ephrata, tão pequena entre as famílias de Judá, é de ti que me há de sair aquele que governará Israel» (Mi 5, 1). O evangelista Mateus retomará esta profecia e ligá-la-á à história de Jesus como o seu evidente cumprimento.
De fato, o Filho de Deus não escolheu Jerusalém como o lugar da sua encarnação, mas Belém e Nazaré, duas aldeias periféricas, longe do clamor da crônica e do poder da época. Contudo, Jerusalém era a cidade amada pelo Senhor (cf. Is 62, 1-12), a «cidade santa» (Dn 3, 28), escolhida por Deus para lá habitar (cf. Zc 3, 2; Sl 132, 13). Ali, com efeito, habitavam os doutores da Lei, os escribas e fariseus, os chefes dos sacerdotes e os anciãos do povo (cf. Lc 2, 46; Mt 15, 1; Mc 3, 22; Jo 1, 19; Mt 26, 3).
É por isso que a escolha de Belém e Nazaré nos diz que a periferia e a marginalidade são prediletas a Deus. Jesus não nasceu em Jerusalém com toda a corte… não! Nasceu numa periferia e transcorreu a sua vida, até aos 30 anos, naquela periferia, trabalhando como carpinteiro, como José. Para Jesus, as periferias e a marginalidade são prediletas. Não levar esta realidade a sério equivale a não levar a sério o Evangelho e a obra de Deus, que continua a manifestar-se nas periferias geográficas e existenciais.
O Senhor age sempre de maneira escondida nas periferias, também na nossa alma, nas periferias da alma, dos sentimentos, talvez sentimentos dos quais nos envergonhamos; mas o Senhor está ali para nos ajudar a ir em frente. O Senhor continua a manifestar-se nas periferias, quer geográficas quer existenciais. Em particular, Jesus vai em busca dos pecadores, entra nas suas casas, fala com eles, chama-os à conversão. E foi até repreendido por isto: “Mas, veja, este Mestre – diziam os doutores da lei – veja este Mestre: come junto com os pecadores, suja-se, vai à procura daqueles que não praticam o mal, mas o sofrem: os doentes, os famintos, os pobres, os últimos”.
Jesus vai sempre rumo às periferias. E isto deve dar-nos muita confiança, pois o Senhor conhece as periferias do nosso coração, as periferias da nossa alma, as periferias da nossa sociedade, da nossa cidade, da nossa família, isto é, aquela parte um pouco obscura que não mostramos talvez por vergonha.
Sob este aspecto, a sociedade daquela época não é muito diferente da nossa. Hoje também há um centro e uma periferia. E a Igreja sabe que é chamada a anunciar a boa nova a partir das periferias. José, que é um carpinteiro de Nazaré e que confia no plano de Deus para a sua jovem noiva e para si mesmo, recorda à Igreja que fixe o olhar naquilo que o mundo ignora deliberadamente. Hoje José ensina-nos isto: “Não olhemos para as coisas que o mundo louva, olhemos para os ângulos, as sombras, as periferias, para aquilo que o mundo não quer”.
Ele lembra a cada um de nós que demos importância ao que os outros descartam. Neste sentido, é verdadeiramente um mestre do essencial: lembra-nos que o que é realmente valioso não atrai a nossa atenção, mas requer um discernimento paciente para ser descoberto e valorizado. Descubramos o que é válido. Peçamos-lhe que interceda para que toda a Igreja possa recuperar este discernimento, esta capacidade de discernir, esta capacidade de avaliar o que é essencial. Comecemos de novo, a partir de Belém, comecemos de novo a partir de Nazaré.
“Também José subiu da cidade de Nazaré da Galileia para a Judeia, cidade de Davi, chamada Belém” (Lc 2, 4)
Eis, então, um convite concreto para nós todos: “repartir das periferias!”. O fim do caminho com Cristo é sempre o começo de um novo envio missionário.
Não são os pobres que precisam de nós, somos nós que precisamos dos pobres, para aprendermos o caminho da humildade, o caminho do amor. Quanto mais descermos ao encontro dos pobres, material e espiritualmente, dos “Zé ninguém” da nossa sociedade, tanto mais experimentaremos a força do carisma de São José: “de Deus que acrescenta, que faz crescer”. Quanto mais descermos para ir buscar aqueles que perdemos ao longo do nosso caminho ou indo ao encontro daqueles que não foram encontrados ainda, tanto mais cresceremos espiritualmente e a providência do Senhor enriquecerá, com meios e vocações, a obra que Deus deseja realizar em nós.
Feliz 2022, na periferia da vida do homem, na glória do Deus vivo!
São José, vós que sempre confiastes em Deus, e fizestes as vossas escolhas guiado pela sua providência, ensinai-nos a não contar tanto com os nossos projetos mas com o seu desígnio de amor. Vós que viestes das periferias, ajudai-nos a converter o nosso olhar e a preferir o que o mundo descarta e marginaliza. Confortai quantos se sentem sozinhos e apoiai quantos se comprometem em silêncio para defender a vida e a dignidade humana.
Amém.
Pe. João Henrique
Fundador da Aliança
Acesse aqui as Palavras do Mês do Ano de São José
Palavra do Mês de Abril – José: herdeiro da promessa
Palavra do Mês de Maio – José: o homem dos sonhos de Deus
Palavra do Mês de Junho – José: o homem do Sim Incondicional
Palavra do Mês de Julho: O Natal de São José
Palavra do Mês de Agosto – José: o homem do sim à Obra de Deus
Palavra do mês de Setembro: José, Maria e Jesus: a Família de Nazaré
Palavra do Mês de Outubro – José: esposo de Maria
Palavra do Mês de Novembro – A família de Nazaré: fonte de cura
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