São Maximiliano e Rudolf Hoss: o mistério do homem

A vida tem destas ironias e a partir delas, o site polonês da Aleteia comparou as vidas de São Maximiliano Maria Kolbe e Rudolf Hӧss – o comandante do campo de Auschwitz – que morreram exatamente com a mesma idade, 47 anos.

Olhando a biografia de ambos, percebe-se que tiveram as mesmas oportunidades de estudo e ambiente familiar. Mas o que levou um a se tornar santo e o outro um criminoso? Como nossas escolhas podem determinar quem seremos no futuro?

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Até que ponto nos tornaremos tão profundamente envolvidos no mal ou no bem que parece ser impossível mudar de caminho?

A partir de um livro do escritor Władysław Kluza, “47 anos de vida”, analisamos a biografia alternada de São Maximiliano e Rudolf Höss que traz os seguintes paralelos:

Maximiliano Kolbe: caminho franciscano

A mãe do pequeno Rajmund (nome de batismo de São Maximiliano), olhando para seu filho, se perguntava como ele cresceria, quem seria aquele menino. Os pais, católicos praticantes, acolheram o desejo do filho de ingressar na ordem franciscana depois de uma breve hesitação, que foi dissipada durante uma peregrinação à Jasna Gora.

Os franciscanos prometeram cobrir os custos do ensino de Rajmund e também de seu irmão mais velho, Franciszek. O menino se saiu muito bem, distinguiu-se em ciências exatas, mas sua paixão era matemática e física.

Vendo seu entusiasmo e fé, seus superiores decidiram mandá-lo para Roma para estudos adicionais. Na Cidade Eterna, ele ficou encantado pelo Coliseu recordando o martírio de tantos cristãos.

Rudolf Höss: uma fé perturbada

Também a mãe do pequeno Rudolf se perguntou quem seria seu filho no futuro. Ela e o marido sonhavam que ele pudesse tornar-se padre.

O pai (amoroso, mas também severo e exigente) queria que seu filho se tornasse um missionário que levasse o Evangelho até os confins do mundo, anunciando às pessoas de que somos todos filhos amados de Deus e que por isso deveríamos amar-nos uns aos outros.

Quando Rudolf cresceu, abraçou o desejo de seus pais; chegou a ir com eles em uma peregrinação à Lourdes pedindo uma confirmação de sua vocação sacerdotal. Ele era muito aplicado e um coroinha exemplar, confessava-se regularmente e recebia a comunhão todos os domingos.

Uma vez, no entanto, ele disse durante a confissão sobre um incidente na escola, quando ele acidentalmente empurrou seu amigo para baixo da escada.

Não tendo mencionado o incidente em casa, o seu pai ficou sabendo de tudo no dia seguinte (Rudolf achou que o padre havia contado) e puniu seu filho. A partir de então, o menino rompeu com a prática da confissão regular e deixou de confiar na Igreja.

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Maximiliano Kolbe: invenções à serviço do Evangelho

Em 1914, o pai de Rajmund morreu na guerra. Ele, já seminarista, se perguntou se deveria retornar à Polônia e lutar em defesa de sua pátria, mas decide permanecer no seminário e em 28 de abril de 1918 é ordenado sacerdote.

Ele era um homem muito à frente de seu tempo, tendo uma opinião diferente da Igreja da época a respeito das invenções e progressos. Ele não as considerava nem boas ou ruins, só que deveriam ser bem usadas.

Ele cria a revista “O Mílite da Imaculada”, cuja circulação no primeiro ano chegou a 750.000 cópias. Em 1927 fundou um mosteiro em Niepokalanów e alguns anos depois, foi em missão para o Japão, Nagasaki, onde criou a segunda Cidade da Imaculada.

Pouco antes da II Guerra, seu mosteiro já tem sua própria estação de rádio. Padre Maximiliano trabalha incansavelmente, dedicando tudo aos seus ideais e levar o nome de Cristo aos confins do mundo.

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Rudolf Höss: o nacional socialismo como religião

Em 1914, o pai de Rudolf Höss também morreu. Esta morte selou a decisão do jovem de escolher ser um soldado ao invés de seguir a vida sacerdotal. Aos dezesseis anos de idade, depois de um curto treinamento, ela vai para a frente de batalha no Iraque. Lá, mata um homem pela primeira vez.

O capitão que o acompanhava, disse em relatório, que ele estava inicialmente com muito medo, mas depois “de alguma forma foi em frente”.

Na idade de dezessete anos, ele se tornou o mais jovem no exército alemão a ser premiado com a Cruz de Ferro de Primeira Classe. Em 1922, no congresso em Munique, ele conhece Adolf Hitler; fica encantado com o seu discurso, filiando-se ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP).

Sua carreira teve um rápido crescimento, porém, que foi interrompida por alguns anos, por ter sido preso pelo assassinato de Walter Kadov, acusado de trair e entregar Albert Leo Schlageter para ser executado pelos franceses.

Depois de seis anos, sob a anistia, ele é libertado e, a pedido de Himmler, junta-se à SS. Sua religião é o Nacional Socialismo; sacrificou tudo por seus “ideais” e quer ganhar o mundo para que o nazismo ocupe territórios.

Maximiliano Kolbe: Deus dentro do homem

Finalmente em Niepokalanów (Cidade da Imaculada) é aberto um seminário; milhares de pessoas vão ao mosteiro à procura de fé e consolo. Os irmãos recebem grande quantidade de cartas, cujo número chega a cinco mil por dia.

A circulação da revista “O Mílite da Imaculada” em dezembro de 1938 atingiu um número impressionante de um milhões de cópias!

Padre Maximiliano não dá grande importância para estatísticas e números, mas, coloca em primeiro lugar Deus e o próximo. Certa vez um irmão ficou doente e como o tratamento era muito caro, ele recomendou de vender objetos valiosos do mosteiro para ajudar nos custos.

A quem manifestava surpresa com a decisão, ele afirmava que “para salvar um templo vivo no qual Jesus encontra uma festa de boas-vindas todos os dias, um navio da Igreja poderia ser vendido”.

A Segunda Guerra Mundial interrompe todos os planos de missão. Padre Maximiliano e os seus irmãos, apesar da destruição anunciada de Niepokalanów, organizam um abrigo para três mil pessoas deslocadas da província de Poznań.

Em 17 de fevereiro de 1941, ele foi preso pela Gestapo (Polícia Secreta Alemã) e primeiro foi levado para Pawiak e por último para o campo de concentração de Auschwitz.

Rudolf Höss: em Auschwitz como no paraíso

Neste momento, Rudolf Höss é o comandante deste campo. Todos os dias ele supervisiona e coloca em movimento uma máquina que mata milhares de pessoas. Ele vê pessoas caindo de fome, forçadas a um trabalho exaustivo, vê mães morrendo de desespero vendo seus filhos mortos por diversão.

Depois de voltar a “trabalhar” em sua luxuosa vila com janelas (onde se pode ver o crematório desenhado por ele), fala calmamente com sua esposa, que leva seus filhos pra brincar, lê para eles histórias com a tranquilidade de quem está fazendo o seu trabalho.

Ele trabalha para que todos os desejos de sua família sejam cumpridos. “Eu me sinto aqui no paraíso”, confessa à sua esposa um dia.

Maximilian Kolbe: deu sua vida para o próximo

Em 1941, o padre Maximiliano Kolbe e Rudolf Höss estão no campo de concentração de Auschwitz. Um, como prisioneiro, o outro como comandante. Durante uma ação, dez prisioneiros são condenados à morte pela fuga de um homem do bloco.

Entre eles está Franciszek Gajowniczek. Ele tem uma esposa e dois filhos e implora para vê-los pela última vez.

Padre Maximiliano, então, pede-lhe para tirar sua vida ao invés daquele pai. É enviado então, para o bunker da fome. Depois de duas semanas, todos estão mortos, mas o padre e outros três prisioneiros ainda estão vivos. Decidem então, aplicar-lhe uma injeção de fenol. No momento de sua morte, Maximiliano tinha 47 anos. Franciszek Gajowniczek foi salvo e depois da Guerra retornou para sua família.

Rudolf Hoss: o assassino de milhões

Rudolf Hoss no dia de sua execução.

Rudolf Höss está contemplando os cadáveres por gaseificação; a fumaça é constante dia e noite. No final da Guerra, os alemães saíram como perdedores, e agora, sua maior preocupação é escapar antes que seja preso e julgado. Somente em 1946, os britânicos o encontraram.

Quando estava diante do Tribunal Militar Internacional em sua defesa, explica que só cumpriu ordens a todo momento.

Foi condenado por crimes contra a humanidade indo para a prisão de Varsóvia. Os guardas que o assistiam, exibiam os números do campo de concentração tatuados em suas mãos.

Recentemente foi divulgado um compilado de cartas escritas por ele, onde descreve sua surpresa com a atitude dos carcereiros, pois estes tinham todo o direito de humilhá-lo e odiá-lo, todavia, não mostraram isso em momento algum.

Nas cartas, pedia para que não divulgassem seu lado gentil e frágil para as pessoas. “Deixe o público ainda me ver como uma fera sanguinária, um sádico cruel, um assassino de milhões. Caso contrário, o comandante de Auschwitz não pode ser imaginado”, escreve ele.

Em uma carta para sua esposa, ele pede para que esta crie seus filhos “no espírito de uma verdadeira e sincera humanidade”, pois foi o que aprendeu “apenas em prisões polonesas”.

Maximiliano Kolbe e Rudolf Höss: o mistério do homem

Pouco antes da execução da sentença de morte, que ele mesmo considerava merecida, Höss pede por confissão. Um padre jesuíta que ele havia poupado de uma execução, não recusa e vai ao seu encontro. Depois de receber a comunhão, foi enforcado ao lado da cerca do campo de concentração.

No momento de sua morte, tinha 47 anos. E assim, ele passa para a história da humanidade como um símbolo de ódio pelo homem.

Padre Maximiliano Maria Kolbe torna-se, por sua vez, um símbolo da mais alta dedicação ao homem. O Papa João Paulo II canoniza-o como um mártir, um modelo para milhares de pessoas.

Quarenta e sete anos de vida bastam para se tornar um símbolo do século XX, um símbolo do bem ou do mal. Entre todos os segredos do universo, o homem é o maior.

Aleteia Polônia

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