Somos todos irmãos e irmãs
No dia em que a Igreja celebra Santa Escolástica, gostaríamos de falar um pouco sobre o chamado à Santidade para a família, aqui na Aliança de Misericórdia temos a graça de ser uma grande família e de ter também diversos missionários que são irmãos e vivem essa experiência de buscar a Santidade juntos, assim como Santa Escolástica e São Bento, irmãos e fundadores da ordem religiosa Beneditina e da vertente femilina Escolástica.
Veja também: Santa Escolástica e São Bento: A Santidade na família
Deixamos aqui o bonito relato da nossas irmãos Ana Clara e Ana Teresa irmãs gêmeas e Missionárias Celibatárias no movimento:
Queridos irmãos, fomos convocadas pelo Pe. Antonello a responder a um desafio: “Como irmãs gêmeas, vocês podem colocar para toda a Comunidade o que vocês sentem ser essencial dentro do vosso relacionamento como irmãs? Em quê ele se diferencia do seu jeito de olhar para outras pessoas? Porque a nível mais profundo, o ideal seria que tivéssemos ESSE TIPO de relação com os nossos da fraternidade, e com cada irmão, finalmente… No que o laço entre vocês pode iluminar para fazer disso uma provocação, e também uma realidade mais próxima a cada um de nós?”
QUE MISSÃO, HEIN?
O padre nos deixou as formações do Enzo Bianchi “Somos todos irmãos e irmãs?” e essa “bomba em forma de pergunta” para ruminarmos.
Depois de muita conversa, um puxão de orelhas do PAC, porque o processo estava lento, percebemos que todas as palavras, direcionamentos para esse ano de 2023 são também uma provocação, nos lembrando do estar juntos, da unidade e da comunhão. Após orações, risadas e reflexões, acreditamos que isso é o que mais nos toca:
1 – A Cultura do cuidado:
Uma professora da Ana Clara na Universidade fez a seguinte pergunta: “Qual foi o primeiro sinal de civilização? Qual o fato mais antigo que prova que nos tornamos civilizados, capazes de viver em sociedade?”. A resposta? Um esqueleto com o fêmur recuperado! Num tempo em que quebrar a perna significava morrer (não era possível se movimentar, caçar o alimento ou fugir), alguém cuidou dessa pessoa até que se recuperasse! Essa “cultura do cuidado”, não podemos perder, e esta é, talvez, a primeira coisa que sentimos importante – o cuidar uma da outra que sai de uma base instintiva, para pequenas escolhas do dia a dia! Simplesmente ‘sabemos’ como uma e a outra está, mas também nos esforçamos no contato! Por áudios, partilhas; no apoio em oração e conselhos, em cada aspecto da vida. Não moramos próximas, (como assim, irmãos do Conselho? rsrsrs) mas isso permite que cada encontro, por mais simples que seja, vire uma celebração!
No mundo de hoje existe uma negação da fraternidade/sororidade como vínculo, um bem, e que pede um empenho da nossa parte! Eu nunca me canso de dar o primeiro passo na comunicação: se algo me lembra a minha irmã, eu partilho com ela e carrego esse sentimento durante o dia. Se abraçarmos a fraternidade desta forma, nos tornamos profetas!
2 – A Acolhida Incondicional:
Quando ouvíamos o pedido do padre, um dos primeiros pensamentos sobre o assunto foi: “eu não tenho nenhum tipo de “pré-conceitos” ou julgamento sobre o que a minha irmã me diz… eu só acolho!”. Acolhida em cada aspecto: sua personalidade, jeito de falar e se expressar, a opinião sobre os assuntos ou ainda a intenção ao dizer alguma coisa. Sabemos que esse tipo de abertura com todos é bem utópico, mas já que uma das funções dessa carta é provocar:
Será que temos consciência da força do nosso julgamento quando os nossos irmãos de Comunidade se comunicam conosco? Eu já estou julgando as intenções, valores, o propósito, antes mesmo de ouvir e acolher o que ele tem para me dizer?
A revolução francesa se firmou no lema ‘Liberdade, Igualdade, Fraternidade’, sem perceber que o entendimento destas palavras vinha bem antes, como um conceito religioso! Eu preciso aprender a acolher o meu irmão, a minha irmã, na sua totalidade, buscando o sentido mais profundo, ou corro o risco de viver essa revolução que Deus me pede somente como um “lema”, sem o seu sentido primeiro, mais religioso, denso, profundo.
Eu, Ana Clara, posso dizer que nos momentos mais difíceis que passei nesses anos de Comunidade, vivendo algumas incompreensões e fadigas, pude sempre contar com o apoio e a compreensão da minha irmã; sem julgamentos, sem apontar o dedo, só escuta e acolhida. A liberdade de poder ser você mesmo, sem máscaras ou barreiras, é o grande dom da fraternidade!
Isso também se expressa na alegria da nossa partilha dos dons – isso fica mais claro entre os gêmeos, que em algum momento formaram mesmo “um só núcleo”, mas pode ser vivido por todos nós: o que é da minha irmã, o que faz parte da vida dela, isso também é meu! Os dons, o olhar sobre a vida, aquela experiência forte de Deus que a fez dar um passo, tudo isso é graça que eu vivo ‘em primeira mão’!
Assim foi crescendo o nosso amor pela Palavra, por exemplo! Ana Teresa começou e a Ana Clara abraçou como seu, logo no princípio, e começamos a trocar Scruptatios como presente de aniversário! A experiência que a Ana Clara tem como Artista da Misericórdia e o dom da música, incentiva e apoia a Ana Teresa todos os dias, agora que ela precisa se lançar um pouco mais nisso também… Assim, vamos acolhendo tudo, do negativo ao positivo – como algo que faz parte de nós!
3 – Os louvores do útero!
Assistindo a ordenação do Pe. Danilo, nos emocionamos pelo momento em que ele e o Pe. Leandro se abraçavam, os dois paramentados, vivendo a plenificação da vocação – a Ana Clara resumiu de forma poética o que sentíamos que era o caminho que Deus estava fazendo conosco: vamos nos edificar em uma promessa, a promessa de um abraço! “Quando nos abraçarmos, nós duas com as nossas tilmas, vamos reviver os louvores do útero!”. Momento de profundo louvor, por estar respondendo ao próprio chamado! E o Senhor fez esse caminho espiritual conosco, de quase 2 anos – alimentar o desejo por este louvor puro, único, diante da nossa história e deste chamado ‘desde o ventre materno’. Foram, sem dúvidas, os minutos mais intensos, com risos e choros, da Entrega Definitiva da Ana Clara em 2022.
Pudemos viver isso juntas – mas por essa provocação do Padre, brotou em nós o desejo de estender isso aos irmãos! Alargar essa experiência: porque a grande novidade que Jesus trouxe ao mundo foi justamente um sentido novo de Paternidade e de Fraternidade! Antes, a fraternidade existia com tantas fronteiras – de religião, gênero, racial ou de interesses – e Cristo fez isso cair por terra! Quando o véu do templo rasgou, podemos pensar que estas antigas barreiras se cortaram.
Fica esse convite para cada um de nós, pois esta experiência é possível a TODOS, porque viemos do mesmo útero, do mesmo lugar, das entranhas de misericórdia do Pai do Céu! Comece esse louvor mesmo que seja com apenas mais uma pessoa, um outro “gêmeo”, ou com um pequeno grupo, e depois ESTENDA essa experiência com os irmãos da Comunidade! Por esta perspectiva, cada encontro ou louvor fraterno tem o potencial para ser um momento de ‘reviver os louvores do útero’! Não é verdade que uma das maiores alegrias da vida missionária é encontrar uma pessoa “estranha” / desconhecida, que depois descobrimos que tem esse mesmo carisma, os mesmos desejos que nós carregamos? E essa alegria pode ser ainda maior: somos irmãos, queremos ser resposta de amor ao mesmo Pai! Precisamos desejar reviver mais isso, com os irmãos que Deus vai colocando em nosso caminho.
Por isso sentimos de lançar um último desafio: acolha uma pessoa como sua “gêmea” nesse tempo, da forma como ela aparecer: se a sentiu em oração, ou uma pessoa da fraternidade que você sente de cuidar… Exercite esse nível de acolhida que todos nós podemos fazer e tente criar uma relação diferenciada, mas que depois vai se estendendo, rumo a uma fraternidade mais universal! Esse movimento é o sair do nível natural para o sobrenatural, que Jesus nos pede como Comunidade!
4 – A fraternidade não se escolhe:
Não escolhemos quem vai morar conosco na fraternidade, quem vai fazer parte do nosso encontro ou dos retiros, assim como um irmão mais velho não consegue escolher quem será o seu irmão mais novo! O grande desafio da nossa sociedade hoje é justamente não perder essa FRATERNIDADE a que todos somos chamados. Mais uma coisa que chamou muito nossa atenção nas palavras do Enzo Bianchi é que, analisando-se a História, vivemos mergulhados na conclusão de Nietzsche que “Deus está morto” e não percebemos que o problema é ainda pior, pois se de alguma forma Deus está morto ou escondido em minha vida, o irmão também está! A conclusão de que “Deus está morto” é “o irmão também está morto”. Que a nossa opção, na contracorrente do mundo moderno, seja por Deus e pelo irmão!
Nós temos uma irmã mais velha e vivemos o desafio de sempre a incluir e que ela faça parte das nossas vidas, das nossas experiências em Comunidade, que ela não se sinta de fora. Durante muito tempo ela partilhou conosco essa ferida da “exclusão”, mas com os anos e as escolhas diárias (por exemplo, escolhemos de sempre nos falar às segundas-feiras, pois ela também tem seu dia de folga na segunda, assim temos uma folga missionária nós 3!), podemos dizer que o nosso relacionamento amadureceu e vivemos com mais profundidade o ser irmãs. Precisamos, então, de um ESFORÇO PELA CONVIVÊNCIA – não escolho quem será meu irmão, mas escolho por me abrir, conviver e lutar por ele!
Diante de tudo isso, sentimos também a Palavra de Fl 2,1-5:
“Se me é possível, pois, alguma consolação em Cristo, algum caridoso estímulo, alguma comunhão no Espírito, alguma ternura e compaixão, completai a minha alegria, permanecendo unidos. Tende um mesmo amor, uma só alma e os mesmos pensamentos. Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos. Cada qual tenha em vista não os seus próprios interesses, e sim os dos outros. Dedicai-vos mutuamente à estima que se deve em Cristo Jesus.”
Não é pelas nossas forças: o nosso Deus prepara um mover do Espírito enorme através desse nosso simples desejo. Peçamos juntos que a Palavra realize essa graça em nós!
Amamos vocês como IRMÃOS!!!!!
Ana Clara e Ana Teresa
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