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Primeiro grau do amor – Julho 2017

JULHO/2017

AMAR: O PRIMEIRO GRAU DO AMOR

O Amor é o cumprimento da Lei.” (Rm 13,10)

Na sua carta testamento, São Francisco de Assis conta do encontro que mudou a sua vida e o libertou da grande cegueira espiritual em que o mergulhavam os prazeres da carne, as riquezas da terra e a vaidade dos sonhos falsos da sua juventude.

Ele mesmo conta:

O Senhor deu para mim Francisco de começar a fazer penitência assim: quando estava nos meus pecados, me parecia amargo demais ver os leprosos e o Senhor mesmo me conduziu entre eles e usei com eles de Misericórdia. A quando me afastei deles o que me parecia amargo foi mudado em doçura da alma e do corpo. Depois disto permaneci um pouco e enfim sai do mundo” (Testamento, §1).

De fato, aconteceu que um dia, quando Francisco andava a cavalo, encontrou um leproso e, ao invés de afastar-se dele, como sempre fazia pelo horror da aparência desfigurada daqueles homens ou pelo medo do contágio, ele desceu do cavalo e, movido por uma misteriosa moção interior, abraçou e beijou aquele leproso.

Subindo novamente no cavalo, viu que não havia mais ninguém por perto. Naquele leproso tinha encontrado o próprio Cristo que, por aquele gesto de Misericórdia, tinha mudado o seu coração.

Aquilo que era amargo tornou-se doce e aquilo que antes parecia doce (como os prazeres e as riquezas que o mundo oferece) tornou-se amargo. Só no Amor a nossa vida encontra seu verdadeiro sentido.

A Palavra nos diz que quem ama passa da morte à vida (cf. 1Jo 3,14). Basta um gesto de amor, um encontro verdadeiro para “renascer” no Espírito, pois “Deus é Amor!”. “Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é Amor” (1Jo 4,8).

Eis porque é o irmão o caminho que nos leva a Deus e que nos revela a nós mesmos! É pelo encontro com o irmão que podemos desabrochar em todos os nossos dons e descobrir a nossa missão no mundo!

Foi assim também para São Giuseppe Cottolengo. Viveu até os 44 anos uma vida sossegada e acomodada, como um “Reverendo Cônego” que pouco se incomodava com o sofrimento dos outros… até que, uma vez, foi chamado de urgência.

Encontrou uma pobre mãe que morria no parto, na rua, perante a impotência e o desespero dos familiares. Chocado perante tanto sofrimento, encontrou um novo sentido na sua vida e fundou a Obra do “Cottolengo”.

Uma maravilhosa expressão de Misericórdia para socorrer pobres e doentes e que consumiu os últimos anos de sua vida permitindo-lhe de cumprir sua missão. Realmente:

O Amor é o cumprimento da Lei.” (Rm 13,10)

 Na luz da Palavra de Deus, estas experiências se iluminam de um sentido particular, que pode revolucionar a nossa vida!

A Palavra de Deus é, de fato, uma maravilhosa escola de vida na qual aprendemos a descobrir o segredo que dá sentido à toda nossa existência: o Amor aos irmãos!

No fim da vida seremos julgados sobre o Amor, um amor concreto que se expressa principalmente naquelas obras de Misericórdia de que nos fala o trecho do julgamento final relatado por São Mateus no cap. 25 do seu evangelho: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir quem está nu, visitar presos, assistir aos enfermos, acolher os peregrinos… (cf. Mt 25,31ss).

Eis porque, como diz S. Paulo, “o Amor é o cumprimento da Lei” (Rm 13,10). São João nos diz, por isso, que se alguém, possuindo os bens deste mundo, vê o seu irmão na necessidade e lhe fecha o coração, não poderá permanecer nele o Amor de Deus (cf. 1Jo 3,17).

Neste caminho do Amor existem, se assim podemos dizer, vários graus: o primeiro grau do Amor é Amar! É decidir-se pelo Amor independentemente de tudo e de todos, de forma desinteressada e gratuita: Amar por Amor! Amar como Jesus Amou: Renunciando a todo direito!

Ele renunciou ao seu direito de ser tratado como Deus, mas despojou-se, tomando a forma de escravo, tornando-se semelhante aos homens, abaixou-se tornando-se obediente até a morte, a morte sobre a Cruz” (Fl 2,6-8).

Este passo é o segredo da verdadeira felicidade: “renuncia aos direitos” de quem se determina para amar.

Se você quer ser sempre feliz” – disse uma vez Maria Paola[1] para os nossos missionários – “não espere nunca nada de ninguém. Ama por amor, sem exigir direitos, sem esperar a gratidão de ninguém. Se chegar qualquer resposta, esta será apenas uma surpresa de Deus. Acolhe todo gesto de amor com gratuidade e gratidão, nunca como exigência”.

Esta é a “loucura do evangelho” de que fala São Paulo em 1Cor 1,18: amar renunciando a todo direito de ser amado. Precisamos entender que toda a vida cristã se resume apenas em duas palavras: ORAR e AMAR!

Orando acolho o Amor do Pai, derramado no meu coração (cf. Rm 5,5) e amando permito que este amor transborde e flua para o mundo como Misericórdia, que se doa sempre para todos, os bons e os maus, pois é assim que o Pai ama (cf. Mt 5,45).

Vivendo assim, as incompreensões, os desentendimentos, as dificuldades de relacionamento nunca limitarão o amor. Pelo contrário, tornarão o Amor mais puro, mais divino, misericordioso!

Sempre digo que não podemos entregar o controle remoto da nossa vida, da nossa alegria, nas mãos dos outros! A minha escolha de amar, a minha realização, não podem depender daquilo que os outros falam ou pensam de mim, daquilo que fazem ou deixam de fazer para mim.

O controle remoto da minha vida tem que estar nas minhas mãos, na minha decisão de permanecer no Amor, porque “Deus é Amor e quem permanece no Amor, permanece em Deus e Deus permanece nEle” (1 Jo 4,16).

O Amor é o cumprimento da Lei.” (Rm 13,10)

É maravilhoso viver assim, renunciando a todo “direito” e tendo apenas uma “dívida”, como diz S. Paulo: “Não tenhais outra dívida a não ser o amor mútuo” (Rm 13,8-10).

Quem vive assim irradia o Paraíso ao seu redor. Simplesmente ama. Ama e basta, pois o amor basta a si mesmo! Amando assim se cresce a cada dia, de grau em grau, no caminho do amor que nos diviniza.

Lembro-me de minha avó que, apesar de tantos sofrimentos, era sempre sorridente, acolhedora, amorosa… era um “paraíso” estar perto dela. O dia dela era para todos, sem reservas e sem distinções de pessoas.

A noite era para Deus, se retirava, na cozinha, até altas horas em oração, na intimidade com Deus. Sem dúvida você também conhece alguém que, amando, transforma esta terra num pedacinho de céu.

Penso em vários irmãos e irmãs que são inesgotáveis no amor e que sempre me edificam. Nunca os vejo chateados com alguém, nunca se lamentam ou exigem algo para si.

Uma delas me confiava um segredo do seu coração: amar e orar! E cada dia oferecer todo sacrifício e oração por um alguma pessoa. É uma pessoa “plena”, transbordante de vida, pois “o amor é o cumprimento da lei”.

Irradiamos nós também o Paraíso ao nosso redor, vivendo intensamente este primeiro grau do amor: amar por amor!

Pe. João Henrique

[1] Maria Paola Olla (11.12.68 + 08.06.09) começou a Aliança de Misericórdia juntamente com o Pe. João Henrique e o Pe. Antonello Cadeddu, e voltou à casa do Pai com 40 anos, após uma enfermidade que a levou a um caminho de autêntica santidade.

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