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Amar o próximo como a mim mesmo – Agosto 2017

AGOSTO/2017

AMAR O PRÓXIMO COMO A MIM MESMO: O SEGUNDO GRAU DO AMOR

Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (Mc 12,31)

Amar o próximo

O segundo grau do Amor consiste em amar o próximo como a mim mesmo! Trata-se, como relata o evangelista Marcos no capítulo 12 de seu evangelho, do “segundo” mandamento da lei (cf. Mc 12,31).

Neste trecho conta-se de um escriba que pergunta para Jesus qual seria o primeiro mandamento da lei e o Senhor sintetiza a lei de Moisés no amor para com Deus e com o próximo.

Nesta altura o escriba disse: “Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que há um só Deus, e que não há outro além dele; E que amá-lo de todo o coração, e de todo o entendimento, e de toda a alma, e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, é mais do que todos os holocaustos e sacrifícios” (Mc 12,32-33).

Jesus então, olhando para o escriba, disse-lhe que não estava longe do Reino de Deus. De fato, o escriba entendeu bem os mandamentos, e o sentido das leis dos judeus daquele tempo.

Ele foi além do legalismo que oprimia o povo e mostrou o critério inspirador e unificador da lei mosaica. De fato, os mandamentos eram 613: 365 negativos (um para cada dia do ano) e 248 positivos, quantos eram os ossos do corpo humano, porque a palavra deve ordenar cada dia e “dar forma” ao homem.

Antes de aprofundarmo-nos neste trecho para podermos vive-lo, é preciso compreender que o amor ao irmão pode ser entendido somente se unido, ligado, ao primeiro mandamento que nos diz para amar a Deus “com todo o coração, com toda a alma, a mente e as forças”. Deus é e deve se tornar o centro, meta, fim de tudo o que faço.

A nossa vida consiste em amar exclusivamente a Deus e em unirmo-nos a Ele (cf. Dt 30,20). O amor a Ele é o nosso caminho de “divinização”, porque amando-O nos tornamos filhos Dele. Uma pessoa torna-se o que ama.

Se eu amo um cachorro acima de tudo, “divinizo” o cachorro, se amo o dinheiro acima de tudo, faço dele o meu “deus”. Eu sou o que amo!

Se eu coloco em Deus o único “foco” da minha vida, me torno filho de Deus e olhando, “vivendo Ele” faço, penso, amo como Ele ama cada pessoa humana. Torno-me semelhante a Ele pelo Amor que “unifica”!

Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (Mc 12,31)

“O segundo mandamento” – diz a Palavra – “é similar ao primeiro”. Seguindo então a lógica do segundo mandamento, que nasce sempre do primeiro, posso compreender que, para ser amor e amar, não posso fazer do outro um “deus”, colocando-o acima de Deus, ou amando-o de uma forma que seja contrária ao respeito de mim mesmo ou que prejudique o meu crescimento, “prostituindo-me” ao outro.

Eis aqui o primeiro ponto fundamental: eu não posso amar o outro mais do que a mim mesmo ou “contra” mim mesmo! Significa que nunca vou amar realmente o outro se eu não me amo como Jesus me ama.

Em outras palavras, quando verdadeiramente amo o próximo de forma sadia, eu contemporaneamente amo a Deus acima de todas as coisas e amo a mim mesmo, encontrando no Amor a minha plena realização.

Se, pelo contrário, amasse o outro como “único” ou “primeiro”, eu encontraria, antes ou depois, todos os seus limites e pecados então ou ficaria desiludido ou entraria numa dimensão de ódio contra o outro.

Quantas pessoas, sobretudo aquelas que não acreditam em Deus, gastam suas vidas num amor puramente filantrópico para com o outro e no fim ficam desmotivados ou com raiva da vida.

Este tipo de amor exclusivo é errado e leva, às vezes, até aos extremos filosóficos do comunismo, do narcisismo, ou dos filantropismos movidos só por interesses materiais e egoísticos, ou por qualquer tipo de “ditadura cultural”, ao serviço do poder.

Não é esta a natureza da pessoa humana, filha de Deus! Este tipo de amor faz da pessoa humana um “escravo”, não uma pessoa livre e libertadora com a qual possa experimentar o Amor de Deus que me “diviniza”. Eu nunca posso escravizar o outro com um falso ou errado amor. Nem posso me escravizar ou me prostituir ao outro.

O outro deve ser “amado como a mim mesmo”, como uma pessoa que se realiza amando a Deus e sendo amada por Deus.

Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (Mc 12,31)

Jesus nos revela o segredo do verdadeiro amor: para amar o outro devo anteriormente me amar como Deus me ama e devo amar a Deus com todo o meu ser!  Eu amo os outros enquanto amo e me sinto amado inteiramente por Deus Pai-Mãe.

Eu me amo?

Quantas vezes a pessoa não quer amar o outro porque não se ama. No fundo não amando a si mesma, ela está dizendo que não se sente amada por Deus e entra num vórtice de morte e autodestruição.

Lembro-me de uma mulher que vivia fechada na sua casa. Nada a satisfazia. Gritava contra um “deus”, um deus falso que ela mesma tinha criado. Não era o verdadeiro Deus, Jesus que morreu por ela. Por isso, vivia com raiva de tudo e de Deus, dos outros, dela mesma, se autoflagelando, deitada noite e dia na cama.

Morria no seu eu egoísta. Continuava dizendo com raiva: porque você Deus não me ajuda? Esqueceu-se de mim? Tudo era contra ela, vítima de si mesma, e ninguém a suportava. Tivemos um diálogo muito comprido e duro, mas esclarecedor, em que ela compreendeu que era amada por Deus e não pelo “deus” que ela tinha construído para si.

Sentindo-se amada e começando a amar de modo verdadeiro, se levantou da cama e conosco saiu nas ruas para visitar e amar os pobres e crianças que dormem na calçada. Pronto!

A sua vida mudou, tudo se tornou luz. Compreendeu que amar a si mesma significava amar a Deus com o coração, vida, mente, força e com o mesmo coração, vida, mente e força amar o próximo como a si mesma.

Devemos entender que olhar as feridas, traumas, tristezas, fechando-se nelas, não é viver o verdadeiro amor, mas uma falsidade e egoísmo e desta forma, eu me mato, mato a Deus e aos outros.

As feridas se curam somente se compreendo que Deus me ama além dos meus traumas e pecados. Eis que então eu me amo porque sinto-me precioso para Deus e amo o outro como a mim mesmo porque sei que o outro é amado por Deus, como Deus me ama. Daqui, duas consequências práticas, uma negativa e uma positiva.

  1. Não faça aos outros o que não quer que os outros lhe façam”. Esta expressão, presente já no Antigo Testamento (Tb 4,15; Lv 19,18), era conhecida desde a antiguidade por diferentes povos e religiões.É um princípio universal de sabedoria, respeito e amor, que nos ajuda em tantas atitudes práticas, construtivas que edificam a nós e aos outros.Não queria encontrar o banheiro sujo? Então vou deixá-lo limpo após o uso! Não queria que alguém me perturbasse com barulhos desnecessários? Então vou prestar atenção para não incomodar os outros…
  2. Tudo aquilo que quereis que os outros vos façam, fazei-o vós a eles, pois esta é a lei e os profetas” (Mt 7,12). Esta postura positiva, criativa, da iniciativa do amor é a Regra Áurea (de ouro) que Jesus indica como novidade do evangelho e síntese da lei.Eis então como viver concretamente esta Palavra, vivendo a vida como uma “academia” do amor, na criatividade do Espírito Santo, numa inesgotável e incansável escolha de inventar modos sempre novos de dizer para o outro “eu te amo”.Não é suficiente amar. É necessário que o outro se sinta amado e assim fazendo me realizarei de verdade como pessoa, pois “amar o próximo como a si mesmo” é a norma mais eficaz do próprio bem-estar e crescimento pessoal.

Pe. Antonello Cadeddu
Fundador da Aliança de Misericórdia

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