Celibatária celebra o dia dos namorados? Testemunho de quem vive

O Dia dos Namorados é uma data importante para os casais, mas como é a data para aqueles que vivem a vocação ao celibato? Como vivem o Dia dos Namorados aquelas que são as Esposas de Cristo?  A Missionária Celibatária Talita Teresa conta como é a experiência de fazer aniversário no dia dos Namorados.

“Por Ele, perdi tudo e tudo tenho como esterco,
para ganhar a Cristo e ser achado nele”
(Fl 3, 8).

Veja também: Porque as celibatárias da Aliança usam o cruz da unidade

Essa é a Palavra que conduz todo o meu caminho até aqui, pois ao longo dos anos de vida consagrada ao celibato, sinto que Deus me convida a “perder” tudo para possuir somente a Ele, porém, esse perder tudo significa estar aberta para as “cruzes” que preciso carregar a cada dia.

Desde criança eu vivia em meio a muitas discussões e brigas familiares, que me levaram a ser uma criança muito triste e reservada, e assim, nesse meio eu fui crescendo com um vazio muito grande no coração, que só consegui compreender anos mais tarde com a experiência de Deus.

Sou filha mais velha de três irmãs, sendo cada uma filha de um pai diferente, pois minha mãe nunca conseguiu se firmar em um bom relacionamento, e tenho um irmão que não conheci, já que minha mãe o deu no seu nascimento.

Quando criança, minha mãe chegou a perder a minha guarda na justiça para minha avó devido a maus tratos, mas com o tempo, voltamos a morar juntas e seguir a vida em meio a muito sofrimento.

O diálogo nunca foi tão natural dentro da minha família, o que fazia com que eu guardasse muitas coisas dentro do coração e que anos depois na minha adolescência resultou em um tempo de festas e bebidas com amigos, pois dessa maneira eu conseguia me sentir “parte” de algo.

Mas o vazio sempre continuou após as saídas e principalmente com a solidão que eu sentia, mesmo estando em casa, pois minha mãe vivia em uma vida totalmente desregrada de muita bebida e saída com diversos homens fora de um relacionamento estável.

Sinto que Jesus me preservou de muitas coisas desde muito nova e nisso tenho certeza de que estava preparando algo muito maior em relação à minha vocação. Sempre quis ser aceita pelas pessoas e a maneira que encontrava era com as festinhas (baladas) e nisso, por muitas vezes, não queria nem voltar para casa porque sabia que lá não encontraria um conforto familiar. Minha mãe era muito dura conosco e não sabia demonstrar nenhum tipo de afeto, o que fez com que eu agisse muitas vezes da mesma maneira.

No mesmo tempo que eu comecei a fazer minha primeira experiência com Deus, descobri que minha mãe estava com câncer no colo do útero e foi um tempo muito difícil, onde com 16 anos tive que assumir uma postura de “mãe” da minha mãe e das minhas irmãs.

Cuidei dela o tempo todo e, mesmo tendo que renunciar o desejo de entrar na Comunidade (onde eu já havia feito uma experiência de chamado), entendia que precisava estar ali com ela até o fim.

Quando minha mãe veio a falecer, senti que tinha cumprido minha missão com ela, ficando até o fim ao seu lado e amando-a, mesmo sem me sentir amada muitas vezes.

Quando senti que Deus me chamava ao celibato, relutei um pouco com pensamentos de que eu poderia ter optado por essa vocação por não ter tido um exemplo de família, mas todas as vezes, de maneiras diferentes, Deus vinha me confirmar que me queria inteira só para Ele, e isso sempre trouxe paz ao meu coração.

Perder pessoas, coisas, estruturas, ideias não é nada fácil, porque nos traz um certo sofrimento. Mas o que sempre me trazia esperança era saber que Deus estava no controle de tudo e que Ele preparou o momento certo para que eu pudesse passar por cada etapa.

Meu coração é totalmente de Jesus e sei que Ele me seduziu pela dor, para me levar ao pleno cumprimento do amor por mim. Hoje tenho a alegria de dizer que sou esposa de Jesus e que troquei tudo por um amor que não é passageiro, mas que permanece dentro até à morte, ou melhor, até à eternidade.

Tudo foi entregue a Jesus e por Ele quero continuar “perdendo” para estar ainda mais unida a Ele!

Como um grande presente de Deus também para mim, eu nasci no dia 12 de junho que é o dia dos namorados, então, depois que fiz minha experiência com Deus e fiz meus vínculos como celibatária, para mim sempre foi uma data muito especial.

Para as pessoas lá fora eles comemoram como um casal, marido e mulher, dão presente… essas coisas… e eu sempre gostei de comemorar de uma maneira diferente.

Sempre, no meu aniversário, eu gosto de ir meia noite na capela para poder rezar e estar junto com o meu Esposo e essa é a maneira que eu encontro de poder comemorar esse dia, de poder estar a sós com Jesus.

Lembro de uma experiência do ano passado: uma das irmãs sabia que eu gostava de rezar no dia do meu aniversário essas horas, sabia que eu gostava de coisas românticas com Jesus, então, elas arrumaram a capela para mim, decoraram com velas, cartões e foi uma experiência muito bonita, um gesto de amor muito bonito para comigo.

Então, para mim, como celibatária, é uma data muito especial, comemorar o Dia dos Namorados sendo meu aniversário, sendo uma celibatária, principalmente.

É o dia de comemorar a vida, mas também é o dia da intimidade, é o dia que meu coração se volta totalmente para Jesus e é o dia que eu tenho mais certeza que eu não sou sozinha. Às vezes, muitos pensam que a vida de celibatária é uma vida solitária, que por um lado é, pois, faz parte da vocação, mas para mim, a vida celibatária, o dia dos namorados comemorar essa data junto com meu Esposo, vale muito mais do que estar a dois como outras pessoas.

 

“Roubaste o meu coração, minha irmã, minha noiva, roubaste meu coração com um só dos teus olhares…” (Ct 4,9).

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