O Anúncio e o Deus Desconhecido | Anunciadores da Misericórdia
“E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos; porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: Ao Deus Desconhecido. Esse, pois, que vós honrais não o conhecendo é o que eu vos anuncio.” (At 17,22s)
Dar a conhecer a Deus
Paulo, conhecido como o Apóstolo dos gentios, dos pagãos, foi um escolhido de Jesus para anunciar o Evangelho em lugares inesperados, alcançar corações de diversas culturas e falar do “Deus desconhecido” de maneiras inusitadas.
Nessa situação específica, narrada acima no livro dos Atos dos Apóstolos, Paulo estava em Atenas, cidade tomada pela idolatria. Existiam muitos deuses adorados ali. Um deles tinha a descrição “Deus Desconhecido”. Atento homem que era, usou daquela inscrição para falar de Deus e apresentar a sua fé em Jesus.
Podemos pensar: “Mas naquele tempo era comum as pessoas não terem ouvido falar de Jesus! Hoje não, hoje todo mundo já sabe quem é Ele”. Será mesmo?
Anúncio na prática
Certa vez, no Rio de Janeiro, na Central do Brasil, à espera de um ônibus, uma jovem com aproximadamente seus 25 anos foi abordada por um dos nossos missionários em meio à evangelização.
O missionário pediu minutos de sua atenção, que foram dados com aparente curiosidade, e começou a falar de Jesus. Incrivelmente, aquela garota, natural da cidade maravilhosa do Cristo Redentor, nunca tinha ouvido falar de Jesus!
Ela ouviu falar de Seu nome e de Sua fama, mas como mais uma pessoa boa que passou por aqui. Ficou emocionada ao perceber que alguém teria dado a vida por ela, por nós, e que ela nunca tinha parado para agradecer a Ele. Sim! Jesus lhe era desconhecido!
Vanessa Paula, missionária Celibatária da Aliança de Misericórdia
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Areópagos atuais
E os areópagos são tantos! Basta entrar em nossas escolas, universidades, em tantas praças e becos, ou mesmo navegar nas telas de nossos smartphones.
Há um certo desatino cultural e entorpecimento da fé, que tornam o anúncio do Reino inapropriado – em alguns casos até proibido – para que, talvez por ignorância, as pessoas vivam sem acreditar no que não se vê.
Ao entrar em lugares assim, onde se cultuam vários deuses e onde falar da nossa fé parece causar repulsa e hostilidade, podem vir em nossa alma sentimentos de medo, inquietude, sensação de fracasso e de desânimo… Mas há dentro de nós uma sede por essas almas que, por não terem acesso à experiência pessoal com Cristo, repelem-n’O.
Parece que foram treinados pra menosprezar a fé (e talvez o foram!), como se a presença de um cristão e suas palavras pudessem bloquear sua liberdade ou modo de viver. Será mesmo possível encontrar acesso a elas?
Anunciar sem desanimar
Quando penso nisso, pareço escutar as palavras do mesmo Paulo ressoar em nossos corações: “Mas Deus não nos deu um espírito de medo, mas de força, de amor e de sobriedade” (2Tm 1,7).
Gostaria primeiro de falar do amor. Há no coração de Paulo mais amor por Cristo e pelas almas, do que algum zelo por si mesmo. Ele sabia que, como tantas vezes aconteceu, ele seria desprezado em sua fala e até mesmo sofreria na carne as ofensas dos povos, mas não parou por aí!
O amor é capaz disso! Só o amor! Se pegarmos um pouco antes essa narrativa do Areópago, veremos que o que havia no coração de Paulo era compaixão por aquele povo, que se entregava a tantos deuses (cf. At 17,16). Ele via, por causa do amor e compaixão, aquelas almas entregues ao paganismo, sem terem acesso à verdade.
Aí então entra a força! O amor traz em si a força para a missão e para as mazelas que ela custa! Evangelizar uma alma que está tomada por tantas outras distrações não é tarefa fácil! Faz-se necessário muita força para carregá-la!
Dar tudo de si
Quantas vezes nossos padres e missionários, ao voltarem de algumas missões, usam a expressão: “Parece que passou um trator em cima de mim”, ou até mesmo “a dor física e o cansaço que estou é semelhante a de uma semana toda trabalhando na obra em sol quente!”.
E isso não é só depois de encontros de fins de semana, de dias em missão porta-a-porta ou mesmo em evangelização pelas ruas do centro da cidade. Muitas vezes uma alma sendo atendida em diálogo e oração já nos custa essa fadiga. Sim! As almas custam esforço! É como se a fadiga de Cristo na cruz se novasse ali, naquele nosso movimento de resgate.
E quanta vida é gerada! Há em cada missionário batizado essa força redentora, e as almas estão sedentas, em expectativa aguardando pela manifestação dos filhos de Deus (cf. Rm 8,19), mesmo sem saberem.
Objetividade na meta
Mas e a sobriedade? Onde entraria? Aqui está um espírito de sabedoria. Daqueles que ponderam a hora certa de falar e de calar, que aprendem atacar somente do lado e momento exato, que miram o alvo e não gastam energia ou fichas em ocasiões incertas.
Há um convite de Paulo para nós de sermos certeiros na missão. Paulo, inspirado pelo Espírito e não por seus gostos pessoais, mirava a alma afim de alcançá-la. Desperdiçar chances na missão poderia ser fatal. Sabe quando falamos algo que, apesar de não ser nosso desejo, acaba por afastar e fechar mais ainda a pessoa de nós?
Evangelizar nem sempre (e quase nunca!) é gritar “Jesus te ama” no ouvido de alguém que está passando na calçada, nem falar de forma desmedida só para cumprir o protocolo de estar evangelizando, ou mesmo postar e compartilhar card’s infinitos de “Deus abençoe seu dia”… SABEDORIA!
Abrir caminhos
Às vezes nos falta sabedoria, sobriedade, sensibilidade para evangelizar! Perceber o melhor momento, o ponto de encontro das falas, a brecha deixada pelo outro como acesso para entrada da Palavra. Paulo encontrou uma ponte naquela inscrição do ídolo, achou uma chave de acesso, e então colocou ali a verdade de fé que havia ido anunciar!
Em nossos “areópagos” e diante de tantos “cidadãos atenienses”, faz-se necessário retomarmos o amor profundo por Cristo sedento pelas almas, a força de testemunhar a nossa fé e de ir ao encontro das ovelhas perdidas e gastar-nos por elas, e a sabedoria do alto, para encontrarmos o melhor meio para chegar aos corações e ali anunciar, com ternura e ousadia, o Evangelho de que tantos estão à espera.
Alguns de nossos irmãos do Movimento, sentem esse chamado específico de pregar a Palavra, de anunciar pelos quatro cantos a Boa Nova, sendo Anunciadores da Misericórdia de Deus. Esses, incansavelmente, espalham a fé pelos meios de comunicação, pregações, abordagem pessoal e tantos outros caminhos, fazendo conhecido e amado o nosso Deus.
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