Será que ela vai me reconhecer? Amor e Alzheimer!
Será que ele(a) vai me reconhecer, será que vamos rir das nossas histórias, será que ele(a) vai lembrar que foi (ele)a quem me deu a primeira bala escondido da mamãe? Esse é um texto sobre amor e alzheimer!
Essas e outras perguntas sempre circulam a cabeça de quem é filho, neto ou cuidador de um paciente portador de Alzheimer, doença que não é um simples esquecimento ou uma caduquice, e que hoje afeta pessoas do mundo inteiro.
O Alzheimer se apresenta como demência ou perda de funções cognitivas (memória, orientação, atenção e linguagem), causada pela morte de células cerebrais. Quando diagnosticada no início, é possível retardar o seu avanço e ter mais controle sobre os sintomas, garantindo melhor qualidade de vida ao paciente e à família.
Segundo a ABRAz – Associação Brasileira de Alzheimer, estima-se que existam no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a Doença de Alzheimer. No Brasil, há cerca de 1,2 milhão de casos, a maior parte deles ainda sem diagnóstico.
Como identificar a doença?
É muito comum que os sintomas iniciais da Doença de Alzheimer (DA) sejam confundidos com o processo de envelhecimento normal. Essa confusão tende a adiar a busca por orientação profissional e, não tão raro, a doença é diagnosticada tardiamente. Recomenda-se que, diante dos primeiros sinais de esquecimento, confusões, as famílias procurem profissionais e/ou serviços de saúde especializados para diagnóstico precoce no estágio inicial da doença, o que favorecerá a evolução e o prognóstico do quadro.
Sou cuidadora, e já não tenho mais forças!
Diante de uma doença sem cura e que só evoluiu, nos sentimos impotentes e sem esperança. Sem contar que o cuidador fica quase 100% do seu período envolvido com as tarefas do cuidado. Mas como tornar as coisas mais leves?
Em 2014, embarquei nessa aventura de cuidar da minha avó que há 15 anos foi diagnosticada com a doença. No princípio eu ficava extremamente irritada com as perguntas do tipo: vamos embora? Cadê minha mãe? Você não quer cuidar de mim?
Depois de um tempo, fui entendendo que precisava entrar naquele jogo e fantasiar junto dela. Às vezes, a proposta dela era de ir embora para a casa (ela já estava em casa) a cavalo, eu dizia: Vó, não sei selar um cavalo, ou Vó, o cavalo está sem ferradura. Ou dizer em uma troca de fralda, que a roupa íntima que ela estava usando era bem feia, e assim conseguir trocá-la.
A doença foi avançando, os cuidados também, o cansaço também. Mas não desistimos! Todo dia era uma foto nova na rede social se ela conseguisse dar alguns passinhos durante o dia ou se conseguisse levar a xicara de café na boca. Eram grandes vitórias em pequenos gestos cotidianos!
Amor e Alzheimer
E a cada dia eu a amava mais, pois sabia que era um amor gratuito. Ela não tinha mais nada a oferecer, mas mesmo assim, o meu desejo de fazer tudo o que ela precisava era muito grande.
Houveram os momentos mais difíceis, teve risadas, minha casa se tornou ainda mais unida e sentia que todo aquele sofrimento era de fato uma grande alegria.
Hoje ela se encontra com 91 anos, ainda mais debilitada, não se alimenta sozinha, não fala, não reconhece ninguém. Mas ainda assim, ela nos ensina todos os dias a dizer:
“Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus” (1 Ts 5, 18) e dessa forma vamos crescendo junto dela, rumo ao céu!
Nayane Ramos, colaboradora da Aliança
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