Ser pobre entre os pobres – Servos da Misercórdia
Assistência x caridade
Certa vez, uma pessoa me perguntou: “Por que vocês dormem na rua com os pobres? É preciso tudo isso? Não seria mais fácil estar com eles um tempo e voltar para casa?”
Eu respondi: “Seria mais fácil, mas não seria suficiente para conquistar a confiança deles”. Acredito que esta atitude caracteriza toda a evangelização dos servos. Para nós não é o objetivo sermos vistos por estes irmãos como superiores ou simples benfeitores.
É preciso experimentar em nossa carne o que eles vivem, as humilhações, o chão duro, as noites frias e mal dormidas, “com um olho aberto e o outro fechado”, como costumam falar eles. Quantas vezes presenciei pessoas que chegavam para doar comida aos irmãos de rua como se estivessem tratando com uma doença contagiosa, com luvas, máscaras e distanciamento.
Ali não havia toque, conversa, aproximação, escuta; somente alimentavam o estômago, mas não era isso que eles precisavam. Faltava o essencial: fazer-se “um” com eles, sentar ao lado, escutar, dar um sorriso, um abraço. Isso vale também para todas as evangelizações com os pobres: favelas, prisões, asilos, cortiços, etc.
A verdadeira recompensa
Por qual motivo seguir então? Porque ali está Deus, porque ainda que somente uma pessoa se converta, todo o sacrifício valeu a pena, porque “há mais alegria no céu por um pecador que se converta que por noventa e nove justos que não tem necessidade de conversão” (Lc 15, 7).
É lindo poder ver o processo de conversão de uma pessoa que vivia em um estado de miséria. Sem dúvida, é uma nova vida que é gerada. Mas é claro, evangelizar os pobres implica comprometer-se, é preciso ir até o fim com cada um. É preciso estar ao lado, caminhar junto, ser suporte em meio às dificuldades.
Os pobres precisam ver em nós irmãos e amigos. Nós precisamos ver neles não o que são naquele momento, mas o que podem chegar a ser. Este era o olhar de Jesus. Enquanto todos viam uma prostituta adúltera, condenada a morte, Ele via uma santa, digna de ser a primeira a ver o Ressucitado. Enquanto todos viam um pobre pescador ignorante, Ele via aquele que seria o chefe da sua Igreja.
Ver além das aparências
Isso nos faz pensar: como estamos olhando as pessoas que evangelizamos? Será que vemos somente suas misérias, pecados, ou transformamos nosso olhar e damos a oportunidade de que sejam diferentes.
Na evangelização com os pobres precisamos estar no meio deles para tirar deles o que eles tem de melhor. Isso é descer até eles para os elevar até Deus.
O meio para conseguir é o mesmo dos santos: oração e caridade. Sem a graça de Deus os pobres serão pesados, cansativos e ingratos. Com a graça de Deus eles se tornam imagem do mesmo Deus, pois “todas as vezes que fizestes isso a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes” (Mt 25, 40).
O cansaço, as incompreensões vêm, mas tudo se torna mais leve, pois não somos nós, mas Ele que age através de nós. Assim, “o que era amargo se torna doce”, como também dizia São Francisco. Se não formos pobres entre eles, não os poderemos salvar, eis a exigência para evangelizar.
Todos nós podemos fazer esta experiência. Deus quer usar de nós. Que Ele nos auxilie com sua graça e sempre nos encontre dispostos a ir até eles.
Francisco Luís
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