São Boaventura fala da pobreza de Deus
No reinado de César Augusto, quando o silencioso repouso de uma paz universal serenava tempos até então perturbados, permitindo a este príncipe ordenar o recenseamento de todo universo, aconteceu, pelos cuidados da Divina Providência, que José, esposo da Virgem, conduziu sua jovem esposa de cepa real, que estava prestes a ser mãe, à cidade de Belém.
E eis que, nove meses após a sua conceção, o Rei Pacífico, trazido à luz sem qualquer alteração de sua mãe, tal como tinha sido concebido sem que nenhuma parte fosse entregue à volúpia, saiu do seio virginal “como um esposo do seu leito” (Sl 19,6).
Embora fosse Poderoso e Rico, escolheu, por amor a nós, tornar-se pequeno e pobre (cf I Cor 8, 9), nascer fora de sua casa, num estábulo, ser envolto em pobres paninhos, alimentado do leite virginal e deitado num presépio, entre um boi e um burro.
Foi então que nasceu para nós o dia da nova redenção, da reparação dos dias antigos e da felicidade eterna; foi então que em todo o mundo os Céus se tornaram doces como o mel. Abraça agora, ó minha alma, este presépio divino, aplicando os teus lábios aos pés do Menino e redobrando os teus beijos.
Depois, revê no teu espírito a vela dos pastores, admira o exército dos anjos que acorre, participa nas melodias celestes e canta com a boca e o coração: «Glória a Deus no mais alto dos Céus e paz na Terra aos homens de boa vontade.»
São Boaventura (1221-1274), franciscano, doutor da Igreja
«A Árvore da Vida», cap. I, § 4
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