Sábado Santo: A Igreja em todo canto está em vigília

“Tendes à vossa disposição a guarda; ide e guardai-O como entenderdes” (Mt 27,65)

O início da Vigília Pascal

O túmulo de Jesus é fechado e sigilado. Para guardá-lo, foram colocados alguns soldados, como fora pedido pelos sumos sacerdotes e fariseus, a fim de que ninguém pudesse furtar o corpo (cf. Mt 27, 62-64). Este é o acontecimento que dá início a liturgia da Vigília Pascal.

Vigiavam junto ao túmulo os que tinham querido a morte de Cristo, considerando-O um “impostor” (Mt 27,62). Seu desejo era que Ele e sua mensagem fossem sepultados para sempre.

Não longe dali, vigiava Maria e, junto a ela, os Apóstolos e algumas mulheres. Conservavam estampada no coração a imagem desconcertante dos recentes acontecimentos.

Vigia esta noite a Igreja em cada canto da terra, e revive as etapas fundamentais da história da salvação. A solene liturgia que estamos a realizar é a expressão deste “vigilar” que, de certo modo, leva àquele mesmo Deus citado no Livro do Êxodo:

“Essa noite, durante a qual o Senhor velara para os fazer sair do Egito, será de vigia […], de geração em geração, em honra do Senhor” (12,42).

Com o seu amor providente a fiel, que ultrapassa o tempo e o espaço, Deus vigia o mundo. Assim canta o Salmista: “Não dorme, nem cochila / quem guarda Israel. / O Senhor é o teu guarda […] O Senhor te guarda de todo o mal […] agora e para sempre” (Sal 120,4-5.8).

Deus vigia a história

A passagem do segundo para o terceiro milênio que estamos vivendo é também custodiada no mistério do Pai. Ele “age continuamente” (Jo 5,17) para a salvação do mundo e, mediante o Filho feito homem, guia o seu povo da escravidão à liberdade, da morte à vida.

Toda a “obra” do Grande Jubileu do Ano Dois Mil está, por assim dizer, inscrita nesta noite de vigília, que leva à conclusão a Noite de Natal do Senhor. Belém e o Calvário evocam o mesmo mistério de Deus, que “de tal modo amou o mundo que lhe deu o Seu Filho único, para que todo o que n’Ele crer tenha a vida eterna” (Jo 3,16).

Nesta Noite Santa, a Igreja enquanto está a vigiar, debruça-se sobre os textos da Sagrada Escritura, que descrevem o desígnio divino do Gênesis ao Evangelho e que, graças aos ritos litúrgicos do fogo e da água, conferem a esta celebração singular uma dimensão cósmica.

Nesta noite, todo o universo criado está chamado a vigiar, junto ao túmulo de Cristo. Diante dos nossos olhos descortina-se a história da salvação, da criação à redenção, do êxodo à Aliança no Sinai, da antiga à nova e eterna Aliança. Nesta Noite Santa, cumpre-se o eterno projeto de Deus sobre a história do homem e do cosmo.

A mãe de todas as Vigílias

Na Vigília pascal, mãe de todas as vigílias, todo homem pode reconhecer também a própria pessoal história da salvação, que tem como ponto fundamental a renascimento em Cristo, através do Batismo.

(…)

“Ecce lignum Crucis, in quo salus mundi pependi: venite adoremus!”(Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo: vinde adoremos). Assim cantou ontem a Igreja, mostrando o madeiro da Cruz “em que foi suspendido Cristo, Salvador do mundo”. “Foi crucificado, morto e sepultado”, recitamos no Credo.

O sepulcro! Eis o lugar onde O tinham depositado (cf. Mc 16,6). Espiritualmente, encontra-se ali a inteira Comunidade eclesial de toda a parte do mundo. Nós também estamos ali com as três mulheres que vão ao sepulcro antes da aurora, para ungir o corpo sem vida de Jesus (cf. Mc 16,1).

Cristo Ressuscitou!

Sua pressa é a nossa pressa. Com elas, descobrimos que a enorme pedra sepulcral foi retirada e o corpo já não se encontra ali. “Não está aqui” anuncia o anjo, mostrando o sepulcro vazio e as faixas funerárias no chão. A morte já não tem domínio sobre Ele (cf. Rm 6,9).

Cristo ressuscitou! Anuncia, no fim desta noite de Páscoa, a Igreja, que ontem tinha proclamado a morte de Cristo sobre a Cruz. É anúncio de verdade e de vida.

“Surrexit Dominus de sepulcro, qui pro nobis pependit in ligno. Alleluia!”. Ressuscitou do sepulcro o Senhor que, por nós, foi pregado na cruz.

Sim, Cristo realmente ressuscitou e nós somos testemunhas.

Dizemo-lo ao mundo aos gritos, para que a nossa alegria chegue a muitos outros corações, acendendo neles a luz da esperança que não defrauda.

Cristo ressuscitou, aleluia!

VIGÍLIA PASCAL NA NOITE SANTA, homilia do Papa João Paulo II
Sábado Santo, 22 de Abril de 2000

Segundo fonte de Vatican.va

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