Palavra do Mês de Janeiro/23 Saulo de Tarso e Barnabé

“Barnabé viu a graça de Deus e ficou muito contente… Então, Barnabé partiu para Tarso em busca de Saulo” (At 11, 23.25)

 

Todos conhecemos a trajetória de São Paulo e o papel fundamental que ele teve na evangelização do mundo, na alvorada da era cristã. Poucos, porém, sabem que não teríamos “Paulo de Tarso” sem o ministério de São Barnabé. Foi ele que confiou no recém-convertido, Saulo, pois todos o conheciam como perseguidor e “tinham medo dele”. “Então Barnabé o tomou consigo e o levou até os Apóstolos” (At 9, 26).

 

Foi ainda Barnabé que, quando levaram Paulo de volta para Tarso, buscou o novamente em Tarso e o levou consigo, para a missão de Antioquia, já que sua presença gerava conflitos e ameaças de morte por parte dos judeus em Jerusalém. Foi em Antioquia que Barnabé e Paulo evangelizaram e formaram os discípulos por um ano inteiro e foi então que, pela primeira vez, os discípulos receberam o nome de cristãos (cf. At 11,20ss). Esta foi a primeira de uma série de viagens missionárias, extremamente fecundas, que levaram São Paulo “até os extremos confins da Terra” (cf. At 13,47).

 

Quem era Barnabé? Sua presença aparece pela primeira vez no começo dos Atos dos Apóstolos, no capítulo 4. Sabemos que seu nome era José (aquele que acrescenta à família de Deus) e que os Apóstolos o chamavam de Barnabé (filho da consolação ou da exortação). Sabemos que era levita (da classe sacerdotal), nascido em Chipre e que deu seus bens para a Comunidade Cristã com extrema generosidade.

 

Era um homem que, enviado à Antioquia, diante do problema dos gregos recém-convertidos, “viu a graça de Deus e ficou muito contente”. Sabia ver o positivo e exortar os discípulos para que não se perdessem em vãs discussões, mas buscassem o essencial: Exortava todos a permanecerem unidos ao Senhor, com o bom propósito de coração… (porque) era um homem bom, repleto do Espírito Santo e fé (cf. At 11, 19-26). Barnabé era capaz de ver o bem, de contemplar a graça de Deus, de valorizar os dons de cada um, de dar e dar-se generosamente, de não desistir de ninguém, de acreditar na bondade do coração dos homens, e assim, Deus o honrou. É significativo que quando Paulo, decepcionado por Marcos, quis separar-se dele, Barnabé confiou também em Marcos e não o abandonou, assim como, no passado, não tinha abandonado Paulo (cf. At 15,39-40).

 

No fim de sua peregrinação, Paulo acabou concordando com Barnabé e reconheceu que Marcos era “muito útil no ministério” (2Tm 4,11) e pediu que o trouxessem até ele, em Roma.

 

“Barnabé viu a graça de Deus e ficou muito contente… Então, Barnabé partiu para Tarso em busca de Saulo” (At 11, 23.25)

 

Para que tivesse um São Paulo, Deus precisou de um São Barnabé: “o homem que acrescenta à família de Deus”, o “filho da consolação”, o “homem que exorta”, que sabe enxergar o bem e contemplar a obra de Deus mesmo em meio aos problemas; um homem que não desiste dos irmãos, mesmo os mais difíceis de temperamento (como no caso de Paulo) ou os mais fracos (como no caso de Marcos). Barnabé é aquele que vai procurar o filho rejeitado, descartado, porque confia no bem de cada irmão, na ação do Espírito Santo no coração do homem.

 

Quando era jovem, com os meus irmãos, acreditei que o Senhor podia mudar o coração do meu pai, um homem distante da Igreja que não tinha aceitado minha vocação e com o qual tínhamos dificuldade de relacionamento… e a Misericórdia do Senhor o transformou em um grande evangelizador. Tornou-se Diácono e foi conhecido em toda a Igreja da minha cidade de origem, Cagliari (Itália). Um dia, um membro do Movimento, me falou do Pároco… na época era um padre hostil à Renovação e aos Movimentos, com uma vida incoerente, contraditória, de difícil temperamento. Perguntei para este irmão: “e você o que fez para ele? Não entende que é um homem ferido, precisando de acolhida, de amor, de misericórdia?” Aí, começou um caminho inverso. Ele entendeu que a questão não era o que o Pároco fazia de errado com o povo, mas o que ele e o povo poderiam fazer de bem para o sacerdote. No fim, este Padre se converteu; algum tempo depois ficou doente, abriu o coração para a Misericórdia e morreu santamente.

 

Como viver, então, esta Palavra?

 

Sendo “Barnabé” (filho da consolação) para quem se sente incapaz, fraco ou excluído. Seria maravilhoso, no fim deste mês, chegar com o coração repleto de alegria pela volta de filhos que, de fato, até sem perceber, excluímos do nosso convívio por causa de dificuldade de temperamento ou problemas de “caráter”.

 

Paremos para ver se perdemos alguém ao longo do nosso caminho, se desistimos de alguém e voltemos atrás, “até Tarso”, para trazer de volta, conosco, aquele “Paulo” que através do nosso olhar que contempla a graça de Deus, poderá renascer.

 

Que o Senhor nos conceda esta alegria!
Eu o abençoo!

 

Pe. João Henrique
Fundador da Aliança de Misericórdia

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