Davi: uma escolha de Deus além das aparências
“O homem vê as aparências, Deus vê o coração!” (1Sm 16,7b)
Meditar sobre o chamado de Davi significa contemplar a ação e o poder de Deus na vida de um jovem, um homem, um rei. Aqui temos uma oportunidade preciosa para reler, com atenção, os dois livros de Samuel e glorificar a Deus por Sua Misericórdia, da qual Davi é testemunha excepcional.
De fato, não podemos compreender o caminho do “Santo Rei Davi” sem ter clara a trajetória da vida do rei Saul que foi respeitado por Deus quando se afastou dEle por não ter cumprido suas ordens (cf. 1Reis 15,11). Estes relatos narram o nascimento, a expansão e o fortalecimento do reino de Israel ao redor de Jerusalém (cerca de 1020 a 965 a.C).
Veremos que a figura de Davi será uma referência permanente de um reino que não terá fim, de uma descendência da qual brotará o Messias, o Ungido de Deus. Por isso, a Palavra identifica Jesus como o “Filho de Davi” (Mc 10,46-52), “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
O esquecido de todos
Davi foi ungido por Samuel como rei de Israel (1Sm16, 13). Logo percebemos o paradoxo de um Deus que não olha para as aparências. Davi é o oitavo filho de Jessé, da cidade de Belém, da casa de Judá.
A Samuel, enviado por Deus para ungir um dos filhos de Jessé, são apresentados os seus sete filhos e, por ironia da sorte, a escolha do Senhor cai sobre o menor, esquecido pelo próprio pai, desconsiderado pelos seus próprios familiares. Ele estava no campo tomando conta do rebanho. Ele será o ungido do Senhor como rei de Israel: “Desse dia em diante o Espírito de Deus apoderou-se de Davi” (1Sm, 16, 13).
“O homem vê as aparências, Deus vê o coração!” (1Sm 16,7b)
Esse “pequenino” foi o escolhido por Deus para vencer o gigante Golias e levar o povo de Israel para as suas mais gloriosas vitórias. Mas, paradoxalmente, ele experimentou, ao longo da sua vida, grandes fraquezas que o levaram a quedas gravíssimas e vergonhosas.
Mesmo assim, é lembrado pela Escritura como o “Santo Rei Davi”. Por quê? De que forma o chamado e a vida de Davi podem iluminar, fortalecer, animar o nosso chamado? Tentarei destacar algum precioso ensinamento de sua paternidade espiritual.
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A fidelidade nas pequenas coisas
Davi se presta aos trabalhos mais escondidos, se sacrifica. Enquanto os sete irmãos estavam em casa, ele cuida do rebanho no campo. Quando os irmãos estão na guerra, ele se levanta de madrugada, carrega a carga dos alimentos para servir os seus irmãos (1Sm 17,15-20) e servia Saul, mesmo tendo sido consagrado rei.
Quando penso em Davi, penso que, realmente, a quem é fiel nas pequenas coisas serão confiadas grandes responsabilidades (Mt 25,23), pois a paternidade do “poder real” só se alcança na escola do serviço, na fidelidade do dia a dia e no trabalho. Ser fiel nas pequenas coisas é uma grande coisa!
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O caminho em descida
“Quem se humilha será exaltado, quem se exalta será humilhado” (Lc 14,11)
Davi permanece submisso a Saul e, mesmo perante sua injusta perseguição, respeita a autoridade espiritual do Rei Saul: “Ele não levantará a mão contra o ungido do Senhor” (1Sm 26,11). Do mesmo modo, se submeteu a Deus; mesmo na sua experiência de pecado, ele reconhece suas culpas e confia na Misericórdia do Senhor (cf. Sl 50).
Davi caiu em adultério com Betsabea e chegou a proporcionar a morte do seu esposo Urias, manchando-se como um assassino (2Sm 11,14-27).
Foi extremamente violento em várias circunstâncias e desagradou ao Senhor contando mais com suas forças do que na eleição do Senhor (2Sm 24,1-10). Davi reconheceu seus pecados, carregou sobre si suas consequências, mas foi “misericordiado” por Deus.
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A busca de crescimento
Lembre-se sempre que ninguém nasce “grande”. Davi descobriu que a grandeza de uma pessoa está na sua capacidade de aprendizagem. Ele me ensina que, quem não progride, regride. Por isso exerce todos os seus dons: dons musicais (tocava harpa), espirituais, dom de libertação (1Sm 16,23) e dons de combate (1Sm 17,34ss).
Nunca podemos esquecer que os dons crescem quando são exercitados. Não é por acaso que Davi enxerga que até na ameaça do gigante Golias existe uma oportunidade de vitória.
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A confiança no Senhor
É interessante como, no combate contra Golias, o texto do capítulo 17 insiste a respeito da incircuncisão do Filisteu: “Quem é esse filisteu incircunciso para desafiar o exército do Deus vivo?” (1Sm 17,26).
Por que Davi repara na incircuncisão? Porque ele é filho da Promessa, tem como pai Abraão e sabe que sobre o povo está a mão do Senhor e a promessa feita para Abraão: “Abençoarei quem te abençoar e amaldiçoarei quem te amaldiçoar” (Gn 12,3).
Quando Golias o amaldiçoa (1Sm 17,42-44), Davi sabe que o gigante está acabando consigo mesmo, pois a maldição irá cair sobre sua própria cabeça. Davi sabe e toma posse de uma autoridade espiritual, da sua força que está no nome do Senhor. Ele sabe que não é pela espada nem pela lança que Deus dá a vitória (1Sm.17,45-47).
“O homem vê as aparências, Deus vê o coração!” (1Sm 16,7b).
Será que realmente nós também colocamos nossa força no Senhor?
Eu te convido: vamos renovar nossa resposta generosa ao chamado de Deus neste tempo. A vida de Davi é um grande exemplo para nós!
Dessa forma, podemos restaurar estes quatros pilares da nossa vocação:
1) Eu preciso ser fiel nas pequenas coisas: onde estou relaxando ou tenho zelo nas minhas responsabilidades?
2) Eu preciso servir para reinar: estou cuidando dos irmãos que o Senhor me confia e busco servir sempre?
3) Eu preciso crescer sempre: busco exercitar os dons humanos e espirituais que o Senhor me confia? Procuro aprender sempre, buscando conhecimento? Aprendo de todos?
4) Confio no Senhor ou em minhas próprias forças? Desanimo perante minhas fraquezas?
“O homem vê as aparências, Deus vê o coração!” (1Sm 16,7b).
Vamos retomar nossas cinco pedrinhas como Davi. E, vamos para a luta confiantes, pois a vitória é do Senhor! A vitória é daqueles que nEle confiam!
Deus te abençoe!
Pe. João Henrique, Fundador.
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