Castidade e Sexo: qual o tempo certo?

Recentemente, o Governo Federal, através da Ministra Damares Alves, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, lançou o programa “Adolescência primeiro, gravidez depois – tudo tem seu tempo” que quer combater a gravidez na infância e adolescência. Diante de tanta polêmica sobre esse assunto, vale nos perguntarmos como católicos: qual o tempo certo para pensar em sexo?

 “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará” (Jo 8,32). Começo com esse versículo para que já compreendamos que nós precisamos conhecer a verdade sobre o sexo e a castidade. Talvez – e muito provavelmente – você já tenha ouvido falar sobre essas duas realidades de diversas maneiras. Alguns banalizam e tratam o sexo como algo sujo, pecaminoso, ruim. Outros, o supervalorizam como fim último, objetivo e sentido da vida. Alguns enxergam a castidade como uma castração religiosa, uma abstinência de sexo. Outros, a tratam como algo inatingível.

Mas, e você, o que você conhece sobre essas realidades?

Quando é o tempo certo?

A verdade liberta e por isso precisamos conhecê-la. O sexo foi criado por Deus, portanto, é algo bom, algo belo. Ele não foi algo criado ao acaso, Deus o sonhou assim: uma relação, uma união de corpo e alma entre um homem e uma mulher, que se doam mutuamente no amor. Nessa relação de amor se encontra um prazer sem igual do corpo e do espírito. Nessa relação, esse homem e essa mulher se tornam um só, ou seja, alcançam uma unidade inexplicável. Dessa união perfeita, nasce uma vida.

Essa é a lógica de Deus: “Por isso um homem deixa seu pai e sua mãe, se une à sua mulher, e eles se tornam uma só carne” (cf. Gn 2,24). Perceba alguns detalhes desse versículo. Ele começa dizendo que o homem deixa seu pai e sua mãe. Esse é o primeiro indício que precisamos compreender: o homem se refere à maturidade do ser humano masculino.

Ele, já amadurecido, sai da condição de filho, de precisar de cuidados básicos para se tornar um homem, um esposo, um pai, a cabeça do seu lar, aquele que cuidará da sua esposa e filhos. Quando ele vive essa transição, esse desenvolvimento, aí sim ele se torna “capaz” de se unir à sua mulher. Da mesma forma, ele não se unirá a uma menina, a uma jovem, a palavra diz mulher, que se refere também à maturidade do ser humano feminino. A menina precisa amadurecer, sair da condição de filha, para alcançar o seu papel como esposa, mãe, dona do seu lar.

“Não são mais dois, mas um só corpo”

Desse amadurecimento surge o ápice do encontro: eles se unem e se tornam uma só carne. Sabemos que essa expressão “se tornam uma só carne” se refere ao ato conjugal, a relação sexual, o sexo. O sexo é o encontro de duas pessoas amadurecidas, que se conhecem, que se amam, que se doam, que se entregam mutuamente e alcançam o ápice dessa união: não são mais dois, mas um só corpo. Eles já estão amadurecidos o suficiente para compreenderem que sua união é um transbordar de amor, de comprometimento, de entrega mútua e constante.

E a lógica de Deus não para por aí. Depois que eles se tornam um, aprendem a viver esse amor da forma mais madura, Deus concede-lhes uma graça infinitamente bela e particular: se tornam co-criadores da vida! De um relacionamento maduro entre duas pessoas que se amam tanto a ponto de se tornarem uma só carne, nasce uma vida, uma outra pessoa! Essa pessoa que nasce é fruto desse amor maduro, que se traduz no concreto de todos os seus gestos, atitudes e, na maior de suas expressões: a vida humana!

Questão de maturidade

Eu repeti várias vezes algumas palavras intencionalmente. O sexo, em seu verdadeiro sentido e significado, pressupõe maturidade. Ele não é uma busca por prazer, por satisfação. Isso é a cultura do descartável que a sociedade propaga, isso é hedonismo. O sexo não é uma aventura para eu descobrir o meu corpo. O sexo não é um acontecimento de uma noite com qualquer pessoa. Isso pode ser qualquer outra coisa menos sexo.

Sexo pressupõe relacionamento entre duas pessoas que se conhecem, que se amam, que estão comprometidas uma com a outra, que se respeitam e que possuem a reta intenção de permanecerem juntas até que a morte as separe. E quando isso acontece de fato? No matrimônio! Não existe outro “lugar” no qual o sexo exista verdadeiramente.

Elucidei essa realidade para compreendermos que o sexo tem duas finalidades: unitiva e procriativa. Ele une o homem e a mulher e os fazem alcançar o ápice da sua maturidade: a maternidade e a paternidade. Gerar uma nova vida é um verdadeiro transbordar desse amor maduro.

Aquele homem e aquela mulher que, ao longo do relacionamento foram amadurecendo, agora vivem outro “processo” de maturidade que os levará a esse ápice: já se doam mutuamente, agora são chamados a formar, educar e se doarem a essa pessoa que é fruto do amor, da união deles. Essa união e amor serão base e fundamento para essa pessoa que nasce.

Virtude da Castidade

Essa compreensão autêntica acerca do sexo nos faz compreender que toda pessoa possui uma dignidade e esta precisa ser respeitada, zelada. Esse aspecto e todos os demais que refletimos até aqui, só se tornam possíveis quando eu vivencio uma virtude essencial: a castidade.

A castidade nos molda no autodomínio, autoconhecimento, autocontrole, na pureza, na doação, na integralidade do nosso ser, entre tantos outros fatores. Praticando essa virtude que protege o amor, certamente o “processo” de amadurecimento do qual tanto falamos, acontecerá. Vale ressaltar isso: tudo o que você leu e refletiu comigo até aqui só é possível, realmente possível, se vivemos a CASTIDADE!

A castidade nos ensina a viver o verdadeiro amor

O Catecismo da Igreja Católica, em seu artigo 2337, nos diz que a virtude da castidade comporta, portanto, a integridade da pessoa e a integralidade da doação”. Integridade, ou seja, a pessoa inteira, não uma “parte” da vida da pessoa. Hoje em dia, a sociedade tem tentado nos fazer acreditar que nós somos o nosso impulso sexual. Nunca uma afirmação diminuiu, menosprezou e ridicularizou tanto o ser humano. Nós temos impulsos sexuais sim, que podem e devem ser controlados exatamente porque nós não nos resumimos a isso. Nós somos mais! Merecemos ser respeitados e compreendidos dessa forma.

A Teologia do Corpo (conjunto de catequeses de São João Paulo II sobre a sexualidade humana) nos ensina que o amor possui quatro características, ele é livre, total, fiel e fecundo. A castidade nos ensina a viver cada uma destas.

Ele é livre porque não escraviza, não controla o outro, existe a liberdade de ser aquilo que se é. Total, porque respeita a totalidade do ser, enxerga a pessoa como um todo e não apenas como uma parte que me convém ou que me satisfaz. Fiel, porque existe comprometimento, tem a real disposição de se comprometer inteiramente e exclusivamente com aquela pessoa. Fecundo, porque compreende que a doação de si é necessária, não existe fechamento, egoísmo, prontamente se decide a se doar pelo outro.

É a castidade que nos ensina a viver esse amor na plenitude. Castidade não é um grande “não” às coisas. Ela é um grande SIM ao amor, à liberdade, à plenitude.

Por que viver a abstinência do sexo?

Antes do matrimônio existe a abstinência de sexo sim, não por uma opressão, uma castração, mas por um zelo pela sua própria dignidade e a do outro. Antes do matrimônio, nós trilhamos uma “escola do amor autêntico”, na qual a castidade nos ensina a viver a pureza: no olhar sobre as coisas e as pessoas, nos pensamentos, nas atitudes, na forma de se vestir e se comportar, enfim, em todos os nossos relacionamentos. Vale ressaltar: a castidade engloba todos os aspectos da nossa vida, então ela precisa ser vivida como tal. E isso é lindo, é belo. Esses primeiros passos na castidade nos ensinam a doação, a entrega que será livre, total, fiel e fecunda no matrimônio.

Portanto, é importante perceber que o tempo correto para se viver o sexo é dentro do matrimônio. Antes disso, é possível buscar conhecer o seu verdadeiro significado para não sermos vítimas dessa cultura do descartável.

Um adolescente, por exemplo, ainda está extremamente imaturo para poder compreender e viver essa realidade que exige tanta entrega, doação, maturidade, consciência de si, do outro e do mundo. O sexo sem esse amor maduro se torna apenas um ato genital.

Nós somos chamados a viver a plenitude do amor! Em todo o tempo, somos chamados à vivência da castidade, do amor autêntico. Não perca mais tempo, não se nivele por baixo!

Se abra a essa caminhada de amadurecimento, integridade e plenitude à qual você é chamado!

 

Rosana Menezes
Psicóloga e Missionária da Comunidade de Aliança em Salto/SP

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