AS CONSEQUÊNCIAS DO “PERMANECER” OU “NÃO PERMANECER EM JESUS”

Eu sou a videira e vós sois os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo e queimado” (Jo 15,5-6).

Nestes meses temos perscrutado o mistério das palavras de Jesus em Jo 15,1-17 que convida toda a Família Aliança de Misericórdia para um relacionamento íntimo e próximo com Jesus que nos permita PERMANECER Nele e Ele em nós, tornando-nos fiéis ao seu mandamento: “o que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,17). É o dinamismo da comunhão de amor que une todos os seus discípulos na vida do Pai pela força do Espírito, uma união vital que garante uma vida de bons frutos.

Já foi possível observar desde os primeiros versículos que as palavras de Jesus estão carregadas de imagens agrícolas ligadas ao cultivo da vinha, nos conduzindo sempre ao dinamismo entre a videira e os seus ramos, uma referência à relação de Jesus com os seus discípulos, a qual exige condições e tem consequências. Esse relacionamento entre a videira que é Jesus e Seus ramos, os discípulos é tecido no texto bíblico pelo verbo grego “menō”, que significa “habitar em”“morar em”“permanecer em”, que expressa o desejo imperativo de Jesus: “permanecei em mim”, dominando todos os versículos da primeira parte em 15,1-8, indica o caminho que todos nós, discípulos do Senhor, devemos percorrer.

Se o permanecer em Jesus é a condição fundamental para ser verdadeiro discípulo e produzir muitos frutos, nota-se que algumas consequências também são apresentadas por Jesus para o discípulo que não estiver enxertado Nele: “se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo e queimado” (Jo 15,6). O discípulo é um dom do Pai para Jesus (6,39), e para segui-Lo é preciso acreditar em Suas palavras, decidir-se livremente, aderir voluntariamente, sem esquecer que “ninguém pode ir a Jesus se o Pai não o atrair” (6,44). O discípulo é aquele que ouve, vê, acredita, permanece com Jesus e O segue, dando assim, uma resposta à iniciativa divina, testemunhando o que viu e ouviu (cf. 1Jo 1,1). Mesmo que os discípulos vivam em um ambiente de incredulidade e hostilidade, em um contínuo confronto com os judeus e o mundo, Jesus propõe uma decisão e adesão radical para que se cumprisse os desígnios do Pai. De forma irredutível, a fé e a incredulidade tornam-se decisões. Não existe espaço para outras teorias que possam suprimir a decisão responsável de cada ser humano. Jesus se revela para aqueles que acreditam que Ele é o enviado do Pai. Portanto, não dispensa a cooperação da decisão humana. É preciso decidir: permanecer com Jesus ou afastar-se Dele?

Permanecer é uma adesão à pessoa de Jesus, uma aceitação, um acolhimento, uma escuta dócil e um seguimento. Esta atitude é traduzida pelo verbo “crer”, uma ação que tem sentido ativo e dinâmico, uma atitude de entrega e confiança que leva a amar a pessoa em quem se crê. Não é uma fé teórica, mas uma fé vital que informa toda a vida de quem crer. É um “receber” Jesus (1,12; 5,43; 13,20), um “vir a Ele” (5,40; 6,35.44; 7,37), um “seguir” (8,12; 10,27); um “permanecer” n’Ele, em Sua palavra e em Seu amor (15,4; 8,31; 15,7.9). O não permanecer é sinônimo de afastar-se Dele, rejeitá-Lo, recusar amá-Lo e aos irmãos, optando por uma vida de esterilidade, um ramo que, ao secar, é juntado, arremessado ao fogo e queimado. É a inutilidade que conduz ao desastre, à destruição. Pois, somente aqueles que permanecem em Jesus podem receber a vitalidade, tornam-se fecundos e produzem muitos frutos, ou seja, compreenderam que “sem Ele, nada podem fazer”.

Em 15,14 Jesus exclama: “Vós sereis meus amigos – meus discípulos – se fizerdes o que eu vos mando”. Veja, o discípulo é amigo do Mestre; não basta simplesmente viver um discipulado formal – um crer fantasiosamente no Mestre. Jesus mesmo denunciou os falsos discípulos ou os falsos seguidores. Muitos se sentem atraídos a Ele só pelo mero proveito material dos Seus sinais. Outros ainda creem n’Ele, mas não são capazes de confessá-Lo publicamente por medo dos fariseus, pois, como sentenciou o próprio Jesus, “amavam mais a glória dos homens do que a glória de Deus” (12,43). Assim sendo, não se torna discípulo de Jesus aquele que o segue apenas fisicamente, afastando-se d’Ele quando acham duras algumas das Suas palavras (cf. 6,55ss). Desde o texto do prólogo do Evangelho de São João, somos convidados a decidir-se entre a acolhida ou a rejeição: “Veio para o que era Seu, mas os Seus não O receberam. Mas a quantos O receberam, aos que crerem n’Ele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus” (1,11-12)Os Seus discípulos se diferem dos demais homens, pois eles acolheram a luz e os demais a rejeitaram.

O autêntico discípulo de Jesus se caracteriza, pois, por aceitar Sua palavra não só de maneira formal, mas efetivamente, ajustando a própria vida e comportamentos a ela, num compromisso de seguimento e entrega total no amor. Sua vida tem feito a diferença no mundo? Não podemos esquecer que o permanecer em Jesus é algo mais que entusiasmar-se com Sua beleza e Seu poder; é assimilar o sacrifício da cruz, seguindo-O (12,26) até que se cumpram os desejos do Pai: “que todos tenham vida e vida em abundância” (cf. Jo 10,10).

Lembremo-nos, irmãos, que cada um de nós pode tornar-se na vinha/Igreja do Senhor um ramo inútil, se não tivermos como princípio “uma vida enxertada em Cristo”, pois somente Ele é capaz de fazer frutificar nossa vida encontrada por Sua Misericórdia. Precisamos trabalhar, mas não é o trabalho nossa prioridade. A força para o trabalho, o apostolado, a evangelização vem como fruto da nossa intimidade com Cristo. Estes versículos que meditamos neste mês alerta-nos que a inutilidade de um ramo leva nosso caminho de seguidores de Jesus ao desastre, ou seja, o ramo/discípulo sem Jesus, é vida sem fruto, sem vida transformada, um caminho que se dirige para a destruição.

Que o nosso coração deseje, em primeiro lugar, aquilo que o Senhor nos pede: “permanecei em mim e eu em vós”, pois sem Ele nada podemos fazer.

Sejamos atentos e dóceis a voz do Senhor.

 

Paz e Misericórdia!

 

 

 

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