Os Santos Anjos na vida da Igreja
Sempre no meio do mês de agosto, mais precisamente no dia 15, Festa da Anunciação de Nossa Senhora, iniciamos a Quarentena de São Miguel Arcanjo, uma devoção muito importante para nossa pequena família Aliança de Misericórdia.
Aprofundar a Fé
Júlio Neto[1]
Sempre no meio do mês de agosto, mais precisamente no dia 15, Festa da Anunciação de Nossa Senhora[2], iniciamos a Quarentena de São Miguel Arcanjo, uma devoção muito importante para nossa pequena família Aliança de Misericórdia.
Assim também acontece para tantas realidades eclesiais que confiam muito na intercessão dos Santos Anjos e, em especial, se reservam à proteção desse arcanjo muito invocado como padroeiro de tantas paróquias, baluarte de congregações religiosas, de movimentos eclesiais e novas comunidades, lugares onde “carismas suscitados pelo Espírito irrompem como vento impetuoso, que arrebata e atrai as pessoas para novos caminhos de empenho missionário ao serviço radical do Evangelho, proclamando sem temor as verdades da fé, acolhendo como dom o fluxo vivo da tradição e suscitando em cada um o ardente desejo da santidade”.[3]
Com o desejo de oferecer um conteúdo dogmático, que nos ajude a viver melhor e mais profundamente esta devoção aos Santos Anjos, trago uma reflexão geral sobre o assunto à luz da Sagrada Doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana, baseada nas Escrituras, Tradição e Magistério, que possa nos iluminar e confirmar neste caminho tão importante garantindo a segurança e ortodoxia presente nesta doutrina.
O assunto é extremamente amplo, haja vista, que só na Suma Teológica, São Tomás de Aquino, conhecido inclusive como ‘Doutor Angélico’ exatamente por ter-se debruçado grandemente sobre a temática dos Anjos, disserta diversas questões e artigos.
O assunto torna-se inesgotável quando de fato passa a se aprofundar em tal mistério, nos lançando nestes textos, para o decorrer dos mais de dois mil anos de História da Igreja, desde os Padres da Igreja até o atual magistério, com brilhantes observações sobre a temática.
Vale salientar que pela falta de conhecimento e de certo sincretismo religioso é muito comum a confusão gerada nos fiéis que misturam doutrinas de misticismo, esoterismo, espiritismo e, até em casos mais agudos, de satanismo que trazem descrença, falta de confiança nos Santos Anjos, com atribuições equivocadas de sua atuação e função na vida da humanidade, esvaziando a grande riqueza que crê e ensina a Santa Igreja Católica acerca destes seres espirituais.
Um passo adiante
Desta forma, iremos nos dedicar a levantar alguns pontos fundamentais que nos ajudem a ter toda segurança nesta devoção tão apropriada junto aos Santos Anjos. Para isso dividiremos então o nosso texto em partes para que, acompanhando gradativamente a reflexão, fique mais fácil a compreensão e estudo desta realidade.
Palavra de Deus
A Sagrada Escritura é a nossa primeira base de verificação da existência e atuação destes que, são reconhecidos pela doutrina cristã como seres espirituais, não corporais, identificados como anjos, reconhecendo assim não somente a sua existência, mas tomados por uma verdade de fé[4]. “O testemunho da Escritura a respeito é tão claro quanto à unanimidade da Tradição”.[5]
Considerando o limite que um artigo como este requer, vamos nos limitar a trazer algumas pontuações na Sagrada Escritura em que podemos verificar a presença dos anjos em diversas formas de atuação. Mas vale salientar, a importância e veracidade de sua existência e ação estão em mais de 300 citações encontradas no texto Sagrado. Vamos ver alguns exemplos:
No Antigo Testamento (AT)
A forma mais primitiva de fé nos anjos parece ter sido a do “mensageiro do Senhor”: que dispensa Abraão de sacrificar Isaac (Gn 22,11ss); fala a Jacó em sonho (Gn 31,11) e luta com ele em Fanuel (Gn 32,24ss).
Aparece a Moisés na sarça ardente (Ex 3,2) e conduz Israel através do mar Vermelho e do deserto (Ex 14,19; 23,20; 33,2; Nm 20,16); provavelmente, é também o homem que aparece a Josué nas proximidades de Jericó (Js 5,13ss), o “chefe do exército do Senhor”; como anjo exterminador da peste, aparece a Davi na eira de Areúna (2Sm 24,16ss; 1Cr 21,15ss); aparece a Elias durante a sua viagem ao Horeb (1Rs 19,7)[6].
E ainda outros pontos de importante destaque no AT são a aparição do arcanjo Rafael, um dos sete anjos que apresentam as preces do povo de Deus, quando ajuda Tobit e seu filho em suas necessidades (Tb 12,15); em especial aparece como mediador entre o Senhor e os profetas explicando cada visão profética (Zc 1,7-6,15), a mesma concepção pode ser observada em Dn 8,16ss; 9,21ss, onde o anjo recebe um nome, Gabriel.
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E no mesmo livro de Daniel, dentro da mesma concepção, aparece o “príncipe” Miguel, o anjo do povo de Israel, que luta contra os príncipes da Grécia e da Pérsia em defesa de Israel[7]. Além destes, são inúmeros os trechos encontrados no AT que nos demonstram a atuação dos anjos.
É válido salientarmos que em diversos dos textos do Antigo Testamento existe um tom de que este “anjo mensageiro” é o próprio Deus (cf. Gn 16,13; 21,18; 31,13; Ex 3,2ss; Jz 6,14; 12,33). É possível chegar à dedução que o Anjo é um enviado do Senhor para falar em Seu próprio nome ou em Seu nome realizar maravilhas, mas nunca se confunde a figura em si de uma Pessoa Divina, ele não é um Deus, claramente.[8]
Referências:
[1] Missionário interno casado da Comunidade de Vida da Com. Aliança de Misericórdia. Teólogo formado pela Faculdade São Bento de São Paulo, com especialização em Counseling (Aconselhamento Psico-espiritual) pelo Instituto IATES de Curitiba. Redes sociais Instagram, Youtube, Facebook.
[2] No Brasil a Festa da Assunção é transferida para o domingo.
[3] JOÃO PAULO II. Papa. Mensagem do Papa João Paulo II aos participantes do Congresso Mundial dos Movimentos Eclesiais. Roma, 27 de maio de 1998. Atualizado até a última verificação em 29/07/2020 e disponível: Vatican.va.
[4] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. § 328. 9ª ed. Petrópolis: Vozes; São Paulo: Ave-Maria Loyola, Paulinas, Paulus, Salesiana, 2002. Citado daqui em diante como CIC e o número do parágrafo correspondente (CIC 328).
[5] Ibidem.
[6] MCKENZIE, John L. Dicionário Bíblico. (tradução Álvaro Cunha… et al.; revisão geral Honório Dalbosco. São Paulo: Ed. Paulinas, 1983.p 45. Daqui em diante citado como “DICIONÁRIO BÍBLICO. Org. JOHN MCKENZIE.” e paginação correspondente.
[7] DICIONÁRIO BÍBLICO. Org. JOHN MCKENZIE. p. 46.
[8] DICIONÁRIO BÍBLICO. Org. JOHN MCKENZIE. p. 45.
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