O Cardeal Arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer esteve em visita pastoral à diocese de Pemba, norte de Moçambique. Além de inaugurar duas obras sociais e uma paróquia, o arcebispo visitou diversas obras missionárias brasileiras, inclusive a Aliança de Misericórdia.

Dom Odilo chegou em Maputo no domingo, 18 de agosto e no dia seguinte visitou a Missão da Aliança. Primeiramente, Pe. Jefferson o levou para conhecer um pouco da cidade e conhecer a casa das missionárias.

As presenças de Dom Odilo e Pe. Michelino alegraram bastante a fraternidade, mesmo que por um breve período.

A voluntária em missão, Rosana, que está há dois anos no país, contou-nos um pouco de como foi a experiência da visita e você pode ler no relato abaixo:

Visita à lixeira

À tarde os levamos para conhecerem o Centro Paraíso, espaço cedido pela arquidiocese de Maputo para a Aliança de Misericórdia. O Centro Paraíso fica no bairro do Hulene B, exatamente em frente ao lixão de Maputo”.

Sobre esta atividade no lixão ou “lixeira” como dizem por lá, você pode saber mais detalhes neste post:

A luta para retirar as mães do lixo em Moçambique

“Lá no Centro, as mamanas (mães moçambicanas) aguardavam a visita do “chefe da Igreja católica do Brasil” com ansiedade.

Mais ou menos umas 40 mamanas e mais 150 crianças o esperavam. Alguns chefes do Hulene também fizeram presença lá para prestigiar; três chefes de habitação, segurança e saúde do bairro.

Cantaram, dançaram e cada pessoa cumprimentou Dom Odilo, à moda moçambicana. Ofereceram frutos da terra em sinal de gratidão; um pouco de mandioca enrolada numa Capulana (tecido tradicional africano) e frutas.

O Paraíso na terra

Por aqui todos sabem dizer: Eu prefiro o Paraíso!

Em vários sentidos, interpretam e dizem com convicção essa frase. Crianças, vovôs e vovós, catadores de lixo, sem abrigo, chefes e mães.

Dom Odilo tocado perguntava o tempo todo: “Vocês preferem o quê?” – Em coro a palavra PARAÍSO parecia ecoar em frente àquela imensa montanha de lixo.

As crianças praticamente subiam nele. Todos se apertavam para tocar sua pele que é “muito mulunga”, que no dialeto local significa branco (foi um momento bem divertido!).

Depois, ele deu a benção, agradeceu e seguimos a pé, do Centro Paraíso até a Lixeira. Dom Odilo caminhou no mato, no meio do lixo e da água, pois é uma espécie de brejo até chegar na montanha de lixo.

Enfim, na lixeira, as pessoas se colocaram em um grande círculo, crianças em meio ao lixo sentadas batiam palmas. Dom Odilo tirou fotografia de todos os rostos de criança que ele pôde tirar. Dizia que a expressão das crianças era fascinante.

Ouvindo as histórias

Assim, rezamos ali mesmo na lixeira com o povo.

Ele ouviu alguns testemunhos, inclusive a história do José que era catador de lixo, até viveu na lixeira por 10 anos. Hoje ele é funcionário no Centro Paraíso.

Ele ouviu, sobretudo, as histórias das mães que trabalham na lixeira e levam seus filhos consigo. Bebês de 3 meses de idade já ali “nenecados” (atrelados) em suas mães, participando do trabalho duro de cada dia.

A maior parte dos catadores de lixo por aqui são mulheres, quase a totalidade. A média é de que 3000 catadores entram na lixeira todos os dias.

As despedidas

Por fim, deu benção solene na lixeira para todo o povo, que repetia “Amém, Amém, Amém” sem nem ter muita ideia de que estavam recebendo uma benção solene de um cardeal dentro da Lixeira.

Mas para eles, Dom Odilo era sinal de Deus que se humilhou e veio ver com os próprios olhos a vida sofrida deles.

Retornando à casa missionária no final do dia, celebraram missa na capela, oferecemos uma pequena lembrancinha típica daqui e nos despedimos.

No dia seguinte, pela manhã (20/08), Dom Odilo celebrou uma Missa na nunciatura apostólica exclusiva para os missionários brasileiros das diversas ordens e associações. Na homilia, partilhou suas impressões sobre o país e as visitas que fez.

Foi um momento de grande graça que ficará na memória de muita gente.