Venerável Irmã Serafina Cinque – Santidade Brasileira

A Venerável Irmã Serafina Cinque, nasceu em 31 de janeiro de 1913, em Urucurituba, Amazonas, foi uma religiosa dedicada e uma das grandes figuras missionárias da Amazônia brasileira. Como membro das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo, sua vida foi marcada pela entrega ao próximo, especialmente em meio aos desafios do Norte do Brasil. Seu legado de fé, serviço e caridade se espalhou pela região da Transamazônica, tornando-a conhecida como o “Anjo da Transamazônica”.

A infância e a vocação de Irmã Serafina

A família Cinque, de origem italiana, se estabeleceu em Urucurituba, Amazonas, após a chegada ao Brasil em 1910. Atraídos pelo “ouro negro” da borracha, os sonhos da família de Vicente e Sarah foram frustrados quando chegaram ao fim do ciclo da borracha. Em meio às dificuldades econômicas, os Cinque se dedicaram ao cultivo de cacau e ao comércio de tecidos, tornando-se uma família próspera.

Foi nesse contexto que Noeme Cinque, mais tarde conhecida como Irmã Serafina, nasceu. Desde criança, Noeme se destacou por sua personalidade ativa e curiosa, ao ponto de ser enviada para o Colégio de Santa Dorotéia, em Manaus, aos 11 anos, onde teve seu primeiro contato com a vida religiosa. A convivência com as irmãs do colégio marcou profundamente seu coração, despertando em Noeme o desejo de seguir a vida religiosa.

Aos 16 anos, Noeme pediu permissão aos pais para se tornar religiosa, mas foi impedida pela família, que tinha grande apego à filha. Em Manaus, frequentou a Igreja de São Sebastião, administrada pelos capuchinhos, e tornou-se catequista dedicada. Aos 21 anos, formou-se professora, trabalhando em comunidades do interior, como Tabocal, Urucurituba e Manaus. Noeme desempenhou um papel importante na formação cristã dessas comunidades, dedicando-se não apenas ao ensino, mas também à preparação dos fiéis para os sacramentos.

Durante a Segunda Guerra Mundial, a situação da família Cinque se complicou devido à perseguição contra imigrantes de países do Eixo, como Itália, Alemanha e Japão. Os sofrimentos dessa época levaram à morte de sua mãe, Sarah, em 1945. A partir daí, Noeme assumiu o papel de cuidar da família, orientando seus irmãos mais jovens.

Em 1946, a chegada das Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo de Wichita, Kansas, EUA, abriu uma nova possibilidade para Noeme realizar seu sonho de se tornar religiosa. Aos 33 anos, ela ingressou na congregação, superando desafios culturais, como a língua e as diferenças de costumes nos Estados Unidos. Durante o noviciado, recebeu o nome de Irmã Serafina e retornou ao Brasil ainda em 1946 para ajudar a estabelecer a presença da congregação na Amazônia.

Sua dedicação foi essencial para a fundação do convento na região, facilitando contatos burocráticos e buscando recursos para sustentar a missão. Irmã Serafina foi uma ponte entre as primeiras missionárias americanas e as novas vocações brasileiras, ajudando a congregação a crescer e se estabelecer.

Ao longo dos anos, Irmã Serafina assumiu diversas responsabilidades. Em 1949, tornou-se diretora do Ginásio de Coari, onde atuou como verdadeira educadora, cuidando dos alunos e dos internos com zelo. Entre 1954 e 1963, serviu como superiora em várias comunidades da Amazônia, incluindo Codajás, Altamira e Manacapuru, dedicando-se à educação e à formação de professores em escolas rurais e normais, contribuindo para a capacitação dos jovens da região.

Em 1966, foi enviada a Olinda do Norte, na prelazia de Borba, AM, onde começou a dedicar-se ao trabalho de assistência na área da saúde, uma nova direção em seu apostolado. Atuou como parteira e atendente de enfermagem, enfrentando as precárias condições de atendimento e a falta de médicos e recursos. Em um ambiente marcado pela carência, Irmã Serafina não media esforços para cuidar dos doentes, muitas vezes viajando de barco para Manaus em busca de ajuda para aqueles que mais precisavam.

Missão em Altamira

Em 1972, Irmã Serafina foi enviada para Altamira, no Pará, onde se dedicou à Pastoral Social da Prelazia do Xingu. A construção da Transamazônica trouxe inúmeras mudanças à região, e com elas, um fluxo massivo de imigrantes que enfrentavam condições de vida difíceis. Muitas mulheres, ao dar à luz, precisavam viajar longas distâncias até Altamira, onde os recursos de saúde eram limitados.

Sensível a essas necessidades, Irmã Serafina começou a acolher gestantes e outros doentes no ambulatório da paróquia. Essa iniciativa levou à construção da Casa Divina Providência, em 1984, um pavilhão para gestantes que precisavam de assistência e não tinham onde ficar. Foi essa dedicação aos mais vulneráveis que a fez ser conhecida como o “Anjo da Transamazônica”.

Após anos de intensa dedicação e pouco descanso, Irmã Serafina adoeceu de câncer nos gânglios linfáticos em 1987. Faleceu em 21 de outubro de 1988, em Manaus, mas seu legado continua vivo, graças à continuidade de suas obras pelas Irmãs Adoradoras do Sangue de Cristo. Seu trabalho em Altamira e em outras localidades da Amazônia deixou uma marca de amor, serviço e comprometimento com os mais pobres e doentes.

Irmã Serafina Cinque é lembrada por sua fé inabalável, por seu incansável serviço e pela capacidade de enfrentar desafios humanamente insuperáveis. Sua vida foi um verdadeiro exemplo de entrega à vontade de Deus, buscando sempre servir aos mais necessitados. Sua dedicação à saúde, educação e bem-estar das comunidades amazônicas a transformou em um símbolo de amor ao próximo.

Assista o segundo episódio da série Santidade Brasileira

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