PERMANECER: UMA DINÂMICA DE COMUNHÃO NA CARIDADE

“Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós não podereis dar fruto, se não permanecerdes em mim” (Jo 15,4).

 

Como vimos em nossa reflexão acerca da pertença e fecundidade”, as palavras de Jesus nos três primeiros versículos destacam a necessidade de uma “união íntima de amor, uma intimidade fundamental e imprescindível entre Ele e os seus discípulos, como garantia de uma vida de bons frutos. No entanto, para produzir este fruto, Deus Pai, o agricultor, poda os ramos da videira, tira de cada um de nós e da nossa Comunidade o que não serve para a comunhão no amor. A poda é uma técnica que não discute com o que é estéril, um corte que deixa cair o que é seco, o que não dá fruto, o que impede de correr a vida, a força vital da Videira verdadeira: o amor de Cristo, o Evangelho, a graça do Espírito Santo. Possivelmente, é neste contexto em que vivemos como Igreja, um tempo de grandes podas. Parece que nos tornamos menores, mais curtos, menos visíveis, às vezes menos importantes em meio a nossa sociedade. Porém, se permitirmos ser podados pelo Pai com a confiança que Ele nos ama e quer nos tornar vivos na vida do Filho, descobrimos que a poda nos faz bem, nos torna  mais felizes e fecundos para o Reino de Deus, mesmo quando aparentemente parecemos morrer. Não podemos ter medo, ao contrário, devemos assumir o nosso lugar de verdadeiros discípulos de Jesus Cristo, para alcançarmos o “estado” de pureza: “vocês já estão limpos por causa da palavra que vos falei” (15,2-3). É através de sua palavra, que Jesus numa persistência fiel não cessa de nos educar dizendo onde precisamos ficar: “permanecei em Mim e Eu em vós”, do mesmo modo em que os ramos estão enxertados na videira e produzem muitos frutos.

Permanecei em Mim e eu em Vós. No decorrer dos versículos que compõe o nosso texto de reflexão (15,1-17), constatamos na primeira parte (15,1-8) nos lábios de Jesus o verbo permanecer para exprimir a imagem da união íntima entre o tronco e os ramos, referindo-se a imprescindível união íntima de amor entre Jesus e os seus discípulos. Seguidamente, encontramos por mais quatro vezes, na segunda parte (15,9-17) a explicação da imagem da “videira e dos ramos”. Nos textos do Evangelho segundo João o permanecer é utilizado não apenas em relação de unidade de Jesus com seus discípulos, como aqui, mas também em relação ao Pai (14,10; e 17,23) e ao Espírito Santo (14,11; 14,20). O sentido é o da permanência mútua, a mútua habitação de Deus, de Jesus, ou do Espírito Santo Paráclito nos seus e os seus em Deus. Não se trata de uma mera “união moral” entre os fiéis e Jesus. Da parte de Deus (em Jesus) trata-se de uma presença salvífica, como a Morada (shekinah/glória) de Deus no meio do povo. E, na medida em que abrimos espaço para Sua presença no meio de nós e em nós, também  permanecemos no âmbito d’Ele, na plenitude da sua presença (cf. Ex 40,35).

Não temos dúvidas de que o Senhor tem severamente nos exortado a “permanecer nele” e permitir que Ele tenha a sua morada permanente dentro de nós. Este é o nosso lugar de verdadeiros discípulos. O exercício do “permanecer em Jesus” é, por conseguinte, a condição que identifica a nossa escolha como Movimento Aliança de Misericórdia. Somos escolhidos por Ele, não porque somos os mais talentosos, os mais religiosos ou os de melhor caráter humano. Precisamos ter consciência de que somos simplesmente aqueles que permanecem com Ele e n’Ele, numa união íntima de amor. Por isso, nossa vida em comunidade consiste primeiramente em uma relação vital com Jesus, doador de vida e Revelador do Pai. Para São João, as palavras de Jesus indicam que no seio da comunidade de fé o importante é o relacionamento pessoal que devemos ter com Jesus e não tanto a estrutura da própria comunidade. Sugere-se, então, que isto se deve ao fato de que ser membro da comunidade de fé não constitui um objetivo suficiente: a comunidade deve conduzir necessariamente para uma comunhão de vida com Cristo, “sem mim nada podeis fazer” (15,5). Portanto, o chamado de Jesus a permanecermos n’Ele não se traduz como uma mera ideia de “estar do lado de Jesus”, “morar na mesma casa” ou “caminhar junto”. O desejo imperativo de Jesus para que permaneçamos n’Ele é aquele de vivermos dentro dele, possuindo a mesma vida que está nele, permitindo, desse modo, que ele habite em nós até chegarmos a declarar que “já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim” (cf. Gl 2,20).

Importante estarrmos cientes de que a comunhão entre nós é a comunhão dos ramos, da única videira verdadeira que é Cristo. Cada ramo (cada membro da Aliança de Misericórdia) é responsável por levar pessoalmente o fruto da vida que é o amor, permanecendo inserido no Senhor. Mas, não devemos esquecer que o nosso fruto é fruto de Cristo (a vida de Cristo, amor do Pai), e que os diversos ramos (nossos irmãos) estão unidos por Ele para transmitir este fruto ao mundo. O fruto é a “comunhão de amorque Cristo dá ao mundo, e seria um absurdo que os ramos que a transmitem não experimentassem esta comunhão entre si. Temos consciência de que estamos juntos, vivendo em comunidade para servir o fruto da comunhão fraterna, isto é, o grande milagre realizado pelo amor do Ressuscitado, que nos oferece o seu Espírito? Mesmo carregados de muitas fragilidades, devemos compreender que nunca a fragilidade será uma objeção para a manifestação da vida de Deus entre nós, porque o fruto do amor de Cristo é sempre perfeito.

Reler e examinar a centralidade de Cristo em nossa vida como Aliança de Misericórdia nos provoca a olhar a realidade do nosso chamado e o seu papel como seguidor de Jesus. Como um ramo enxertado na videira, purificado pela palavra, nutrido pela permanência e fecundo pelos frutos, assim deve ser nossa vida em comunidade. Os cristãos se definem, portanto, na sua relação com Jesus: não há ramo que tenha alguma relevância se não estiver ligado na videira. O específico da vida daquele que crê em Jesus está na sua fonte, no que nutre sua vida. Todos os homens podem se empenhar na busca da justiça, da paz, de um mundo mais solidário, porém o verdadeiro discípulo faz por Cristo, com Cristo e em Cristo. Os frutos são, consequentemente, o transbordamento da seiva nos ramos. Em poucas palavras, podemos traduzir como “a primazia absoluta da graça”. As palavras de Jesus que nos direcionam este ano “permanecei em Mim e eu em Vós” são como um antídoto ao ativismo que pode estar presente no cotidiano da Comunidade, que pode ser no mundo um sinal ineficaz de um discipulado que foge da sua essência, em razão de que o texto do Evangelho sugere que o discípulo não é aquilo que ele faz, colocando acento sobretudo na qualidade da sua relação com Jesus.

Retomemos meus irmãos o nosso lugar! Somente “enxertados no lado aberto do ressuscitado” viveremos o verdadeiro Pentecostes de Misericórdia. É o Espírito Santo que nos transforma em ramos vivos de Cristo, enche-nos da vida de Cristo, faz Cristo viver em nós. Se nos preocupamos essencialmente em deixar Cristo viver em nós pela graça do Espírito, descobrimos com surpresa e consolação, que mesmo as circunstâncias mais negativas e cansativas são para Jesus espaços de vida nova, espaços de amor e paz. Se Cristo vive, nada está perdido, nada é em vão. Se Cristo vive em nós, o nosso eu não desaba diante de nenhuma ameaça, nem mesmo diante da morte.

Unidos no coração do Cristo! Paz e Misericórdia!

 

PROPOSTA PARA A VIVÊNCIA DA PALAVRA DO MÊS

Vivência pessoal: Qual prioridade tenho na minha vida? Tenho vivido uma vida configurada a Cristo? Permaneço n’Ele? Permito ele viver em mim? O que preciso retomar na vida de oração pessoal e comunitária permitindo uma íntima união com Cristo?

Vivência comunitária: Momento de Efusão no Espírito Santo (com dinâmicas…) em vista da Festa de Pentecostes

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