Paulo Roberto, uma riqueza escondida na fragilidade

A dor desfigura

Nascido no interior de São Paulo, de família humilde, Paulo Roberto nasceu com uma deficiência de pele. Apesar das idas e vindas aos hospitais, teve nesses primeiros anos de vida, poucos momentos de brincadeira e frequência à escola.

Criança feliz gostava de brincar, jogar vídeo game, mas aos 7 anos de idade foi confirmado o diagnóstico: câncer de pele. Sua vida já marcada pela dor, tornou-se um calvário, sendo pouco a pouco desfigurado pelo câncer, ficando cego e entrando para vida eterna aos 19 anos de idade, em janeiro de 2002.

Seu exemplo tornou-se mais vivo e marcante na história da Aliança de Misericórdia, mesmo após sua partida, ainda nos toca as palavras e o testemunho de santidade e realização como ele mesmo afirmava: “eu sou a pessoa mais feliz do mundo!“.

A vida humana é marcada por muitos mistérios e um deles é o mistério da dor e do sofrimento. Perguntas surgem de todos os lados quando o sofrimento nos visita: “Por que tanto sofrimento?”, “Por que tanta dor?”. Muitas respostas são dadas, contudo a maioria não nos traz a paz plena!

Paulo Roberto foi o nosso primeiro irmão vítima de misericórdia, nos conheceu no início da Aliança, quando lhe apresentaram ao Pe. João Henrique, a partir daí iniciou-se uma amizade profunda.

Sua espiritualidade, apesar de ser jovem, era a de um gigante! Nele o mistério da dor e do sofrimento obteve um sentido profundo, e tornou-se para nós um ícone do Carisma.

Um jovem de corpo e saúde frágeis, mas com uma potência interior incrível. Nele, aquilo que parecia maldição, tornou-se fonte de benção, e o que parecia abandono de Deus, ele chamou de dádiva de Deus e encarou como missão: “remissão dos pecados dos outros, daqueles que ainda não conhecem Deus, até mesmo daqueles que já ouviram o nome do Filho do homem, isto é Jesus, e até mesmo daqueles que tiveram a oportunidade de se aproximarem de Jesus, mas preferiram seguir a vida oferecida pelo mundo e seus prazeres.“ (Testemunho 20-04-2001)

O amor transfigura

Existem coisas que nós só podemos aprender com a sabedoria dos mais fracos como o Paulo Roberto, e com certeza uma entre as quais ele nos ensinou foi que a dor e o sofrimento são preciosos, capazes de gerar intimidade com Deus e testemunho para o mundo.

No entanto, uma vida marcada pela doença, pelo isolamento, muitas vezes pelo preconceito, não corresponde aos modelos de felicidade na sociedade atual, e ao contemplar a sua vida poderíamos lamentar e dizer “não há beleza alguma nele, uma face totalmente consumida pelo câncer!”, que dó, “não pôde ter uma profissão” (ele sonhava ser guarda florestal).

Não teve status ou fama alguma… Porém, tinha uma alegria que interpelava, e deixava a muitos abalados nas suas estruturas. Certa vez, ele disse a uma jovem que estava indignada vendo seu sofrimento:

“Eu sou feliz, muito mais feliz do que você, pois neste momento estou sorrindo e você está chorando. Eu sou feliz, conheço o amor misericordioso de Jesus e me sinto dentro desse amor. Se eu tivesse nascido sadio, talvez, hoje, estivesse longe desse amor”.

Paulo Roberto é uma voz que grita a este mundo que despreza os pequenos, os fracos e que busca a plenitude no consumismo. A sua vida revela que tudo passa, que os pequenos são os maiores mestres, que não possuindo nada ele tinha tudo, porque tinha Cristo, e que o mais importante nesta vida é o amor que espalhamos como perfume.

Esses são os mistérios de Deus, “Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado”. (Lc 10,21)

Sim ó Pai, foi do Teu agrado que por meio de pequeninos, como o Paulo Roberto, nos mostrasses o que é ser Aliança de Misericórdia, e nos ensinas quão grande é a Tua misericórdia; que Tu não enxergas aparência, mas vês o coração.

Vês beleza entre as chagas e principalmente acolhes o fraco como forte, o pequeno como grande, o miserável como filho predileto, e que as nossas chagas são fontes de misericórdia para o mundo!