Papa Francisco inclui mártires Coptas no Martirológio da Igreja

O Papa Francisco e o Patriarca da Igreja Copta Ortodoxa, Tawadros II, se encontraram em uma audiência histórica no Vaticano para comemorar o 50º aniversário do encontro entre seus predecessores. Os líderes religiosos se reuniram no Palácio Apostólico do Vaticano, marcando a primeira vez em que os chefes das duas Igrejas estiveram juntos.

 

A Igreja Copta

A Igreja Copta é uma das mais antigas tradições cristãs do mundo. Ela é uma das Igrejas Orientais Ortodoxas e tem suas raízes no Egito. A palavra “copta” vem do termo grego “Aigyptos“, que significa “egípcio”.

A separação entre a Igreja Copta e a Igreja Católica Romana ocorreu no século V, durante o período conhecido como Controvérsia Cristológica. Essa controvérsia teve como foco a natureza de Cristo e sua relação com a divindade e a humanidade.

No Concílio de Calcedônia, realizado em 451 d.C, a Igreja de Roma, juntamente com outras igrejas cristãs, adotou uma definição cristológica que afirmava que Cristo possuía duas naturezas, divina e humana, unidas em uma só pessoa, sem confusão, alteração, divisão ou separação. Essa definição ficou conhecida como “Calcedoniana” ou “Ortodoxa“.

No entanto, uma parte da Igreja no Egito, liderada pelo Patriarca de Alexandria, rejeitou essa definição. Eles alegaram que a fórmula Calcedoniana era uma ameaça à compreensão da unidade de Cristo e que poderia implicar na negação da sua completa humanidade. Essa posição se tornou conhecida como “monofisismo” ou “miafisismo”, que sustenta que Cristo possui uma única natureza divino-humana.

A recusa dos líderes coptas em aceitar a definição de Calcedônia levou a uma separação entre a Igreja Copta e a Igreja Romana. Desde então, a Igreja Copta segue uma tradição cristológica diferente da Igreja de Roma e de outras tradições cristãs que aderiram à definição calcedoniana.

Assim, a Igreja Copta segue uma forma distinta de cristianismo e tem uma tradição litúrgica e teológica própria. Ela é reconhecida por sua rica herança espiritual e por preservar tradições e rituais que remontam aos primeiros séculos do cristianismo. A liturgia copta é conhecida por sua solenidade, uso de cânticos e por manter a tradição do antigo idioma copta em seus rituais.

A Igreja Copta Ortodoxa é liderada pelo Patriarca de Alexandria, que é considerado o sucessor do apóstolo Marcos, que teria fundado a Igreja no século I. O Patriarca da Igreja Copta tem uma posição de grande autoridade espiritual e liderança entre os coptas.

Atualmente, a Igreja Copta possui uma presença significativa no Egito, mas também tem comunidades espalhadas por todo o mundo. Ela desempenha um papel importante na vida religiosa e cultural do Egito e busca promover a unidade entre os cristãos coptas e outras denominações cristãs.

 

O Encontro entre os Líderes

Tawadros II chegou a Roma alguns dias antes do encontro e teve a oportunidade de participar da Audiência Geral realizada pelo Papa Francisco. Ele também fez um discurso na Praça São Pedro, tornando-se a primeira pessoa, além do Papa, a falar nesse evento.

Durante a audiência privada entre os líderes religiosos, ambos proferiram discursos destacando a importância do amor e da busca pela unidade cristã. Tawadros II expressou sua honra em estar na terra onde os apóstolos pregaram e enfatizou que o amor é o caminho para a perfeição, pois Deus é amor. O Papa Francisco agradeceu a aceitação do convite por parte de Tawadros II e expressou sua alegria por esse encontro histórico.

Papa Francisco ressaltou a importância de olhar adiante na busca pela unidade cristã, mas também destacou a importância de lembrar os avanços já feitos nesse caminho. Ele incentivou a gratidão pelos passos dados até o momento e pediu a Deus o dom da tão esperada unidade.

O Santo Padre também lembrou o encontro entre os predecessores Paulo VI e Shenouda III, que resultou na assinatura de uma declaração cristológica comum e na criação de uma comissão conjunta entre as duas igrejas. Essa comissão estabeleceu os princípios orientadores para a busca da unidade e promoveu o primeiro encontro entre as Igrejas Católica e Copta Ortodoxa em 2004.

O Papa também destacou a amizade entre as igrejas e a celebração anual do Dia da Amizade Copto-Católica, proposta por ele e Tawadros II logo após assumirem seus papados. Essa amizade é enraizada na amizade de Jesus Cristo com seus discípulos e serve como um exemplo a ser seguido.

 

Os Mártires Coptas inscritos no livro Martirológico Romano

No encontro, Papa Francisco anunciou a inclusão de 21 mártires coptas no Martirológio Romano, como símbolo de unidade entre as duas igrejas. Os mártires coptas são um grupo de 21 cristãos egípcios coptas que foram brutalmente assassinados em 2015 por militantes do grupo extremista Estado Islâmico (ISIS). O trágico evento ocorreu na Líbia, onde esses trabalhadores egípcios foram sequestrados e executados por sua fé cristã.

Esses mártires, conhecidos como “Os 21 Mártires de Líbia” ou “Os 21 Mártires Coptas”, se tornaram símbolos de coragem e devoção cristã. Tais mortes chocaram o mundo e provocaram uma onda de solidariedade e apoio à comunidade copta, bem como uma condenação global aos atos de violência religiosa.

O martírio desses 21 homens foi amplamente divulgado, com imagens e vídeos do terrível ato sendo divulgados pelos militantes do ISIS. Essa terrível demonstração de intolerância religiosa levou a uma maior conscientização sobre a perseguição enfrentada pelos cristãos em várias partes do mundo.

Como forma de honrar a memória desses mártires e reconhecer sua coragem, o Papa Francisco anunciou que eles seriam incluídos no Martirológio Romano, um registro oficial dos santos e mártires reconhecidos pela Igreja Católica. Essa inclusão representa um gesto de solidariedade entre a Igreja Católica e a Igreja Copta, bem como um testemunho da unidade na fé cristã.

Os mártires coptas são lembrados e venerados pelos fiéis coptas e por muitos cristãos ao redor do mundo como exemplos de fé inabalável e coragem diante da perseguição. Sua memória continua a inspirar e fortalecer a comunidade copta e a promover a busca pela paz, tolerância religiosa e unidade entre os cristãos.

Esses mártires, que foram batizados no sangue derramado por sua fé, são um testemunho vivo da busca pela unidade entre os seguidores de Cristo.

Após a audiência no Vaticano, Papa Francisco e o Patriarca Tawadros II se dirigiram à Capela Redemptoris Mater para um momento de oração juntos. Esse encontro histórico fortaleceu os laços entre as igrejas e reforçou o compromisso mútuo com a busca da unidade cristã. No domingo (14), Tawadros II celebrou uma Liturgia Eucarística na Basílica Papal de São João de Latrão antes de retornar ao Egito.

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