O verdadeiro amor
Sobre o amor às criaturas
Há certos amores que parecem extremamente grandes e perfeitos aos olhos das criaturas, e que diante de Deus são pequenos e de nenhum valor. E a razão é que estas amizades não estão fundadas na verdadeira caridade, que é a caridade para com Deus, mas apenas em certas tendências e inclinações naturais.
Pelo contrário, há outros amores que parecem extremamente reduzidos e vazios aos olhos do mundo, e que diante de Deus serão cheios e muito excelentes, porque os atos correspondentes se fazem apenas por Deus e em Deus, sem mistura do nosso interesse pessoal.
A perfeição do Amor
Os atos de caridade que fazemos por aqueles que amamos desta maneira são mil vezes mais perfeitos, na medida em que tudo é puramente por Deus, mas os serviços e outras ajudas que prestamos àqueles que amamos por inclinação têm muito menos mérito, devido à grande complacência e satisfação que obtemos com a sua realização, e ao fato de, em geral, os fazermos mais por este movimento que por amor a Deus.
Há ainda outra razão que torna as primeiras amizades de que falamos menores que as segundas: o facto de não durarem, uma vez que, sendo a sua causa tão frágil, logo que surge um obstáculo, esfriam e alteram-se; coisa que não acontece àquelas que são apenas em Deus, porque a sua causa é sólida e permanente.
Sinal da amizade
Os sinais de amizade que damos contra a nossa inclinação às pessoas pelas quais temos antipatia são melhores e mais agradáveis a Deus que aqueles que damos atraídos pelo afeto sensível.
E a isto não deve chamar-se duplicidade nem dissimulação, porque o sentimento contrário que experimento reside na parte inferior de mim, e os atos que faço são feitos com a força da razão, que é a parte principal da minha alma.
Assim, aqueles que nada têm de amável são felizes, porque o amor que se lhes dá é excelente, pois vem de Deus.
São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra, doutor da Igreja
Segundo fonte de Evangelho Quotidiano
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