MIR e suas breves histórias de solidariedade
‘Irmã, não lembro qual foi a última vez que meu filho dormiu numa cama limpinha’.
Mãos à obra
O MIR (Mutirão Internacional Restaura-me) aconteceu de 12 a 15 de setembro, com o objetivo de recolher o excesso de lixo nas ruas da favela e a reforma de um barraco para uma família.
Juntou-se à equipe da limpeza, diversas crianças do nosso Oratório São Domingos Sávio. Os educadores realizaram os trabalhos em forma de gincana para que a limpeza fosse uma atividade mais divertida para os pequenos. Todos gostaram muito, crianças, educadores, missionários e voluntários.
Durante todo o MIR, tivemos a presença de 06 missionários da Comunidade Missionária de Villaregia, entre eles, uma italiana e um peruano, além da presença de uma jovem polonesa.
Derrubar e reconstruir
Na quinta (12/09) e sexta (13/09), o foco estava nos trabalhos de limpeza, e ainda na sexta, iniciaram-se os trabalhos para a reforma do barraco. A equipe percebeu, porém, que uma reforma não era o bastante, seria necessário derrubar e construir outro barraco.
“As madeiras estavam pobres, tinha apenas alguns remendos de telhados, coberto com uma lona, e não tinha piso, era terra com muito entulho, tomado de muitos ninhos de ratos.
Todas as coisas que tinham na casa, desde material de cozinha, cama, enfim tudo, nós precisamos jogar fora, pois tudo tinha vestígio de rato. Encontramos um rato morto no motor da geladeira”, relatou a missionária de vida, Roberta, coordenadora dos trabalhos do MIR.
A Providência Divina foi abundante. Um grupo de amigas da Aliança fez uma campanha e conseguiu levantar o valor para comprarmos todo o material para a construção do novo barraco.
Mais operários para messe
O final de semana foi de muito trabalho e, contando com a ajuda de mais 30 voluntários, a equipe conseguiu levantar as paredes, colocar telhado e fazer o chão de concreto. Tudo muito simples, mas novo e bem feito.
Nesta nova casinha irão morar André e Isaías, seu filho de sete anos. Os missionários vêm acompanhando esta pequena família há algum tempo. André é viúvo há 4 anos, e de diversas formas, a Aliança tenta ajudá-lo a se reerguer na vida.
Desde o momento em que começaram a ser acompanhados, o pai testemunha uma significativa mudança interior. Dizia, que até conhecer a Aliança de Misericórdia não tinha nenhuma esperança e que nós agora levamos essa esperança a ele. Hoje ele sonha e tem o desejo de viver, de se cuidar para cuidar do filho.
Concluindo a Missão
A construção da estrutura foi finalizada no domingo (15/09), porém, somente na terça (17/09), depois do tempo necessário para secar o concreto do chão, foi realizada a mudança. A fraternidade Belém-Moinho doou duas camas que tinham em um quartinho.
Além disso, chegaram doações de todos os utensílios para cozinha, e itens de cama, mesa e banho. Roberta relata que foi um momento de muita emoção para o pai e para ela:
“Foi forte, pois quando arrumei as camas, o André se emocionou. E eu fiz questão de arrumar como nós arrumamos em nossas casas. Eu perguntei pra ele porque estava chorando. Ele me disse: ‘Irmã, não lembro qual foi a última vez que meu filho dormiu numa cama limpinha’. E daí eu chorei junto! Nós não temos noção de como cada gesto transforma o coração das pessoas simplesmente por se sentirem amados”.
O amor é contagioso
Roberta contou também que aquele gesto se irradiou pela favela como um simples faixo de luz, que mesmo pequeno, é capaz de iluminar todo ambiente.
Como nós tivemos que derrubar todo o barraco, e fazer de novo, ele ficou sem água e luz, e durante a mudança eu fui ver esses detalhes. Graças a Deus para fazer a elétrica, um vizinho do André, que também ajudou a fazer o barraco, cuidou de toda esta parte.
Enquanto eu procurava na favela alguém para me ajudar com a questão da água, um pastor de uma das igrejas evangélicas da favela, escutou, se aproximou e me disse que poderia ajudar a ver o que faltava de material para instalar a água.
E assim foi feito. Com ajuda da Providência, comprei tudo que faltava e perguntei se ele poderia fazer [o serviço], sendo que entendia do assunto. Ele o fez, e no meio disso, mandei uma mensagem perguntando quanto eu precisaria pagar a ele e para minha surpresa, ele me disse: “Fique em paz!”.
Agradeci a CARIDADE e logo me respondeu: “Fui contagiado por vocês e quero ajudar! Confesso que me emocionei e no meu coração uma certeza ficou mais clara: vale a pena escolher pela caridade gratuita, pois sempre [ela] vai contagiar as pessoas”.
Partilho isso, porque é importante ressaltar que na favela não é comum as pessoas ajudarem de graça e durante todo o MIR eu vivi experiências parecidas.
Tinham momentos que faltava alguma ferramenta; eu ia nos vizinhos pedir emprestado, e certa vez escutei: “Não dou conta de ver vocês ajudando vagabundo. Porém, quando eu lembro que eu também era, e vocês não desistiram de mim… toma pode pagar tudo que precisar”.
Chega a ser engraçado. Essa fala foi de um ex-traficante, que hoje, graças a Deus leva uma vida honesta.
Além da limpeza e construção de um barraco…
Nós pintamos a frente de muitos outros barracos, e cada barraco pintado uma semente lançada. Explico: Na porta de cada barraco pintado, nós colocamos uma plaquinha de madeira pirogravado um versículo bíblico ou uma frase de santo.
Ficou tão bonito que vários se aproximaram agradecendo, outros pediram que fizéssemos nos barracos deles também. O desejo era de fazer na favela inteira, mas não tivemos forças. Isso com certeza será uma meta para o próximo MIR. O Moinho vai ficar parecendo uma vila colorida.
Deus é bom! Nós também colocamos placas na entrada da favela, em uma parede que pintamos e ali foi lançada uma semente para que todos que entrarem possam ver (inclusive os que entram para comprar drogas). Nós acreditamos na Força da Palavra!
Agradecemos de coração a todos os voluntários que compareceram também no final de semana, que se juntaram a nós e aos jovens da formação do discipulado.
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