Igreja da Venezuela se pronuncia sobre a eleição de Maduro
Os Bispos venezuelanos pronunciaram-se um dia antes da posse do presidente Nicolás Maduro (10/01). Eles confirmaram seu apoio à população rejeitando qualquer pacto com o regime ditatorial.
Mandato de origem ilegítima
Durante a leitura da exortação pastoral que tem o título “Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequenos, foi a Mim que o fizeste” (Mt 25, 40), os bispos confirmaram suas orientações pastorais, avaliaram a sua missão de pastores do povo de Deus e ratificaram a comunhão da Igreja venezuelana com o Papa Francisco.
“Vivemos um regime de fato, sem respeito às garantias previstas na Constituição e os mais altos princípios da dignidade das pessoas”, lido pelo Cardeal Baltazar Enrique P. Cardozo, administrador apostólico de Caracas, acompanhado pelo Bispo de La Guaira, Raul Biord Castillo e do Bispo de Los Teques, Freddy Fuenmayor.
Eles declararam como ilegítimas as eleições de 20 de maio de 2018, assim como a Assembleia Constituinte imposta pela poder executivo
“Era ilegítimo, como é a Assembleia Nacional Constituinte imposta pelo poder executivo”, disse o cardeal Cardozo. “Portanto, o objetivo de iniciar um novo mandato presidencial em 10 de janeiro de 2019 é ilegítima na origem, e abre uma porta para a falta de governo, porque ele não tem suporte democrático na justiça e direito”, explicou o arcebispo de Mérida.
(…) Como pastores, temos a obrigação de nos perguntar sobre o sentido ético da situação muito séria que estamos vivenciando. Nossas avaliações nascem de uma avaliação moral da dignidade humana violada, do bem comum desrespeitado e da verdade manipulada “, disse ele em tom de reflexão.
“É moralmente inaceitável”
Com a convicção de estar disposto a trilhar o mesmo caminho do profeta e mártir, Oscar Arnulfo Romero, Dom Baltazar leu um trecho conhecido do Arcebispo de frases San Salvador: “Se há um conflito entre o governo e a Igreja, não é porque a Igreja seja um adversário, mas porque o conflito já está estabelecido entre o governo e o povo, e a Igreja defende o povo”, (homilia de 1979).
“O povo venezuelano vive em uma situação dramática de extrema gravidade devido à deterioração do respeito por seus direitos e sua qualidade de vida, imerso na crescente pobreza e sem ninguém a quem recorrer. É um pecado que clama ao céu para querer manter o poder a todo custo e tentar prolongar o fracasso e a ineficiência das últimas décadas: é moralmente inaceitável!”, trecho da exortação.
E ainda o arcebispo de Mérida disse que Deus não quer sofrimento na população sob a subjugação da injustiça. Por essa razão, ele mostrou a urgência de “aceitar o clamor popular de uma mudança, de um acordo para uma transição esperada e procurada pela imensa maioria”.
Como a Venezuela se tornou uma ditadura?
A Venezuela era a democracia mais duradoura da América Latina desde 1958, em comparação com o demais países. Passaram por grande crise econômica na década de 80, por causa da baixa do petróleo, o que gerou também grandes conflito políticos.
No início dos 90 um militar, chamado Hugo Chavez junto com outros resolveu derrubar o governo por meio de golpe militar. Não deu certo, porém ele cresceu em popularidade.
1994 – O presidente eleito, Rafael Calderas resolveu anistiar o Chavez que teria um julgamento certo, acusado de traição. Perdoado Chavez continuou crescendo em popularidade denunciando o governo como um elite corrupta.
1999 – Chavez concorre às eleições presidenciais e promete, se eleito, resolver os problemas das injustiças sociais e distribuir as riquezas do petróleo. E assim, tornou-se presidente com 56% dos votos.
Além do mais, conquistou com 91% de apoio na Assembleia Legislativa o que abriu caminho para refazer a Constituição.
Desinteresse da população
A população porém, não compareceu em peso para o referendo da nova constituinte; somente 47% da população manifestou seu voto.
2002 – Hugo Chaves é reeleito sob a nova Constituição e a oposição começa a questionar a legitimidade do resultado e tentam dar um golpe de Estado para tirá-lo do poder.
Tal evento endureceu o governo. Ele estabeleceu regras mais rígidas como por exemplo, um controle maior do Estado na compra e venda de dólares. Isso gerou uma consequência dura sobre o país: como a Venezuela importava muito alimento, o governo passou a selecionar as empresas que teriam alimentos para vender.
2003 – para frente começa uma grande escassez de comida e está fome se torna uma ferramenta de dominação e poder. Portanto apoiar o governo significa comer e ser contra significa não comer. Isso se tornou um argumento de recrutamento para as forças policiais “se aliste aqui há alimentos”.
A lei dos homens
O presidente Hugo Chavez também fez manobras para subordinar o Poder Judiciário ao Executivo nomeando mais juízes a seu favor. Para se ter uma ideia deste feito, de 2004 a 2013 das 45 mil decisões judiciais que foram para a corte, nenhuma foi contra o governo. A Suprema corte era do presidente e eles decidiam o que era a lei.
Os opositores do governo foram expostos, além das pessoas que pediram o referendo e que os votaram contra o governo. Começa a perseguição. A biometria e o cadastro de todos os eleitores permitem que o Estado saiba quem são as cidades que estão contra o regime.
2005 – a oposição boicota as eleições e praticamente entrega o Poder Legislativo para os chavistas. Emissoras de TV começam a ser intimidadas e obrigadas a mudar horários de programação: os programas que falavam sobre política foram substituídos por entretenimento.
Ele criou a milícia bolivariana que conta hoje com 1.6 milhões de pessoas, que recebem comida para lutar pela revolução e expulsar e até matar, se for necessário, os opositores. Apoiar o governo é questão de sobrevivência. Obs.: a população venezuelana perdeu em média 11 kg nos últimos anos.
A ditadura Bolivariana
2013 – Maduro sobe ao poder.
2015 – A oposição se organiza para inspecionar as eleições e ganha cadeiras na Assembleia Legislativa, mas Maduro ignora e utiliza da força para se manter ao poder.
2017 – Iniciam-se os protestos nas grandes cidades, principalmente na capital, Caracas. O governo começa a desligar as metrôs, diminuir a frota de ônibus e colocar tanques de guerra e milícias armadas nas ruas para impedir as manifestações. Maduro convoca uma nova Constituinte para mudar mais uma vez a Constituição.
Os protestos foram resolvidos com assassinatos de muito civis.
2018 – o governo organizou as eleições com os três principais concorrentes impedidos de concorrer; um está preso e dois foram expulsos do país. O único candidato era Maduro que, claro foi reeleito.
Rezamos para que o país seja pacificado e para que, aqueles que tem poder de mediar, possam agir com sabedoria e socorrer a população que sofre.
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