É preciso saber descansar para saber viver!
No dia 17 de setembro, o Papa Leão XIV realizou a sua catequese e trouxe uma reflexão muito atual e valiosa sobre o que ele intitulou de “o mistério do Sábado Santo”. O Papa fez uma belíssima e profunda meditação sobre o tempo de espera, as pausas, o descanso e o silêncio fecundo de Deus. Com a vida, morte e ressurreição de Jesus, aprendemos que todos esses pontos citados pelo Papa Leão XIV são de extrema importância e fundamentos da vida.
A Bíblia nos ensina no livro do Eclesiastes no capítulo 3, versículo 1 que “há um momento para tudo e um tempo para todo propósito debaixo do céu”. Se existe, de fato, um tempo para tudo, porque hoje em dia a maior parte das pessoas costuma dizer que “não tem tempo” para parar e descansar? Ouvimos muitas vezes que precisamos trabalhar, produzir, construir uma carreira profissional de sucesso e esse passou a ser o maior objetivo de muitas pessoas.
No mês de setembro acontece a importante campanha do “Setembro Amarelo”, que visa a conscientização e prevenção do suicídio e a valorização da vida. Essa campanha existe para potencializar a reflexão e visibilidade deste tema tão primordial, mas a sua importância precisa estar diante dos nossos olhos durante o ano inteiro. Neste texto, vamos focar na valorização da vida e na fundamental importância de saber parar e de saber descansar.
A vida tem um ciclo muito bonito e isso é totalmente observável quando contemplamos a natureza. Pensemos juntos: uma roseira não nasce grande, florida. Ela começa o seu processo como uma pequena semente. Ela precisa ser plantada na terra, regada, cuidada. Aos poucos, ela vai crescendo e aparecendo fora da terra. Até que ela finalmente floresça muitas coisas acontecem. A maior parte desse processo acontece no silêncio, na troca de estações, no amadurecimento daquela semente. Em cada estação algo diferente acontece com ela.
O mesmo processo acontece conosco, seres humanos. Tudo em nossa vida exige um tempo de espera, uma pausa, um processo para que o desenvolvimento aconteça. Mas, o que eu vivo enquanto espero? O que eu faço enquanto espero? A vida acontece na atividade e na pausa, no trabalho e no descanso, no que eu consigo ver e no que eu ainda não sou capaz de enxergar, nas palavras e no silêncio. Talvez seja esse o ponto em que nos perdemos.
Tal como as estações, em cada momento da nossa vida, somos chamados a viver algo diferente. A vida acontece enquanto eu trabalho, enquanto eu descanso, enquanto estou com minha família, enquanto estou sozinho, enquanto estou feliz e enquanto estou triste. A vida não para, ela é contínua. Todos esses momentos são importantes e tem seu motivo de ser. Ninguém aguentaria viver apenas um aspecto da vida, todos eles se complementam e tornam a vida a preciosidade que ela é.
Para Viktor Frankl, fundador da Logoterapia (uma abordagem da Psicologia), o homem é um ser que está sempre em busca de sentido. Frankl ensina que existem três caminhos possíveis para encontrar sentido: a realização de valores criativos, vivenciais e de atitude. Os valores criativos se referem a capacidade do homem de criar algo, de entregar algo ao mundo e aos outros. Aqui se insere a realidade do trabalho.
Para Frankl, pela vivência do trabalho, ou seja, de criar e entregar algo, o homem revela quem apenas ele pode ser e o que apenas ele pode realizar nesse mundo. Nessa perspectiva, o primordial não é o que se faz exatamente, mas o “como” se faz. Nessa compreensão, o trabalho é uma forma de entrega do que se tem de melhor em si mesmo para o outro. Entretanto, existem outras duas formas de se encontrar um sentido. Os valores vivenciais se referem às experiências que podemos ter com a beleza e com o amor. Aqui se insere os momentos nos quais ouvimos uma música, observamos uma obra de arte, vivemos um momento com alguém que amamos e somos alcançados pela beleza e pelo amor.
Existe ainda a realização dos valores de atitude, como uma forma de encontrar um sentido. Frankl nos ensina que nem sempre poderemos criar algo ou viver uma experiência com o amor e com a beleza, mas ainda assim podemos encontrar um sentido. Frankl se refere aos momentos desafiadores, quando nos deparamos com a dor, com um sofrimento inevitável. Nesses momentos, somos chamados a escolher a maneira com a qual viveremos e enfrentaremos esse sofrimento. Essa postura que adotamos diante do sofrimento pode nos fazer encontrar um sentido.
A vida sempre tem um sentido – na alegria ou na dor, no trabalho ou no descanso. O que muitas vezes nos falta é compreensão do que realmente é valioso e prioridade. Trabalho sem descanso se torna ativismo e pode gerar uma série de sofrimentos. Descanso sem trabalho se torna uma vivência vazia, desconectada da vida e gera muito sofrimento. Ambos – trabalho e descanso – coexistem e precisa ser dessa forma. O trabalho favorece o descanso. O descanso potencializa o trabalho. Um precisa do outro para existir e existir bem.
Se eu não sei descansar, também não saberei viver bem. É no descanso que recuperamos as forças, recarregamos as energias, cuidamos de nós mesmos para depois voltar a criar, ofertar ao mundo e aos outros o que temos de melhor. Muitas vezes, o “não sei descansar”, “não consigo descansar”, “não consigo me desligar” está ligado a uma vivência ansiosa da vida. A ansiedade é uma antecipação, ou seja, eu tento vivenciar algo que ainda não é possível, que ainda não existe.
A ansiedade, aos poucos, vai nos tirando a capacidade de aproveitar o aqui e o agora, o hoje, de viver bem o presente para construir o melhor futuro possível. Ela nos prende em nossos medos e vamos podando em nós toda a possibilidade de aproveitar o tempo presente, o que a vida me oferece e me convoca a viver agora. Aos poucos, nos acostumamos a temer o futuro e a nos distanciar do presente.
O sentido se revela no hoje, em cada momento! Só é possível encontrar sentido quando eu acolho o presente, respondo e vivo da melhor maneira possível o agora, o que está diante de mim agora: seja o trabalho, o descanso, a dor, a alegria, o momento com minha família, o lazer, a espera. Eu te convido a fazer essa reflexão: como você tem vivido a sua vida? O que você tem priorizado? O que tem evitado? Quais escolhas tem feito? O que as suas escolhas estão dizendo sobre você e o seu modo de viver? Qual vida você tem construído?
Se dê tempo para pensar sobre isso e depois se permita fazer diferente, fazer melhor: trabalhando, criando e ofertando o melhor de você aos outros; aproveitando cada tempo e momento com quem você ama, contemplando a beleza, as pessoas e o mundo à sua volta; não se rendendo à dor ou aos seus “cenários impossíveis”, mas escolhendo como você viverá, como passará por cada desafio. É preciso saber parar, saber descansar!
Enquanto há vida, há esperança, há oportunidades de se fazer diferente, de viver melhor. Não tenha medo de encarar a sua realidade hoje e perceber o que precisa melhorar. A nossa vida é construída a cada decisão! Talvez, essa seja a sua primeira parada necessária: pausar os ruídos, desligar o piloto automático, parar os pensamentos negativos e começar com passos simples, mas possíveis.
Tomando o exemplo da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, percebemos que Ele não se poupou em nenhum momento e viveu tudo o que era necessário, no momento necessário. Com esperança, tenha a coragem de olhar para você, para a sua vida e perceber o que pode ser diferente agora: diminua o tempo de telas, aumente o convívio e as experiências com as pessoas que você ama, tenha mais contato com a natureza, ouça músicas que te elevem, tenha momentos para descansar e se recuperar, trabalhe com mais amor focando em gerar transformações na vida das pessoas que recebem o seu trabalho…
Esses passos diferentes nos ajudam a saborear mais a vida e nos ensinam a viver! A vida é mais do que uma corrida sem pausas, é mais do que cumprir uma rotina sem sentido. A vida é muito boa, mas precisamos aprender a viver! Para aprender a viver, é necessário aprender a parar, a descansar!
Rosana Ribeiro Menezes da Silva
CRP 06/125154
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