Dia da Consciência Negra: a importância da reflexão da história brasileira
“Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneçam firmes e não se deixem submeter novamente a um jugo de escravidão” (Gálatas 5, 1), nos recorda São Paulo nesse Dia da Consciência Negra.
“A liberdade é uma característica fundamental da pessoa humana criada à imagem e semelhança de Deus. É através dela que o homem se orienta para o bem, busca a sua felicidade plena” (Redação A12).
Atentar contra a liberdade, viola a dignidade da pessoa humana e na história da constituição da sociedade brasileira sofremos hoje o reflexo dessas ações.
Quem é o melhor?
Para contextualizar, naturalmente nascemos com o sentimento de “o melhor”. Este sentimento, unido ao sentimento da comparação gera riscos à harmonia social. Um exemplo, é afirmar que o trabalho do médico é melhor que o trabalho do professor, ou ainda, que o trabalho do professor é melhor que o trabalho do contador. Esta conotação quando estabelecida em uma sociedade pode causar a hierarquização social. Afinal, se existe um melhor é porque também existe um pior, como se a nossa sociedade fosse constituída de degraus nas profissões que a compõem.
Essa análise entre melhor e pior é necessária para ilustrarmos o que aconteceu com nossa sociedade brasileira, em que, a hierarquização social foi estabelecida.
Uma classificação desumana
A história nos revela um país escravista, composto por um primeiro escalão colonizador, constituído de homens brancos e mulheres brancas. O segundo escalão de nativos da terra, no nosso caso os indígenas, também contemplado de homens e depois mulheres. Por último, um terceiro escalão escravizado de homens e mulheres negros.
Esta hierarquização social constatada nas Américas proporcionou em nosso país a hierarquização de direitos, o que é marca indelével do racismo. Infelizmente, não apenas o racismo, mas a hierarquização de direitos tem como consequência diversas intolerâncias, como xenofobia, homofobia, violência contra as mulheres, violência religiosa, extermínio dos nativos.
“Uma sociedade justa pode ser realizada somente no respeito pela dignidade transcendente da pessoa humana. […] Em nenhum caso a pessoa humana pode ser instrumentalizada para fins alheios ao seu mesmo progresso, que pode encontrar cumprimento pleno e definitivo somente em Deus e em Seu projeto salvífico” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 132-133).
Consciência Negra
O dia da Consciência Negra foi instituído para refletimos sobre a história esquecida de um povo escravizado, humilhado e cisado de seus direitos como cidadão brasileiro. O povo negro não podia ter terras em seu nome ou ainda frequentar a escola, quando “liberto”, como sobrevivência e resistência, procurou refúgio nas periferias.
O professor Felipe Aquino destaca que no Brasil, o papel da Igreja frente à escravatura, preparou a libertação dos escravos. E revela que o Pe. Antônio Vieira (1608-1697), assumiu posição de censura aberta aos patrões. Disse ele:
“Saibam os pretos, e não duvidem, que a mesma Mãe de Deus é Mãe sua… porque num mesmo Espírito fomos batizados todos nós para sermos um mesmo corpo, ou sejamos judeus ou gentios, ou servos ou livres” (Sermão XIV).
Nossa miscigenação reflete a nossa essência de unidade que sonhamos para nosso país, mas não proporciona equidade. Assim, o Dia da Consciência Negra foi estabelecido para pensarmos juntos e reconhecermos que, independente da nossa cor de pele, somos filhos de Deus, descendentes de africanos, que com sangue, suor e a própria vida, contribuíram para a construção da sociedade brasileira. E precisamos, como cristãos, manifestar nosso senso de respeito à igualdade de direitos, ações afirmativas e políticas públicas.
Izadora Souza
Missionária de Aliança e Colaboradora
Fontes:
https://cleofas.com.br/a-igreja-era-a-favor-da-escravidao/
https://www.a12.com/redacaoa12/espiritualidade/e-para-a-liberdade-que-cristo-nos-libertou
https://www.a12.com/redacaoa12/quilombolas
https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/histedbr/article/view/8640246/7805
https://www.a12.com/redacaoa12/espiritualidade/e-para-a-liberdade-que-cristo-nos-libertou
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