A Somália não é meu próximo
Nesta última semana a Somália foi flagelada por mais um atentado. Foram mais de 300 mortos, na cidade de Mogadíscio, o segundo maior atentado depois do 11 de setembro. As imagens chocam e revoltam, mas, o que mais espantou, pelo menos a mim, foi o desdém midiático.
A notícia foi dada como uma nota meio de várias, e pronto; a Somália não é mais da minha conta. Será?
No Evangelho de São Lucas capítulo 10, 30-37, lemos mostra que, as pessoas que vejo sofrendo através da mídia também são o meu próximo:
“Jesus então contou: Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu nas mãos de ladrões, que o despojaram; e depois de o terem maltratado com muitos ferimentos, retiraram-se, deixando-o meio morto. Por acaso desceu pelo mesmo caminho um sacerdote, viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, chegando àquele lugar, viu-o e passou também adiante. Mas um samaritano que viajava, chegando àquele lugar, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; colocou-o sobre a sua própria montaria e levou-o a uma hospedaria e tratou dele. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo-lhe: Trata dele e, quanto gastares a mais, na volta to pagarei. Qual destes três parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos ladrões? Respondeu o doutor: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Então Jesus lhe disse: Vai, e faze tu o mesmo”.
Neste contexto Jesus pede para que usemos de amor e misericórdia para com quem sofre ao nosso lado, porém, hoje em dia, com o avanço da mídia, da internet, as notícias chegam para nós em tempo real; aquele que era distante se torna o meu próximo.
Fatos como, desastres naturais, tragédias, foram transmitidas sem cessar (furacão Irma, atentado em Las Vegas), campanhas para ajudar pessoas com doenças raras, enfim tudo se espalha e as distâncias se encurtam.
Me lembro da vez que li o depoimento de Glória Polo, uma mulher colombiana que sobreviveu ao ser atingida por um raio.
Quando ela voltou do coma, contou para o mundo a experiência que fez de quase morte; o famoso filme da vida. O espantoso foi que Jesus mostrou-lhe todas vezes em que ela, tendo a oportunidade de fazer o bem não o fez. Ela viu as consequências desses atos e um deles é muito parecido com a situação da Somália.
Jesus mostrou o dia em que ela estava preparando o jantar assistindo ao telejornal. Quando começou uma notícia de uma grande inundação que atingiu determinada cidade em outro país, ela pensou: “Ah! Mais desastres não quero ver isso” – e logo mudou de canal. O fato é que naquela reportagem uma das pessoas entrevistadas era um conhecido seu que estava desesperado tentando entrar em contato com sua família e fazia um apelo pela TV. Na sequência Jesus mostrou o quanto aquela pessoa sofreu atrás de notícias.
Glória estava insensível. O sofrimento das pessoas não era da sua conta, pois, sua vida tinha que continuar. Ela foi cobrada, no dia da sua “quase morte”, por ter passado indiferente diante de uma notícia que a princípio não iria alterar sua vida, mas que agora, estava definindo o destino da sua alma.
E nós? Quando lemos, ou assistimos notícias como essas, passamos ao lado e fingimos não ver sem fazer nada?
As distâncias se encurtaram e agora, não só Las Vegas, Paris, Madri, mas também a pobre Somália é o meu próximo.
Infelizmente a mídia mundial segue uma agenda de interesses e, países pobres como a Somália, Nigéria, dentre outros, que estão sendo devastados por terroristas, simplesmente não importam. Nós cristãos podemos oferecer nossas orações e sacrifícios, nossa compaixão, pois, hoje não dá para passar desapercebido ao lado de alguém que sofre; não são imagens de um filme, mas são a mais pura realidade
Oremos por todos os sofredores do mundo, pois, Cristo também sofre neles.
Fernanda Tabosa
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