A Mulher Samaritana: transformada por Jesus 

O Encontro com a verdade (Jo 4,1-42)

O quarto capítulo do Evangelho de São João é o mais longo de todo o Novo Testamento. A mulher samaritana representa todos nós, toda a humanidade em busca do verdadeiro “Esposo”, do Messias!

Imaginemo-nos mergulhados, envolvidos pessoalmente dentro desse encontro, pois tenho certeza de que o Espírito Santo deseja falar para cada um muito mais do que as poucas indicações que posso oferecer nessa pobre reflexão

“Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva” (Jo 4,10).

“Jesus deixou a Judeia e foi de novo para Galileia” e, por isso, “era preciso passar pela Samaria” (Jo 4,3-4). Na verdade, geralmente, esse caminho era feito passando pelo outro lado do Jordão, evitando passar pela Samaria. Entendemos, então, que “era preciso” tem a mesma necessidade do caminho de Cristo para a Cruz: “Seria preciso que o Messias sofresse tudo isso para entrar na Gloria” (cf Lc 24, 26).

Em outras palavras, há uma urgência, uma necessidade no amor. Esse amor que “nos impulsiona” – como  diz São Paulo em 2Cor 5,14 – a dar a vida, para que “não se perca nenhum desses pequeninos”! Assim é o Coração e a Vontade do Pai (cf Jo 6,39). 

Jesus sempre quebra preconceitos. Para Ele não existem pessoas excluídas ou perdidas e, se perdidas fossem, Ele sempre deixaria as noventa e nove ovelhas para procurar aquelas que se perderam. Jesus quebra os preconceitos ao entrar na Samaria e falar a sós com “uma mulher”.

Isso era proibido para um Mestre e surpreende primeiro a mesma mulher e, depois, os discípulos. Outra reflexão importante: a cidade de Sicar era a antiga Siquém, a primeira “terra prometida” para Abraão. Aqui havia os carvalhos de Mambré (cf. Gn18), onde os três Anjos apareceram e renovaram com ele a promessa da Aliança da posteridade.

Aqui estava o poço de Jacó e aqui Jacó foi chamado de Israel pela primeira vez; esse poço, Jacó o doou para José, o filho vendido pelos irmãos que, na sua misericórdia, restabeleceu a fraternidade com eles e salvou toda a família da carestia.

Não por acaso, José é, biblicamente, o primeiro modelo de Jesus, o Messias que ia restabelecer a salvação, a unidade e todo o gênero humano, como família dos filhos do único Pai, irmãos reconciliados, unidos no Seu Espírito…. Quanta riqueza de simbologia!

Outra palavra-chave é “mulher”! João usa o termo mulher só para Maria, em Caná e aos pés da Cruz e, no fim do evangelho, para Maria Madalena, após a ressureição de Jesus porque, pela Sua morte foi resgatada e tornou-se “nova criatura”.

Aqui Jesus chama a samaritana de “mulher”, após reconhecê-Lo como Salvador. Jesus lhe devolve, assim, sua dignidade de mulher, de esposa e de mãe.

Nela o Senhor quer abraçar a humanidade sem rumo, cega, sedenta, devolvendo-lhe a herança do Pai, resgatando a sua filiação perdida. O texto ainda coloca inúmeros outros elementos: o poço, o alimento, o lugar de adoração, a divisão religiosa entre Jerusalém e a Samaria, a semente e a colheita … O “coração” deste texto está nas palavras água e sede: sede de Deus e sede do homem. 

“Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva” (Jo 4,10).

A sede expressa o desejo mais profundo da existência. A salvação está no encontro de dois desejos: “Deus nos deseja”, Ele é o Deus amante em busca da criatura amada. Da mesma forma, o nosso coração só sacia sua sede de amor nos braços do Amado. Jesus está sedento e, cansado da viagem, senta-se junto à fonte na hora mais quente do dia. “Jesus lhe disse: dá-me de beber!” (Jo 4, 7). Não podemos não ouvir aqui o eco do grito do mesmo Cristo na cruz na mesma hora: “Tenho Sede!” (Jo 19, 28). 

Um Deus que “precisa do meu amor”, que se faz “Mendigo de amor”, sedento do meu amor. É paradoxal! Este amor é Ele mesmo. E Ele nos faz capazes de Si, pelo desejo que Ele mesmo nos dá de amar. Ele pede que O amemos para despertar em nós a sede de amor que só Ele pode saciar: “Quem tem sede venha e beba e do seu seio jorrarão rios de água viva!” (Jo 7, 37).

“Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva” (Jo 4,10).

A mulher é samaritana e adúltera. Ela já teve seis maridos, ela busca água em poças lamacentas, estagnadas, que não souberam saciar sua sede de amor. Agora encontra a Fonte da Água Viva nAquele sétimo homem da sua vida, que é Jesus, um Deus sedento do seu amor, que não se envergonha de achegar-se a ela como peregrino, estrangeiro, cansado e sedento. 

É o anúncio deste amor do Pai que não se podia mais conter, a ponto de partir o Coração do Filho e derramar-se sobre a humanidade sedenta como uma Aliança eterna, uma “Aliança de Misericórdia”. Eis que o “Sedento” se torna “Fonte de Água Viva” para a samaritana. Este “estrangeiro” se torna íntimo de seu coração, revelando os mistérios da sua existência e todo o seu passado. Eis que a pecadora se torna testemunha do Messias, enviada para anunciar a Sua Misericórdia. 

Eis o sentido da nossa vida: acolher o dom do Pai, o Seu amor, esta Água Viva que o Senhor nos traz; acolher o Seu Espírito que nos torna família, que destrói o muro de separação do pecado, que nos torna filhos e irmãos, que transforma os pecadores em santos e testemunhas da Sua Misericórdia, que nos torna família em missão. 

“Se você conhecesse o dom de Deus e quem lhe está pedindo água, você lhe teria pedido e ele lhe teria dado água viva” (Jo 4,10).

Por isso, a nós, “Samaritanos deste tempo”, pecadores amados e resgatados, cabe hoje adorar a Deus em espírito e verdade e levar o anúncio da Misericórdia até os últimos confins da Terra.

Os abençoo de coração!

Pe. João Henrique

Fundador

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