A depressão no meio religioso. Como assim?
Estamos no fim de setembro, mês que, no Brasil, são realizadas diversas ações de prevenção ao suicídio e de conscientização para a saúde mental.
A depressão existe e precisa ser tratada
A depressão é séria, causa grande sofrimento. Com tantas informações desencontradas e preconceitos em alguns casos, a ideia desse texto é mostrar que a depressão existe, e que ela não é falta de Deus, como algumas pessoas erroneamente falam, e que precisa ser tratada com a ajuda de profissionais.
Ela é uma das grandes causas do suicídio e já é chamada de “o mal do século”. Não é uma enfermidade nova, em toda a história encontramos casos de depressão, inclusive dentro da Igreja.
A depressão no meio religioso?
A depressão pode acometer qualquer pessoa, sendo este um religioso, ou um médico, um psicólogo, uma dona de casa… Dos mais bem providos e entendidos aos menos favorecidos.
Pelos relatos biográficos, é possível notar que alguns santos, provavelmente, também passaram por um período de depressão. Como nos casos a seguir:
Santo Inácio de Loyola: Na sua autobiografia, vemos que depois da sua conversão, Santo Inácio teve que lutar contra os escrúpulos, que causaram de leve a uma depressão grave, a ponto de o Santo pensar em suicídio. Deus o retirou do abismo de trevas e sofrimentos interior, lhe mostrando as grandes coisas que viria a fazer em nome de Deus.
Através da sua experiência, Santo Inácio dá 3 conselhos para vencer esse momento:
1- Não desistir.
2- Permanecer em diálogo com Deus através da meditação.
3 – Perseverar com paciência.
São João Maria Vianny: O Santo Cura d’Ars vivia diariamente com um sentimento de inutilidade, e diversos sintomas depressão ao longo de toda sua vida. Mas, renovava sempre a determinação de perseverar e recorria sempre a Deus pedindo forças.
Santo Agostinho: Em seu livro autobiográfico “Confissões”, podemos ver que Santo Agostinho enfrentou durante toda sua vida altos e baixos de instabilidade psíquica, um dos grandes sintomas da depressão. Por meio da oração, ele se levantava desses abismos, e utilizava da ocupação e trabalho como remédio para vencer a batalha.
Santa Teresa Benedita da Cruz: Santa Edith Stein, como também é conhecida, relata que sofreu em diversos momentos de depressão, onde diz:
“Encontrei-me gradualmente em profundo desespero… Eu não podia atravessar a rua sem querer que um carro me atropelasse e eu não saísse viva dali”.
Mas, ao longo dos anos e com a ajuda da graça, aprendeu a lidar com a depressão, olhando para a realidade Eterna e se consolando o céu.
Testemunho – “Não queria que esse processo acontecesse com ninguém”
A missionária Vanessa Paula, após os sintomas de uma síndrome de Burnout, enfrentou a depressão por um tempo e contou com a ajuda de amigos, de profissionais, de medicação e, acima de tudo, da sua fé.
Sobre a luta e como enxerga esse período, ela relatou:
“Em um período de um ano e meio eu fiquei muito mal. E fui me levantando devagar. Com a ajuda da terapia, reduzi as atividades, aprendi a me colocar limites, diminuir o ritmo e aceitar que nem tudo iria conseguir concluir.
Sinto que Jesus me ajudou muito nesse processo. E hoje vejo que esses limites que me coloquei não me fizeram negar uma vocação, uma entrega completa. Mas, pelo contrário, me faz dar mais de mim com qualidade, amar com qualidade. Me entregar inteira e com aquilo que eu tenho. Se eu posso dar mais, dou mais. Hoje tenho essa maturidade de separar as coisas.
Eu tenho convicção do que esse processo fez comigo. Aquela “nuvem” que parecia estar só em cima de mim, aquela coisa negativa, aquele peso, aquela sensação de que isso não ia acabar, ACABOU!!
Tem gente que fala que quando alguém tem depressão, sempre ficam sinais, uma “marquinha”. Existem pessoas que ficam sim marcados. Mas, falando de mim, eu não tenho, continuo a mesma pessoa de antes.
Depois que passei pelo processo intenso, eu tive momentos de tristeza, momentos de angústia, mas bem pontuais. E sim, tive medo daquilo tudo retornar, mas foi como um vento que passou, uma chuva que já foi embora.
Eu continuei a terapia por um tempo para concluir os processos que foram abertos, porque depois eu já tinha um pouco mais de força para olhar para algumas coisas, e foi muito bom fechar esse ciclo.
Os processos que eu passei, as lutas, me fizeram mais forte, mais ordenada, mais de Deus. Eu aprendi muito. Aprendi a respeitar os meus limites, a olhar para as pessoas com mais caridade e a respeitar os tempos de cada pessoa.
Não queria que esse processo acontecesse com ninguém, porque é muito triste, muito pesado. Contudo, tendo passado por ele, e para quem está passando por ele, digo: vai acabar!
Nós não nascemos depressivos, nós não somos depressivos, nós passamos por processos e podemos aprender com eles.
Em muitos casos de processos depressivos longos, a pessoa tem como pano de fundo uma falta de motivação para viver e, quando ela não tem esse ‘para quê’ é muito difícil passar por isso.
Portanto, como Igreja, é importantíssimo ajudarmos as pessoas a encontrarem essa motivação. Ajudá-las a se encontrar, se ‘encaixar’ no mundo, a se sentirem pertencentes a algum lugar, a criarem laços de relacionamentos verdadeiros e profundos com outras pessoas”.
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