Misericórdia e Justiça: as duas faces do Cristo
Somos acostumados a ver representações de Deus Pai como representante da justiça, e Cristo como o representante da misericórdia. Porém, a justiça e a misericórdia de Deus andam lado a lado em todas as pessoas da Santíssima Trindade.
A justiça e a misericórdia são duas faces da mesma moeda, o amor de Deus pela humanidade, um amor criador e que vai até às últimas consequências pelos filhos.
Deus de justiça e misericórdia
As Sagradas Escrituras nos afirmam que é o próprio Cristo que virá para julgar a humanidade, o mesmo Cristo que demonstrou Sua infinita misericórdia em Sua primeira vinda.
O mesmo Cristo que apareceu à Santa Faustina e disse que a misericórdia salvará o mundo é o Cristo que virá e também dirá aqueles que o negaram: “não vos conheço” (Lc 13,27)
O Jesus que amou tanto o mundo e que deu Sua vida para salvá-lo, oferecendo-Se como cordeiro que tira o pecado do mundo, oferecendo-Se como sacrifício por justos e injustos, também separará os justos dos injustos no juízo final.
Como um pai que educa
Diferentemente do que muitos pensam, a justiça de Deus faz parte do Seu amor por nós, afinal, Deus é amor (Cf. 1Jo 4,8).
São duas formas de nos amar: a compaixão e a ira. A compaixão que perdoa nossos pecados e a ira que nos ensina como um pai que educa seu filho.
Jesus é o Rei de Misericórdia e também o Rei Juiz, que nos dá todas as chances possíveis de nos arrependermos e voltarmos para a casa do Pai, mas que respeita nosso livre arbítrio.
A misericórdia de Deus criou o mundo e a justiça Divina o santifica
Tudo que existe no mundo, desde a criação, foi criado pela misericórdia de Deus, pelo amor do Senhor que nos ama.
O Catecismo da Igreja Católica nos diz:
“Tudo o mais foi feito para nós, o Cosmo, as trilhões de estrelas como o Sol, os pássaros do céu, as flores, os animais, os peixes… dão glória a Deus quando servem ao homem e lhe servem de alimento” (CIC, §2417).
Pelo tamanho do amor de Deus pela humanidade é que se mostram essas duas faces de Cristo: a misericórdia, que tudo cria para nós e nos perdoa sem limites, e a justiça, que dá sentido a essa misericórdia, que nos ensina, nos educa e nos garante a liberdade para buscarmos a santidade ou a perdição.
Uma nova chance para continuar
São Tomás de Aquino afirma que misericórdia sem justiça é mãe da dissolução. Acaba abusiva. Não é possível permitirmos que Deus nos socorra em Sua misericórdia sem que nos coloquemos na verdade de nós mesmos.
Deus é Santo e todo pecado fere Sua santidade. Portanto, a justiça de Deus exerce um papel a nos assemelhar a Deus como Ele nos Criou, para a santidade, para o Céu!
A misericórdia de Deus nada mais é do que a justiça de Deus sendo feita. Mas, em vez de pagarmos com nossa vida por nossos pecados, o próprio Cristo pagou por nós e assim no garantiu a possibilidade da santidade e nos abriu as portas do Céu, que nossos antepassados haviam fechado por seus pecados.
Por nossos pecados rompemos a comunicação com Deus, nos afastamos de Seu amor, nos afastamos do propósito de nossa vida, que é dar glória a Deus.
Nós merecemos a morte, mas Deus continua a nos dar vida e uma outra chance. Por isso, não podemos abusar da misericórdia de Deus, precisamos buscar nos emendar, buscar os sacramentos, pedir a graça da perseverança, para que no dia de nossa morte, no Dia do Juízo, possamos ser contados entre os amigos de Jesus.
O Purgatório, um exemplo da Misericórdia de Deus
Devemos buscar nessa vida a santidade, mas como Deus é infinitamente bom e misericordioso, há ainda uma outra chance para aqueles que morrem sem pecado mortal, mas ainda não em estado de perfeição. A Igreja nos ensina que vão para o Purgatório, para se purificarem de suas faltas e assim comparecer diante de Deus com as vestes alvas.
O Purgatório é purificação final dos eleitos, um fogo purificador que nos lava de nossas faltas. Quando estamos no purgatório, não podemos diminuir nossa pena, apenas a oração dos vivos pode ajudar a alma do purgatório a cumprir mais “rapidamente sua purificação”. Por isso, é essencial que rezemos pelas almas do purgatório.
Entenda mais sobre o Purgatório aqui
A Misericórdia e a Justiça demonstram o Amor de Deus por nós
O Catecismo da Igreja Católica, no número 1700, nos diz:
“A dignidade da pessoa humana radica na sua criação à imagem e semelhança de Deus e realiza-se na sua vocação à bem-aventurança divina. Compete ao ser humano chegar livremente a esta realização. Pelos seus atos deliberados, a pessoa humana conforma-se, ou não, com o bem prometido por Deus e atestado pela consciência moral. Os seres humanos edificam-se a si mesmos e crescem a partir do interior: fazem de toda a sua vida sensível e espiritual objeto do próprio crescimento. Com a ajuda da graça, crescem na virtude, evitam o pecado e, se o cometeram, entregam-se como o filho pródigo à misericórdia do Pai dos céus. Atingem, assim, a perfeição da caridade.”
O Catecismo assim nos ensina, de forma simples a graça dessas duas faces de Cristo. Deus nos criou para a Sua Glória, esse é o sentido principal da vida humana, mas o homem, por seu pecado, se afastou desse amor e negou a graça.
Deus, infinitamente bom, deu-nos seu Filho único, que com Seu Amor misericordioso deu sua vida para que nós pudéssemos viver e continuar a nos dar infinitas chances. Esse mesmo Filho que, por amor, virá julgar a todos os homens, dando-nos ainda a liberdade de escolhermos por Ele ou não. Esse mesmo filho que ama o pecador, mas repugna o pecado, e virá julgar a todos os povos nos últimos tempos, como nos diz a Palavra de Deus.
O Catecismo no diz, no número 1022: “Cada homem recebe, na sua alma imortal, a retribuição eterna logo depois da sua morte, num juízo particular que põe a sua vida na referência de Cristo, quer através duma purificação, quer para entrar imediatamente na felicidade do Céu, quer para se condenar imediatamente para sempre”.
Podemos confiar na misericórdia de Deus, sabemos que Ele nos ama e não nos abandona, mas devemos cuidar de não abusarmos dessa misericórdia, ignorando a confissão, vivendo uma vida desregrada e zombado do amor de Deus.
Devemos, a cada dia, nos recomendarmos à misericórdia de Deus e pedirmos Sua Divina justiça através do Terço da Misericórdia:
“O Sangue e Água que jorraste do coração de Jesus, como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós”.
E ainda: “Deus Santo, Deus forte, Deus Imortal, tende misericórdia de nós e do mundo Inteiro”.
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