Pontos duvidosos do Sínodo da Amazônia
Padre Gabriel Vila Verde, através de uma live em sua página do Facebook, expôs alguns pontos que nos ajudarão a entender por que este sínodo está sendo tão controverso.
Questões sobre o Sínodo
Diante dos recentes questionamentos do Instrumentum Laboris (Instrumento de Trabalho) do Sínodo da Amazônia, o padre Gabriel tirou algumas dúvidas no âmbito doutrinal e deixou algumas perguntas aos bispos sinodais.
Estes são os pontos duvidosos que tocam diretamente a doutrina católica. São eles:
1 – Deus e outras divindades?
No parágrafo 13, ele apontou uma frase “Esta compreensão da vida se caracteriza pela conectividade e harmonia de relações entre a água, o território e a natureza, a vida comunitária e a cultura, Deus e as diferentes forças espirituais”.
O que exatamente o documento quer dizer com outras forças espirituais? “O próprio Deus, – explicou, – ‘não é uma força, mas três Pessoas; os anjos e os santos não são forças, mas criaturas de Deus’”. Este parágrafo insinuaria uma espécie de sincretismo no trato da Igreja com os povos indígenas?
2 – Colonizadores e missionários
(Parágrafo 38) “Neste passado, às vezes a Igreja foi cúmplice dos colonizadores, sufocando a voz profética do Evangelho. Muitos dos obstáculos a uma evangelização dialógica e aberta à alteridade cultural têm um cunho histórico e se escondem por detrás de certas doutrinas petrificadas. O diálogo é um processo de aprendizagem, facilitado pela “abertura à transcendência” (EG, 205) e impedido pelas ideologias”.
Aqui o padre contestou esta visão de que a os primeiros evangelizadores ficaram sempre do lado dos colonizadores. Lembrou, por exemplo, que se não fosse pelo trabalho dos jesuítas, os índios seriam escravizados por espanhóis e portugueses.
Se hoje somos um dos maiores países católicos do mundo, foi graças a estes primeiros missionários. Temos que entender a mentalidade que os movia. Eles atravessaram o oceano porque acreditavam que o Evangelho era a Salvação destes povos recém descobertos.
Será que este parágrafo quer dizer que o trabalho evangelizador dos primeiros missionários foi completamente mau? Foi errado apresentar o Cristo e Sua doutrina?
Outro ponto neste parágrafo é a expressão “doutrinas petrificadas”. A que o documento se refere? Seriam os dogmas, as normas litúrgicas, aspectos da doutrina?
3 – Fora da Igreja há salvação?
(parágrafo 39) “A abertura não sincera ao outro, assim como uma atitude corporativista, que reserva a salvação exclusivamente ao próprio credo, são destruidoras desde mesmo credo”.
Aqui ele aponta uma crítica sútil à Igreja Católica e ao dogma Extra Ecclesiam Nulla Salus (Fora da Igreja não há Salvação). É uma verdade revelada pelo próprio Cristo quando disse que para ser salvo se deve estar ligado a Ele e ao seu corpo místico (Eu sou a videira e vós os ramos Jo 15, 1-4), ou na afirmação de Paulo de que “Cristo é a cabeça da Igreja” (I Cor 12, 27).
Todo o sacrifício dos missionários cristãos para evangelizar outros povos está fundado na convicção da necessidade da Igreja para a salvação dos homens. Já dizia o Papa Paulo VI “não minimizar em nada a doutrina salutar de Cristo é forma de caridade eminente para com as almas”. (Humanae Vitae, 1968)
Quando o documento diz: “reserva a salvação ao próprio credo”, dá a entender, segundo ele, que há salvação em todo canto. Não é bem assim!
O Espírito sopra aonde quer e pode sim salvar pessoas em diversas partes mesmo que elas não tenham conhecido o Evangelho da Salvação (sementes do verbo).
Será que há uma confusão com a ideia do que é Igreja? A Igreja não é mais uma instituição, mas é a continuação de Cristo na história.
4 – Relativismo de fé
“O amor vivido em qualquer religião agrada a Deus”. “Através de um intercâmbio de dons, o Espírito pode conduzir-nos cada vez mais para a verdade e o bem” (EG, 246).
Frases do tipo “Não importa ser católico ou se batizar, não receber a eucaristia ou outros sacramentos. Basta viver o amor em qualquer religião”.
Isso é uma heresia. A carta aos hebreus dirá “sem fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 6). É confessando com os lábios e crendo com o coração que se alcança a salvação. É preciso conhecer Jesus e crer nEle.
5 – Igreja ou ONG?
(parágrafo 104, e) “Favorecer uma Igreja como instituição de serviço não autor referencial, corresponsável no cuidado da Casa Comum e na defesa dos direitos dos povos”.
Onde a Igreja se instala, ela imprime uma identidade muito clara: ser referência, sinal de salvação. O que esta frase sugere é que a Igreja seja uma presença exclusivamente institucional, quase como uma ONG, sem a responsabilidade de evangelizar.
6 – Liturgia e ritos
(parágrafo 126-a) “Constata-se a necessidade de um processo de discernimento em relação aos ritos, símbolos e estilos celebrativos das culturas indígenas em contato com a natureza, os quais devem ser assumidos no ritual litúrgico e sacramental”.
Quer dizer que rituais indígenas devem ser incorporados à Liturgia? Substituir os sacramentais por matérias locais como a mandioca, a tapioca?
Como assim “em contato com a natureza”? A liturgia já não é um rito de contato com Deus?
“Sugere-se que as celebrações sejam festivas, com suas próprias músicas e danças, em línguas e com trajes originários, em comunhão com a natureza e com a comunidade”.
Se a Igreja é uma só, por que incorporar coisas regionais? Não há problema quando se insere um elemento ou outro desde que não altere a essência do rito.
O traje do padre não seria mais a túnica e a estola? O termo a “comunhão com a natureza”, por um acaso somos panteístas, ou seja, cultuamos a natureza? Temos que nos religar a ela ou a Deus?
7 – Ministros ordenados
“Por isso, pede-se que, em vez de deixar as comunidades sem a Eucaristia, se alterem os critérios para selecionar e preparar os ministros autorizados para celebrá-la”. (126-c)
8 – “Afirmando que o celibato é uma dádiva para a Igreja, pede-se que, para as áreas mais remotas da região, se estude a possibilidade da ordenação sacerdotal de pessoas idosas, de preferência indígenas, respeitadas e reconhecidas por sua comunidade, mesmo que já tenham uma família constituída e estável, com a finalidade de assegurar os Sacramentos que acompanhem e sustentem a vida cristã” (129-2).
9 – “Identificar o tipo de ministério oficial que pode ser conferido à mulher, tendo em consideração o papel central que hoje ela desempenha na Igreja amazônica”.
Estes três pontos dizem respeito diretamente aos ministros ordenados (sacerdotes e diáconos). O parágrafo 126 c, sugere que se alterem os critérios para preparar os ministros. Quais critérios? O estudo da teologia, a ida ao seminário, o fato de ser guardar o celibato?
Mesmo sabendo que o celibato é uma “dádiva”, o documento sugere a ordenação de homens casados, para continuar a dispensar os sacramentos nas regiões mais remotas. Além disso, pede que as mulheres tenham um papel de maior destaque na hierarquia da Igreja, sugerindo que ela tenha acesso a algum “tipo de ministério oficial”, ou seja, diaconisa ou sacerdotisa.
Aprofundar os estudos
Foram questões levantadas por padre Gabriel, mas as respostas só teremos ao término do Sínodo. Ele acontecerá em Roma, no Vaticano, de 06 a 27 de outubro. Vamos pedir, todavia, em nossas orações para que os bispos lá reunidos sejam iluminados pela luz do Espírito Santo e possam escutar profundamente a voz de Deus neste momento.
Que eles guardem a fé, assim como a guardaram todos os que os precederam e entregaram a Igreja assim, santa e corpo místico de Cristo.
Para aprofundar os estudos acesse o documento completo: Instrumentum Laboris
Assista na íntegra o vídeo do padre Gabriel:
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