Oração e Silêncio
Como compreender o silêncio e seu valor em meio a uma sociedade com tantos ruídos, tecnologias e distrações?
Muitos passaram a enxergar o silêncio como ausência, como algo negativo. Essa visão vem gerando bloqueios para vivermos de maneira profunda nossa espiritualidade e momentos de intimidade com Deus. O silêncio é, na realidade, o início de toda conversa, seja com os outros, com Deus ou conosco mesmos.
A oração é este caminho de interiorização, um impulso do coração, um olhar lançado ao céu. Há uma dignidade no silêncio, mas as pessoas estão perdendo esta capacidade de ouvir as verdades que brotam de seu interior nos momentos de oração.
Temos necessidade de um mundo interior, um gosto natural pela solidão, pela experiência de deserto!
Devemos desejar e pedir a Deus que, nossa alma silencie para escutá-Lo e escutar os anseios das almas de nossos irmãos. Lembremo-nos do pensamento do monge Thomas Merton:
“O que temos a ganhar viajando para a lua se não conseguimos atravessar o abismo que nos separa dos outros? Essa é a mais importante viagem de descoberta; sem ela, todas as outras são não apenas inúteis, mas desastrosas!”.
Para uma escuta verdadeira, precisamos estar atentos e muito centrados no que o outro nos revela através dos seus gestos, palavras e ações. Rubem Alves nos ajuda a refletir sobre a escuta quando diz que “escutar é complicado e sutil. Não é bastante ter ouvidos para ouvir o que é dito; é preciso também que haja silêncio dentro da alma”.
Precisamos silenciar não somente os barulhos externos, mas, também as vozes interiores que não nos deixam ouvir o eco de Deus. Este Deus que se deixa encontrar no silêncio de uma brisa leve (cf. IRs 19,7-13) e não nos grandes ventos e tremores de terra, e que fala muito aos corações que se permitem entrar em intimidade com Ele. Devemos silenciar para ouvir Deus. Há uma simplicidade muito grande no modo de dizer de Deus, que nos fala em sentimentos, desejos, apelos, questionamentos, movimentos internos, etc. E como é difícil silenciar e exercitar o dom da escuta.
“A oração abarca toda a vida. Nada fica fora de seu âmbito. Toda a vida busca ser confrontada com Deus no silêncio de seu mistério. Na oração, buscamos pôr nossa vida na presença de Deus”. (Rainer Rilke)
O momento de nossa oração é justamente onde nos apresentamos de todo coração diante do Senhor para um diálogo, onde nos soltamos, falamos, nos deixamos transpassar pelo olhar de Deus. Deveríamos nos abrir também para uma escuta sincera de Suas moções e inspirações, à Sua Palavra e à Sua vontade em nossas vidas.
Muitas vezes, porém, agimos com Deus da mesma maneira que com nossos irmãos: falamos e não O escutamos, ou não damos a atenção devida ao que Ele nos fala. O maior prejuízo que recebemos dos agitados tempos modernos é esta “surdez”, esta dificuldade para vivermos o silêncio e a escuta em nossa alma. Precisamos nos exercitar para ouvirmos o som do silêncio, pois, é nele, numa brisa suave, que nos encontramos com o Deus que conhece o mais íntimo de nosso coração, e que nos auxilia também no relacionamento com nossos semelhantes.
“Senhor, dá-me a graça do silêncio para que possa escutar Tua voz!”
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