No coração do Evangelho de João, encontramos uma das mais belas cenas de busca sincera pela verdade: o encontro entre Jesus e São Nicodemos, um fariseu influente, membro do Sinédrio. Ele representa não apenas um homem curioso, mas alguém que está em um verdadeiro processo de conversão interior, sedento de sentido e da luz que só Cristo pode oferecer.

O fariseu convertido que procurou Jesus na noite

A história de Nicodemos começa no capítulo 3 do Evangelho de João. Ele vai ao encontro de Jesus à noite, um detalhe que os Padres da Igreja interpretam como símbolo de uma alma ainda nas trevas, buscando a luz. Embora pertencesse ao grupo dos fariseus — muitas vezes criticados por Jesus — Nicodemos se distingue por sua abertura de coração.

Ele reconhece algo especial em Cristo:

“Rabi, sabemos que vieste da parte de Deus como mestre, pois ninguém pode fazer os sinais que fazes, se Deus não estiver com ele” (Jo 3,2).

Nicodemos representa tantas pessoas de nosso tempo que, mesmo envolvidas na religião, ainda não fizeram uma experiência pessoal com Jesus. A sua busca silenciosa e discreta mostra que a conversão começa com um passo: o desejo sincero de conhecer a verdade.

O novo nascimento: o caminho da verdadeira conversão

Durante seu diálogo com Nicodemos, Jesus propõe algo radical:

“Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer do alto não pode ver o Reino de Deus” (Jo 3,3).

A perplexidade de Nicodemos diante dessa afirmação revela a limitação da razão humana diante do mistério da fé. Jesus fala da necessidade de nascer da água e do Espírito, indicando o Batismo como porta para uma vida nova. Aqui se revela o centro da espiritualidade cristã: a conversão não é apenas um esforço humano, mas uma graça divina que transforma o coração.

Nicodemos não compreende tudo de imediato — como tantos de nós — mas guarda no coração essa semente de luz que irá frutificar.

Um discípulo oculto que amadurece na fé

Nicodemos volta a aparecer em João 7, defendendo Jesus diante de seus colegas fariseus. Já não o procura em segredo, mas levanta a voz em sua defesa. E sua transformação culmina no capítulo 19, quando ele ajuda José de Arimateia a sepultar o corpo de Jesus, levando consigo uma grande quantidade de aromas — um sinal de honra e veneração.

Esse gesto silencioso de amor e respeito demonstra que o fariseu da noite tornou-se um discípulo da luz, alguém que passou do medo à fé, da dúvida à confiança, da escuridão ao compromisso.

O exemplo de São Nicodemos para nossa caminhada

A vida de São Nicodemos é um espelho para todos nós que buscamos a verdade no meio das incertezas da vida. Ele nos mostra que é possível passar por um processo de conversão profundo, mesmo vindo de um ambiente religioso rígido. Ele nos convida a encontrar Jesus pessoalmente, escutar sua palavra com humildade e permitir que a luz do Espírito Santo ilumine as áreas ainda ocultas do nosso coração.

Na espiritualidade da Aliança de Misericórdia, onde tantos são chamados das periferias da fé, Nicodemos é símbolo daquele que, mesmo “na noite”, é atraído pela luz da misericórdia divina. Um exemplo vivo de que a graça de Deus pode agir silenciosamente, mas de forma poderosa.