Por que a Igreja celebra Cristo como Rei no fim do ano litúrgico?
Ao nos aproximarmos do fim do ano litúrgico, a Igreja nos convida a contemplar Cristo Rei do Universo, uma solenidade profundamente rica em significado e cheia de esperança. Mas por que essa festa é celebrada justamente no encerramento do ciclo litúrgico? O que o título de “Rei” revela sobre Jesus e sobre nossa própria vida cristã?
Vamos refletir sobre o calendário católico, a escatologia cristã e a importância de reconhecer a centralidade de Cristo no tempo e na eternidade.
A centralidade de Cristo no tempo e na eternidade
O calendário litúrgico da Igreja não é apenas uma sequência de datas religiosas; é um verdadeiro caminho espiritual que nos educa, ano após ano, no mistério de Cristo. Esse caminho começa com o Advento, tempo de espera pela vinda do Salvador, e culmina com a Solenidade de Cristo Rei, quando professamos que o mesmo Jesus, que nasceu em Belém, reina glorioso à direita do Pai.
Celebrar Cristo como Rei no final do ano litúrgico é afirmar que todo o tempo pertence a Ele: passado, presente e futuro. Ele é o Alfa e o Ômega (Ap 22,13), o início e o fim. Todo o plano de salvação encontra seu cumprimento em Cristo, que reina com justiça, paz e misericórdia.
Cristo Rei e o Juízo Final
Outro motivo profundo para esta celebração ao final do ano litúrgico está na sua conexão com o Juízo Final, tema central das leituras desse domingo. O Evangelho de Mateus (25,31-46), frequentemente proclamado nessa solenidade, nos apresenta o Filho do Homem vindo em glória para julgar as nações.
Neste juízo, os critérios de julgamento são surpreendentes: “Tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber…” (Mt 25,35). O Rei glorioso é também o servo sofredor, que se identifica com os pequenos e marginalizados. Aqui, a realeza de Cristo se manifesta como reinado de misericórdia, mas também de justiça. Celebrá-Lo como Rei é reconhecer que o amor será o critério do julgamento e que somos chamados a viver esse amor no concreto da vida.
Preparação para o Advento
A festa de Cristo Rei também serve como ponte entre o fim e o novo começo. Ao encerrar o ano litúrgico com a afirmação do senhorio de Cristo, nos preparamos espiritualmente para o tempo do Advento, que logo se inicia. O Advento é tempo de vigilância e espera pela vinda do Senhor — não apenas a recordação do seu nascimento em Belém, mas também a espera da segunda vinda gloriosa, quando Ele estabelecerá plenamente o seu Reino.
Assim, a solenidade de Cristo Rei nos educa para a esperança escatológica: vivemos no tempo presente, mas com os olhos voltados para o céu. O Reino já está entre nós, mas ainda não se manifestou em plenitude. A liturgia nos lembra de que somos peregrinos rumo à eternidade, onde reinaremos com Cristo.
Celebrar Cristo Rei no fim do ano litúrgico é uma profissão de fé no senhorio absoluto de Jesus sobre todas as coisas. É uma afirmação de que o tempo tem um sentido, uma direção, e que esse sentido é Cristo. Em um mundo marcado por incertezas e poderes passageiros, a Igreja proclama que só Jesus Cristo é o verdadeiro Rei, e que seu Reino não terá fim.
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