Padre Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororó: Mártires da fé e da justiça entre os povos indígenas

Quem foi Padre Rodolfo Lunkenbein?

Nascido em 1º de abril de 1939, na Alemanha, Rodolfo Lunkenbein foi filho de lavradores e ingressou aos 14 anos no aspirantado salesiano, inspirado pela vida de Dom Bosco. Em 1958, veio ao Brasil com um grupo de seminaristas e iniciou sua formação salesiana no país, passando por Pindamonhangaba (SP) e Campo Grande (MS). Entre 1963 e 1965, foi enviado para a Missão Salesiana de Meruri, onde atuou como professor, mecânico e catequista junto ao povo Bororo, sem que ainda se falasse em demarcação de terras indígenas.

Após concluir seus estudos teológicos na Alemanha, foi ordenado sacerdote em 1969, voltando ao Brasil no ano seguinte com uma nova visão pastoral, influenciado pelo Concílio Vaticano II e a Conferência de Medellín. A partir daí, passou a trabalhar pela valorização da cultura indígena, saúde, educação e demarcação de terras, assumindo em 1974 a direção da Colônia Indígena de Meruri.

Simão Bororó: o discípulo fiel da sua gente

Simão Cristino Bororó, indígena da comunidade local, era um colaborador próximo de Padre Rodolfo. Homem de fé, integridade e coragem, Simão se destacou por seu apoio ao trabalho missionário e à luta pacífica pela dignidade de seu povo. Sua atuação como defensor dos direitos indígenas o colocou, junto ao padre, no centro de um conflito crescente com fazendeiros locais contrários à demarcação da Terra Indígena Meruri.

A tragédia de Meruri

Na manhã de 15 de julho de 1976, após uma série de ameaças, uma caravana com mais de 40 pessoas armadas, lideradas por João Mineiro, invadiu a missão. Padre Rodolfo, que trabalhava na roça com os Bororo, foi chamado às pressas. Ao tentar dialogar, foi alvejado por cinco tiros no pátio da missão. Simão, que tentou defender o padre, foi brutalmente ferido com uma faca. Foi levado ao hospital, onde faleceu rezando, afirmando perdoar seus agressores.

A morte de ambos ocorreu na véspera da demarcação oficial da Terra Indígena Meruri, que acabou sendo concluída ainda em 1976 e homologada em 1987. A violência, no entanto, não impediu o avanço da causa.

Legado e processo de beatificação

O martírio de Rodolfo Lunkenbein e Simão Bororó marcou uma virada na atuação pastoral junto aos povos indígenas, rompendo com a visão assimilacionista e fortalecendo a opção por uma missão inculturada e libertadora. Em 2016, a Inspetoria Salesiana de Campo Grande apresentou ao bispo de Barra do Garças a proposta de abertura do processo de beatificação dos dois mártires, reconhecendo o valor universal de seu testemunho.

 

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