Padre Bento Pacheco: O servo de Deus que enxergou a face de Cristo nos leprosos
O Servo de Deus Padre Bento Dias Pacheco é um daqueles nomes que a história da Igreja guarda com reverência e admiração. Nascido em 17 de setembro de 1819, na Fazenda da Ponte, na comarca de Itu (SP), proveniente de uma família abastada, desde cedo teve acesso à educação e à possibilidade de uma carreira promissora. Contudo, movido por um chamado mais profundo, Bento escolheu o sacerdócio, sendo ordenado padre em 1840. Mal sabia ele que sua missão se estenderia muito além das funções paroquiais convencionais: Deus o chamava para uma entrega total aos mais marginalizados de seu tempo — os leprosos.
Do conforto à renúncia por amor ao próximo
Após a morte do pai, Padre Bento conciliou sua vocação com a administração da fazenda da família. Sua maneira cristã e compassiva de tratar os escravos da propriedade destacava-se em uma sociedade ainda marcada pela escravidão. Foi essa sensibilidade ao sofrimento do próximo que preparou o terreno para sua maior missão.
Convidado por duas vezes a ser capelão do Hospital dos Lázaros, Padre Bento inicialmente recusou, devido ao temor comum em relação à hanseníase, uma doença que gerava repulsa e exclusão. No entanto, em 1869, ele tomou uma decisão radical e profundamente evangélica: vendeu todos os seus bens, distribuiu o dinheiro aos pobres e mudou-se para a Chácara da Piedade, em Itu — local de isolamento dos leprosos. Ali, começou uma vida de doação plena.
42 anos de amor, cura e evangelização
Durante 42 anos, Padre Bento viveu entre os leprosos, cuidando deles com as próprias mãos, tratando suas feridas, confortando suas almas e compartilhando o Evangelho. Tornou-se pai, médico, amigo e consolo dos doentes. Jamais contraiu a moléstia, fato que impressiona até hoje. Seu testemunho concreto do amor cristão lembra o Bom Samaritano que se curva sobre o ferido e o leva à cura com ternura e sacrifício.
Conforme o historiador Francisco Nardy Filho descreve, Padre Bento foi “o Cireneu que os ajudava a carregar a pesada cruz da temida doença”, reacendendo em seus corações a esperança no Céu e na dignidade da vida terrena. Indiferente ao cansaço ou ao contágio, ele ofereceu a todos o rosto misericordioso de Cristo.
Fama de santidade e legado espiritual
Padre Bento faleceu no dia 6 de março de 1911. Seu desejo era ser sepultado junto aos doentes que tanto amou, e assim foi feito. Hoje, seus restos mortais repousam na Igreja Matriz da Paróquia Senhor do Horto e São Lázaro, localizada no bairro que leva seu nome em Itu.
O povo nunca esqueceu seu legado. Seu túmulo tornou-se local de peregrinação, onde fiéis relatam graças alcançadas por sua intercessão. Padre Bento personificou o mandamento maior da caridade evangélica: amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo — especialmente quando esse próximo é o mais rejeitado pela sociedade.
Um modelo para os tempos de hoje
Padre Bento Pacheco nos interpela ainda hoje com seu testemunho silencioso, mas eloquente: é possível amar radicalmente, é possível abandonar tudo por amor a Cristo nos pobres. Sua vida inspira movimentos como a Aliança de Misericórdia, que busca evangelizar e servir os que mais sofrem, confiando que, em cada rosto ferido e desprezado, resplandece a imagem do Senhor ressuscitado.
0 Comments