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Os estudos dos Padres da Igreja sobre os anjos

Foto: Gavin Allanwood-unplash.

Júlio Neto, missionário de vida e teólogo continua sua exposição sobre os santos anjos na vida da Igreja. Hoje daremos mais um passo, agora, na fonte dos Padres da Igreja.

Guardiões dados por Deus

Os anjos têm a constituição de nos guardarem, como vemos no Salmo 90(91): “Ele ordenou aos seus anjos guardar-te em todos os teus caminhos”. Devemos saber que é Deus que envia os seus anjos para guardarem e serem auxílio aos homens, para que sejam um socorro nos perigos e garantir-lhes sua vontade salvífica.[20]

A vida humana, desde seu início até a sua morte, é cercada pela proteção dos anjos e constante intercessão. Todos são cuidados por um anjo protetor, participando assim, na vida cristã, na fé da sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus.[21]

Assim nos assegura o Doutor Angélico citando o comentário de São Jerônimo ao evangelho de São Mateus:

“Os seus anjos nos céus”, ele diz. “Grande é a dignidade das almas, pois a nascer, cada uma tem um anjo delegado a sua guarda”.[22] E ainda: “A cada homem é delegado um anjo para sua guarda. E a razão disso é que a guarda dos anjos é obra da providência divina para com os homens”.[23]

Vale a esta altura constatar que a presença dos anjos em nossas vidas, para muito além de ser um agente de proteção e guarda, é principalmente uma inspiração para a missão a qual fomos criados, de servir, amar e venerar a Deus[24], pois permanece constantemente conosco, como vai nos dizer São Tomás de Aquino.[25]

Os Santos Padres da Igreja nos trazem colaborações fantásticas na compreensão de quem são os Anjos, sua atuação e ação na vida da humanidade. Destaco aqui alguns comentários que nos ajudarão a enriquecer nossa reflexão:

São Clemente Romano (35 – 100)

Seja ele o nosso orgulho e franqueza. Submetamo-nos à sua vontade. Consideremos como toda a multidão de seus anjos, estando junto dEle, estão a serviço de sua vontade. De fato, a Escritura diz: “Miríades e miríades estão junto dEle; milhares e milhares estão a seu serviço.

E eles gritam: Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos! Toda a criação está cheia de sua glória.” Também nós, na concórdia, unidos na mesma consciência, como uma só boca, chamemos a ele com insistência, a fim de que tenhamos parte nas suas grandes e magníficas promessas. Ele, de fato, diz:

“Nenhum olho viu, nenhum ouvido ouviu, e não entrou no coração do homem aquilo que Deus preparou para aqueles que o esperam.” (Epístola Aos Coríntios Capítulo XXXIV 5-8).[26]

São Basílio O Grande (329 ou 330 – 379)

“Portanto, das coisas criadas no início podemos aprender a organização do Espírito com o Pai e o Filho. Os puros, inteligentes, e super-mundanos poderes são denominados santos, porque eles têm a santidade e a graça dados pelo Espírito Santo…

Mas fazem, quem tem poder sobre as coisas que são vistas para formar a analogia do que não é visto, glorificados pelo Criador por aqueles a qual todas as coisas foram criadas, visíveis e invisíveis, principados e potestades, autoridades, tronos e domínios e todas as outras naturezas compreendidas que não possuem nome… os espíritos que ministram subsistem pela vontade do Pai, são trazidos para serem operados pelo Filho, e aperfeiçoados pela presença do Espírito. Portanto, a perfeição dos anjos é a santificação e a continuidade disso”. (Sobre o Espírito Santo, Capítulo XVI, 38, p.24)[27]

 São João Crisóstomo (347 – 407)

“De baixo, para fora do coração, tirarei a uma voz, fazer a tua oração um mistério… Sim, para todos se juntarem ao coro dos anjos, e em comunhão com os arcanjos, e cantando com os serafins.

E todas essas tribos se manifestar em uma ordem muita formosa, e seus hinos sagrados a Deus, o Rei de todos. Com estes, em seguida, misturar-se a si mesmo, quando fores orar, e imitar sua ordem mística.” (Homilia 19 em São Mateus: na Oração do Senhor)[28]

Especulações sobre os anjos

Até aqui, por justa medida, tratamos exclusivamente dos Santos Anjos, suas ações e atribuições. Há quem se interesse também pelos chamados “anjos caídos”.

Não é o desejo aqui dar tanta atenção e espaço para estes que, como já citado, por sua escolha optaram em se apartar de Deus, mas vale dizer, considerando o que foi acima citado a respeito de que cada ser humano tem o seu anjo, então, na ordem das coisas, há de se questionar: quantos seriam os anjos?

Trazemos aqui um trecho de um antiquíssimo livro sobre os anjos traduzido por M. ALVARO V. DE MADUREIRA, pela Editora Nacional, Porto, Portugal – Pe. Pio e os Anjos, edição de Portugal, em que se lê:

 “Afirmam uns que o número dos anjos iguala o dos homens que hão de existir desde Adão até o fim do mundo; outros sustentam que são mil vezes mais. Só os anjos rebeldes, que seriam um terço do total, fariam escurecer o sol em pleno dia (diz S. Belarmino) se fossem feitos de matéria. De qualquer forma parece indiscutível que existe número indeterminado e totalmente incalculável destes seres celestiais.”

Quanto poder tem um anjo caído?

Tocamos neste assunto principalmente para ressaltar e tranquilizar nossos corações em um conceito muito simples que afasta de nós todo temor que possa surgir a respeito dos “anjos caídos” e, o princípio é básico, matemático.

Se eles são a terça parte, que do céu foi varrida junto a Lúcifer na sua revolta, significa que para cada anjo mal que pode investir para nossa perdição existem outros dois anjos que servem a Deus, que nos defendem, nos auxiliam e nos impulsionam para nossas boas escolhas.

O anjo da guarda se afasta de nós quando pecamos?

Mas será que, de alguma forma, nosso anjo se afasta de nós, por exemplo, quando pecamos? Caso não se afaste, será que o entristecemos com nossos pecados?

Não, o pecado não nos afasta dos anjos. Eles nunca nos abandonam totalmente, principalmente em momentos de batalhas espirituais. É possível compreender um afastamento momentâneo, vai dizer São Tomás de Aquino, nos deixando a mercê da providência de Deus, que permite que soframos alguma pena ou culpa em consequência de nossas escolhas para sermos moldados por Deus.[29] E nem podem se entristecer quando pecamos, pois são criaturas perfeitas e bem-aventuradas, em vista disso, não sofrem.[30]

É o cultivo de relacionamento, a fé depositada e o constante diálogo em oração que nos traz uma maior intimidade com nossos Anjos da Guarda. Há quem, por tais inspirações, crê firmemente e alcança a graça de nomear o seu Anjo da Guarda.

Não há nenhum alicerce doutrinário para esta afirmação, mas, assim como pela intimidade da oração podemos escolher de como nos remeter a Deus, seja de amigo, mestre, majestade, ou com a melhor forma ensinada por Jesus, chamando-o de Pai, digamos que o discernimento da oração e minha relação de intimidade com o meu Anjo da Guarda “me permite” também conhecê-lo com um nome e fazer dele meu companheiro.

Como conversar com nosso anjo?

Por fim, a melhor forma de termos contato com nosso Anjo da Guarda é ter Fé. E sabemos que a Fé é um dom, é Graça de Deus e que aumenta conforme praticamos atos de fé e amor a Deus.

Ter Fé então na sua existência, na sua presença, na sua participação em nossa vida, alimentada pela oração, que nos faz crescer de Fé em Fé, poderemos contar cada vez mais com estes enviados de Deus, que nos ajudam em nosso caminho e em nossas batalhas. E o que pode nos aproximar mais da pureza de uma oração, do que a oração ensinada à beira da cama desde nossa infância e, com a qual quero concluir esta reflexão com cada um de vocês

“Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a piedade divina, sempre me rege, me guarda, me ilumina. Amém”.

Redes sociais de Júlio Neto: Instagram, Youtube, Facebook.

[20] SCHNEIDER, Theodor (Org.). Manual de Dogmática, Vol. 1. Petrópolis, Vozes, 2000. p. 209.

[21] CIC 336

[22] Suma Teológica I, q.113, a.2.

[23] Ibidem.

[24] Inspiração Inaciana dos Exercícios Espirituais que definem para que o homem foi criado.

[25] Suma Teológica I, q.52, a.1.

[26] Saint George Greek Orthodox Cathedral. Padres da Igreja e os Anjos<apologistascatolicos.>. Desde 16/05/2015. Tradução: Reinaldo Palacio Benitez.

[27] Saint George Greek Orthodox Cathedral. Padres da Igreja e os Anjos. <http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/doutrina-teologia/angeologia/795-padres-da-igreja-e-os-anjos>. Desde 16/05/2015. Tradução: Reinaldo Palacio Benitez.

[28] Ibidem.

[29] SUMA TEOLÓGICA I, q.113, a. 6.

[30] SUMA TEOLÓGICA I, q.113, a. 7.

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