Depressão entre os padres: entender e ajudar
Depois da entrevista do Pe. Fábio de Melo a uma emissora de TV de grande audiência, onde revela que sofre de síndrome do pânico, muita gente tem se perguntado o por que pessoas que estão próximas de Deus, desenvolvem tal distúrbio. Este estado de depressão em que se encontra o Pe. Fábio é mais comum entre os religiosos do que se imagina, e infelizmente, alguns chegaram ao extremo do desespero.
No segundo semestre de 2016 foram registrados três casos de suicídio de padres no Brasil: um em Salvador (BA), outro em Corumbá (MS) e outro em contagem em Contagem (MG).
“A vida religiosa não dá superpoderes. Pelo contrário. Eles são tão falíveis quanto qualquer um de nós”. Com esta frase, dita em entrevista à BBC Brasil, o psicólogo Ênio Pinto, autor do livro Os padres em psicoterapia (editora Ideias e Letras), alerta para esta verdade: padres são tão suscetíveis à depressão e stress quanto qualquer pessoa. O doutor Ênio, faz parte do Instituto Terapêutico Acolher, que atende sacerdotes, religiosos e leigos com vida apostólica intensa.
A reportagem da BBC aponta como uma das causas da depressão, o alto nível de exigência moral e virtuosa, sem perdão para deslizes. Uma pesquisa feita em 2008 pela Isma Brasil (http://www.ismabrasil.com.br/
E a vida de apostolado é exigente: segundo dados de 2010 haviam no Brasil 22 mil padres para 172 milhões de católicos (segundo Anuário Pontifício), uma média de um padre para cada 7,8 mil fiéis.
Outra causa, apontada pelo padre Adalto Chitolina um dos diretores do Centro Âncora (Pinhais/PR), é a substituição da vida de espiritualidade pelo excesso de trabalho. O padre salientou que em 2016 o centro teve ocupação de 100% com lista de espera para internações.
O reitor do seminário São José de Niterói, Padre Douglas Fontes ressaltou: “Jamais amaremos ao próximo se antes não amarmos a nós mesmos. E amar a si mesmo significa levar uma vida mais saudável; tristes, cansados ou doentes não cumpriremos a missão que Deus nos confiou.”
Dom Jaime Spengler, arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da comissão da CNBB que se ocupa da vida dos padres, diz que sacerdotes devem pedir ajuda ao bispo de sua diocese em caso de tensão psicológica ou esgotamento físico. “Os padres não estão sozinhos. Fazemos parte de uma família. E nesta família cabe ao bispo desempenhar o papel de pai e, como tal, zelar pelas necessidades dos filhos“, afirma.
Não é só no Brasil que os sacerdotes apresentam sofrimentos psicológicos, e algumas síndromes já foram identificadas. A mais comum é a chamada síndrome de burnout, ou do esgotamento profissional. O assunto pode ser aprofundado no livro O Desgaste na Vida Sacerdotal (editora Paulus).
“Pessoas que trabalham nas áreas de educação, saúde, assistência social, recursos humanos, agentes penitenciários, bombeiros, policiais e mulheres que enfrentam dupla jornada correm risco maior de desenvolver o transtorno. O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional que se reflete em atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, ansiedade, depressão, pessimismo, baixa autoestima.”
Abaixo a relação de instituições que auxiliam os religiosos em situação de sofrimento psicológico:
Instituto Terapêutico Acolher
Centro Âncora
Fiquemos com os conselhos do Papa Bento XVI:
“Deve-se ter humildade e reconhecer os próprios limites. Recordemos uma cena de Marcos, no capítulo 6, na qual os discípulos estavam ‘estressados’, queriam fazer tudo, e o Senhor disse: ‘Vinde também vós à parte, a um lugar solitário, para descansar um pouco’. Também este é trabalho – eu diria – pastoral: encontrar e ter a humildade, o valor de descansar.” (Papa Bento XVI, diálogo com padre do mundo inteiro, Roma 2010) Zenit.org
* Segundo fonte de Dr.Drauzio Varella-drauziovarella.com.br
* Segundo fonte de BBC Brasil
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