Dom Antônio Ferreira Viçoso: O grande Apóstolo de Minas Gerais
Dom Antônio Ferreira Viçoso, também conhecido como Apóstolo de Minas Gerais foi um verdadeiro exemplo de dedicação à Igreja e ao povo de Deus. Nasceu em 13 de maio de 1787, na Vila de Peniche, distrito de Leiria, Portugal, ele foi um dos bispos mais importantes da história da Igreja Católica no Brasil. Sua trajetória de fé e amor ao próximo deixou um legado significativo para a Diocese de Mariana e para toda Minas Gerais.
Desde cedo, Antônio Ferreira Viçoso foi instruído no amor a Deus, à Igreja e aos pobres, valores ensinados por seus pais. Recebeu suas primeiras lições dos padres Carmelitas de Olhalvos e Santarém e depois ingressou no seminário menor e maior. Mais tarde, ingressou na Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo, realizando o noviciado com os padres lazaristas de Rilhafoles. A vocação missionária já estava clara em sua vida.
Foi ordenado sacerdote em 1818, e logo foi enviado ao seminário de Évora, onde iniciou sua missão como professor. Mas, em 1820, sentiu o chamado para ir além e partiu em missão para o Brasil, junto ao amigo Pe. Leandro Rebelo P. Castro, em uma viagem que mudaria o rumo de sua vida e o futuro de muitas pessoas em terras brasileiras.
As primeiras missões no Brasil
Chegando ao Brasil, após 45 dias de viagem a cavalo partindo do Rio de Janeiro, Pe. Viçoso e Pe. Leandro chegaram ao Santuário do Caraça, em Minas Gerais, em 15 de abril de 1820. A missão era continuar o trabalho deixado pelo Irmão Lourenço de Nossa Senhora, fundador do Santuário. Pe. Viçoso se dedicou à educação, abrindo o famoso Colégio do Caraça, que se tornaria um centro de excelência educacional em Minas Gerais.
A dedicação de Pe. Viçoso à educação não parou no Caraça. A pedido do Irmão Joaquim do Livramento e por ordem de Dom Pedro I, ele foi nomeado reitor do Seminário da Santíssima Trindade, em Jacuecanga, próximo a Angra dos Reis. Lá, passou 15 anos de sua vida cuidando da formação da juventude e promovendo o desenvolvimento intelectual e espiritual dos jovens.
Em 1837, retornou ao Caraça como Diretor do Colégio e Superior Geral dos Lazaristas no Brasil. Durante a Revolução de Minas, em 1842, teve que levar os alunos para a região do Triângulo Mineiro, hoje Campina Verde, onde recebeu a nomeação para Bispo de Mariana.
Bispo de Mariana: Pastor fiel
Dom Antônio Ferreira Viçoso foi sagrado bispo no Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro, em 5 de maio de 1844, e assumiu a Sé Episcopal de Mariana, vaga há nove anos. Sua atuação como bispo foi marcada pela dedicação pastoral e pelo esforço contínuo para restaurar a disciplina eclesiástica e revitalizar a Igreja em Minas Gerais.
Durante seus 31 anos de episcopado, Dom Viçoso visitou religiosamente as inúmeras paróquias da vasta diocese, percorrendo a cavalo ou de liteira os extensos territórios de Minas Gerais. Suas visitas pastorais eram verdadeiras missões, incluindo pregações diárias para o povo e encontros com os vigários, sempre pautados pela proximidade e pelo cuidado pastoral.
Uma de suas maiores preocupações foi a formação do clero. Ele se dedicou a criar o melhor seminário possível, dentro das condições da época, para a formação dos novos sacerdotes. Ordenou 318 padres durante seu episcopado e teve a honra de sagrar três bispos que foram seus discípulos, incluindo Dom Luís Antônio dos Santos, Dom Pedro Maria de Lacerda, e Dom João Antônio dos Santos. Além disso, seu afilhado, Dom Silvério Gomes Pimenta, seria o primeiro arcebispo de Minas Gerais.
Dom Viçoso destacou-se não apenas pela formação religiosa, mas também pela defesa da Igreja contra os abusos do Estado. Durante o Império, a Igreja no Brasil era frequentemente tratada como uma serva do governo, que interferia em nomeações e demissões de párocos sem a consulta dos bispos. Dom Viçoso levantou sua voz contra esses abusos e foi uma figura importante na famosa “Questão Religiosa”, protestando firmemente contra a prisão de dois bispos, Dom Macedo Costa e Dom Vital Maria Gonçalves.
Outra causa importante em sua vida foi a defesa dos escravos. Desde os tempos de sacerdote, escreveu um opúsculo condenando a escravidão, sustentando que o tráfico de africanos e o uso da escravidão eram contrários aos ensinamentos da Igreja e à moral cristã. Um exemplo marcante de sua postura foi o acolhimento no seminário de um jovem negro, filho de uma escrava, que se tornaria o famoso vigário de Três Pontas, o Bem-aventurado Padre Francisco de Paula Victor, beatificado em 2015.
A educação e o amor à Nossa Senhora
Dom Viçoso tinha uma grande preocupação com a educação da juventude, tanto a daqueles que se tornariam sacerdotes quanto dos jovens em situação de vulnerabilidade. Para amparar as crianças abandonadas, comprou duas casas em Mariana e trouxe da França 12 irmãs da Caridade para fundarem o Colégio Providência.
Sua devoção a Nossa Senhora era profunda e constante. Ele sempre creditava a Maria todas as suas conquistas e promovia a devoção popular, especialmente o “Mês de Maria”, que se tornou uma tradição enraizada no coração do povo mineiro.
Após sua última viagem ao Caraça, em maio de 1875, Dom Viçoso sentiu que suas forças estavam se esgotando. Recebeu o viático em uma cerimônia tocante e conseguiu celebrar sua última missa em 16 de junho de 1875, festa do Sagrado Coração de Jesus. Pouco tempo depois, em 7 de julho de 1875, cercado por amigos, entregou sua alma a Deus.
A morte de Dom Viçoso foi sentida profundamente por toda Minas Gerais. Os sinos das igrejas de Mariana tocaram para anunciar a partida de um santo vivo e um verdadeiro pastor do povo. Seu legado permanece vivo na Igreja de Minas Gerais, que continua a se inspirar em seu exemplo de caridade, dedicação ao próximo e devoção a Nossa Senhora.
Dom Antônio Ferreira Viçoso, o “Grande Apóstolo de Minas”, é uma figura que inspira fé e coragem. Sua vida é um exemplo do que significa ser um verdadeiro pastor e servidor de Deus, sempre preocupado em fazer o bem, promover a justiça e defender os mais vulneráveis. Que sua intercessão continue a abençoar o povo mineiro e a Igreja do Brasil.
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