Palavra do Mês de Abril – PERTENÇA E FECUNDIDADE

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, Ele os poda para que deem mais frutos ainda. Vocês já estão limpos por causa da palavra que vos falei” (Jo 15,1-3).

 

Com a imagem da videira e dos ramos, Jesus apresenta aos seus discípulos o sentido e o alcance de uma vida de intimidade que apresenta “pertença e fecundidade”. Trata-se de uma “união íntima de amor”, uma intimidade fundamental e imprescindível. Sem ela corremos riscos, perdemos os rumos e não conseguimos produzir frutos duradouros. Sem esta intimidade com Cristo caminhamos sem suporte e não somos nutridos da fonte inesgotável. O Senhor sabe que fora desta intimidade não há outro caminho com a garantia de fecundidade e de autêntica vida em comunidade, uma vida recebida como dom. A expressão de Jesus “Permanecei em mim, e eu em vós” (Jo 15,4) coloca a nossa liberdade frente a uma única possibilidade de vida. Fora de Cristo, absolutamente nada. N’Ele, tudo. Ele é a única condição verdadeira de vida. A intimidade com Ele é a garantia da vida. Longe dEle a vida não é fecunda.

Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. A vinha é o símbolo do povo de Israel, o povo escolhido. Deus é quem planta a vinha, não é qualquer vinha, mas uma de tronco especial, de ramos selecionados que, por sua vez, não deverão produzir qualquer fruto. No Antigo Testamento a videira é, sobretudo, símbolo da comunidade (cf. Gn 49,11; Is 16,8; Jr 2,21; Sl 79(80),9-12), destinada para a glória de Deus, generosa no dia da vinda do seu Senhor (Is 27,2-6; 61,3.21). No entanto, esta vinha se tornou infiel (Os 10,1-2), ingrata (Is 5,1-8) e abandonada à idolatria (Jr 2,21), tornando os seus ramos secos e devorados pelo fogo (Ez 19,12). Uma vinha devastada e recomendada à misericórdia de Deus (Sl 90,9-17). Nos textos do Evangelho de São João que neste ano estamos meditando, a vinha ou a videira não é a comunidade, como lemos no Antigo Testamento, mas é Jesus a videira, a verdadeira. Jesus, o Filho enviado pelo Pai é o verdadeiro Israel, perfeitamente fiel a Deus. Portanto, a videira não pode ser mais abandonada, jamais ficará deserta nem será arrancada ou queimada. Jesus ocupa o lugar que antes ocupava o povo de Israel: Ele é a videira que cumpre com fidelidade a sua vocação para ser frutífera a Deus, alcançando o que Israel não conseguiu viver. É exatamente isto: Jesus não é somente o dom de Deus, mas também a resposta do homem. NEle, dom e resposta se unem e encontram seu cumprimento. Na cruz, um dom que morre por nós (dom) e ao mesmo tempo um homem morre por Deus (resposta). O Pai encontrou finalmente em Jesus, a obediência e o amor que se esperava. A videira é verdadeira porque Jesus é a verdade (14,6), se manifesta ao mundo e pode ser conhecida pelo homem.

Todo ramo que não dá fruto em mim, o Pai o corta. Os ramos que dão fruto, Ele os poda para que deem mais frutos ainda. É somente na força da intimidade que se estreita os laços, laços com raízes, gerando no discípulo a identidade clara e dignificante da filiação. Permanecer em Jesus significa assimilar o jeito de viver de filho. O jeito d’Ele, o Filho Bem Amado do Pai. É do Pai que vêm todos os cuidados: o corte, a poda e o fazer crescer para multiplicar a fecundidade da inserção, garantindo a abundância de frutos. Desse modo, somente através da fiel referência e fidelidade ao Pai, na assimilação do jeito de ser do Filho na nossa conduta pessoal, podemos viver uma vida fecunda de bons frutos.

Observe que um ramo fora do tronco de uma videira não é nada, ele não possui vitalidade e capacidade para produzir fruto. Fora do tronco, o ramo perde a sua própria razão, tornando-se estéril. Seu destino é trágico: é cortado. Fica seco e não serve para outra coisa a não ser para ser queimado. Jesus, com a imagem da videira e dos ramos, cria em cada um de nós esta convicção do quanto é insubstituível a condição de intimidade e pertença a Ele.

Vocês já estão limpos por causa da palavra que vos falei. Jesus é a palavra criadora, eficaz. O Pai limpa os seus com a palavra de Jesus, ou mesmo com a Palavra Jesus. O Pai, o agricultor, estará sempre conferindo a vivacidade dos ramos, ou seja, a qualidade da relação com Jesus que é a videira verdadeira. Por isso, muito mais do que afirmar “eu sou um discípulo de Jesus”, “eu acredito n’Ele e O amo”, faz-se necessário ter uma vida de bons frutos. O fruto é o amor concreto ao próximo: “o que vos mando é que vos ameis uns aos outros” (Jo 15,17).

A união de amor com Jesus não é simplesmente uma união mística, reservada para pessoas privilegiadas, aquelas que são boas ou que possuem muitos afetos. A necessidade desta união com Jesus, o Filho de Deus, é concreta, real e estabelecida pela decisão do discípulo de fazer o que Ele faz, de amar os irmãos como Ele ama: “tendo amado os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1). Sem este amor aos irmãos, podemos possuir títulos, altas funções, assumirmos tudo e, no entanto, nos tornarmos apenas um ramo seco que deve ser queimado, porque não temos frutos e não observamos o mandamento fundamental que é amar. Se estivermos unidos a Jesus, entenderemos o que Ele diz: “verdadeiramente já sois puros por causa da Palavra que vos falei” (Jo 15,3).

Que nossa pertença seja somente a Cristo. Ele nos garante uma vida de bons frutos: “tendo amado os seus, amou-os até o fim” (Jo 13,1).

Paz e Misericórdia!

 

 

PROPOSTA PARA A VIVÊNCIA DA PALAVRA DO MÊS

 

Vivência pessoal: Tenho vivido uma vida configurada a Cristo? Pertenço a Ele? Quais são as purificações ou limpezas que o Senhor quer realizar na minha vida? Quais os passos que preciso dar para viver esta união intima de amor com Jesus? Qual o gesto concreto que o Senhor te pede neste mês, para que a minha vida seja de bons frutos (amor)?

Vivência comunitária: Momento de lava-pés.

 

0 Comments

Leave a Comment

Login

Welcome! Login in to your account

Remember me Lost your password?

Lost Password