Palavra do Mês – setembro | A família de Nazaré

“Vendo a estrela, ficaram repletos de uma extraordinária alegria. Ao entrarem na casa viram o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2,10-11b)

“A glória de Deus é o homem vivente”, dizia Santo Irineu. De fato, somos feitos para uma vida plena: esta plenitude que Jesus veio trazer na terra (cf. Jo 10,10), nesta história marcada por tantas feridas na fraternidade!

Ele veio curar, através de Suas chagas, as nossas feridas. Por isso, deixou o Céu, a Sua Vida Trinitária, e se encarnou no seio de Maria. Deus desceu até nós para levar-nos até Ele. Deus se fez homem para divinizar o homem, como diz Santo Agostinho.

O Verbo se fez carne para trazer até nós a nova civilização da vida e da comunhão divina. Nesta terra, marcada pelo pecado original, por ódio, inveja, ganância, violência e morte entre irmãos, Ele veio trazer a vida do Céu, o Amor, a bondade, a Misericórdia.

Ele se fez carne, se fez coração humano, se fez “Corpo”. Este corpo que, como um vaso repleto de amor, será rachado – como diz São Bernardo – para derramar sobre todos nós a vida da divina comunhão Trinitária.

Somos feitos para o alto. Como diz o Papa Francisco, somos pó que busca o alto. Por isso, os Magos, olhando para o alto, para a estrela, chegam à casa de Belém, à Sagrada Família. Chegam a este pedaço de Paraíso na Terra, onde ninguém vive para si mesmo, onde cada um vive submisso à “vontade do Pai” e, por isso, estão todos submissos reciprocamente um ao outro, na comunhão do Amor.

José, Maria e Jesus vivem uma relação de Amor recíproco, pelo qual eles se tornam uma imagem viva da vida Trinitária, experiência do Paraíso na Terra. Como disse outras vezes, imagino que quando Jesus ensinou a orar no Pai Nosso: “assim na terra como no céu”, voltava à sua mente a memória dos seus trinta anos em Nazareth, com José e Maria.

Aquela “vida oculta” era, na realidade, a revelação do Amor divino, encarnado nos relacionamentos familiares, nos pequenos gestos diários, nos simples serviços ordinários que tornam extraordinário o nosso viver!

Por isso, os Magos e todos nós, ao “entrarmos” nessa casa, e ao vermos o menino Jesus com a Sagrada Família, ficaremos repletos de uma extraordinária alegria! Por isso, ainda, muitos santos chamaram esta vida de “a Trindade na Terra”, e São João Paulo II dizia que a vida da família cristã autêntica é chamada a participar da forma singular do mistério da vida e do amor do próprio Deus, (cf. FC, 29) e que o “nós divino” constitui o modelo do “nós humano” (cf. FC, 6).

“Vendo a estrela, ficaram repletos de uma extraordinária alegria. Ao entrarem na casa viram o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2,10-11b)

Nunca entenderemos suficientemente que nada é pequeno quando o Amor é grande e que os pequenos gestos de ordinários relacionamentos se tornam uma extraordinária revelação do próprio Deus no meio de nós!

O simples trabalho de casa, o deixar as coisas em ordem, a fadiga do serviço do dia a dia, a acolhida de um irmão, até uma simples saudação e um abraço, podem tornar-se um Pentecostes na vida dos irmãos… um “Evangelho Vivo”, que revela, sem palavras, a Palavra Viva de Deus (cf. 1Pd 3,1-2).

Nunca esqueço quando, nos primeiros tempos da minha chegada ao Brasil, uma jovem, entrando em nossa casa, ficou repleta de alegria por ter visto um padre lavando pratos e se converteu, acreditando na Palavra por uma vida que se tornou Palavra viva.

Quantas vezes vi a alegria em uma família quando o relacionamento entre irmãos foi retomado, por um pedido de perdão, por um abraço… por um “obrigado”! Quanta alegria jorra em uma família quando nos reconciliamos depois de um desentendimento, quando, com um gesto de amor gratuito, levamos um copo de água fresca para nosso irmão que está fatigado pelo trabalho!

“Vendo a estrela, ficaram repletos de uma extraordinária alegria. Ao entrarem na casa viram o menino com Maria, sua mãe” (Mt 2,10-11b)

Como viver, então, esta Palavra?

Simplesmente assim: pedindo ao Espírito Santo – que é o próprio Amor Trinitário derramado em nossos corações (cf. Rm 5,5) – a criatividade para “dar corpo” ao amor fraterno, através de um gesto de serviço, de amor, de cuidado, de carinho…

Sempre poderemos viver esta Palavra em nosso trabalho profissional, com um sorriso, um abraço, um bilhete deixado na mesa do colega, colaborando com alegria, sem que nos peçam ajuda, varrendo o escritório e colocando uma flor, para que, ao entrar, os outros percebam na harmonia do ambiente a harmonia do Paraíso e, em cada gesto de amor, uma semente da Palavra Viva que torna fecunda e cheia de alegria extraordinária a vida ordinária dos nossos relacionamentos fraternos, que trazem à Terra a luz do Céu.

Padre João Henrique
Fundador da Aliança de Misericórdia

 

 

 

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