Visitação de Nossa Senhora – o encontro de duas mães

Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?” (Lc 1, 41-43)

Festa da Visitação

A Igreja celebra no dia 31 de maio a festa da Visitação de Nossa Senhora, nos relembrando seu encontro com Isabel. Ao saber, pelo anjo Gabriel, da gravidez de sua prima, Maria se coloca a caminho para servi-la. No encontro, um momento de júbilo acontece. Ali, Maria também cantou o seu louvor a Deus e, por isso, esse dia é também conhecido como a Festa do Magnificat.

“A minha alma glorifica ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome. A sua misericórdia se estende de geração em geração, sobre aqueles que O temem. Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos 
e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias. Acolheu Israel seu servo, lembrado da sua misericórdia, como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre”.
(Lc 1,46-55 )

 

O que nos ensina

Nesta memória, aprendemos de Maria a disponibilidade do serviço e o ato de louvor. Ela, grávida do Filho de Deus, se coloca a servir a quem precisa de ajuda, atributo próprio dAquele a quem deu à luz. Ao sermos “portadores” da Graça, precisamos portar também um coração disponível às necessidades alheias, gerando um encontro de esperança, entre aquele que clama e Aquele que o responde.

O dom de ser mãe

Maria e Isabel eram duas mães. Em seu ser mulher, viveram a vocação maternal: biológica e espiritual, experimentando da fidelidade de Deus. No seu ventre, geraram homens que marcariam e mudariam a história da humanidade. No seu coração, e por sua intercessão, geram ainda hoje, homens e mulheres segundo o coração de Deus.

E, chegando ao fim de mais um “mês das mães”, a amiga da Aliança, Fernanda Tabosa, que foi missionária do Movimento, e viveu por longos anos dedicada à missão, hoje é casada e mãe do Joaquim, nos testemunhou a experiência maternal, como um dom dado a todas as mulheres.

A maternidade espiritual e biológica

“Tenho uma irmã monja carmelita, e toda vez que nos encontramos acontece um pentecostes de alegria. É como se as nossas vocações se completassem e bebemos das experiências uma da outra”.

Meu nome é Fernanda Tabosa e tenho 40 anos. Sou esposa do Rafael e mãe do Joaquim de 18 meses. Minha trajetória poderia ser como a de qualquer mãe de família, a não ser pelo fato de eu ter dedicado 14 anos da minha vida à missão e como celibatária.

Foram anos de muitas alegrias e batalhas até chegar a um conhecimento profundo de mim. As reviravoltas foram muitas e em todas fui acompanhada pelo olhar paterno de Deus.

Entendo que minha trajetória até aqui teve como objetivo a plenitude da minha realização como filha de Deus. E, posso afirmar que a vontade de Deus é que tenhamos vida plena, e que ao longo da nossa jornada possamos dar glória a Deus através da nossa vida, cantar o nosso Magnificat.

Maternidade Espiritual

Durante os anos como celibatária eu busquei de todo o coração fazer a vontade de Deus. Uma coisa que os nossos formadores insistiam, era que a missionária deveria alcançar a maternidade espiritual. 

Eu, muito jovem, não entendia o significado desta expressão até sofrer verdadeiramente por pessoas que orientei espiritualmente, por alguma missão a ser fundada, por alguma situação dentro da fraternidade.

O sofrimento que gera vida

Somente através do sofrimento eu entendi o que Deus pedia para a consagrada: um amor desinteressado e voltado totalmente para Deus e para aqueles mais pequenos, os que Ele mais amava. 

Para chegar neste nível é necessário um grau muito elevado de abandono, esvaziamento e pureza.  

Sofrimento. Ai que palavrão! Quem quer sofrer de graça? Há alguém em sã consciência que deseja noite e dia uma doença, uma invalidez, perseguição, tormentos psicológicos, só para alcançar mais rápido a santidade? 

Os santos, sim! Mas antes de se tornarem santos eles estavam assim como você e eu, passando bem longe do sofrimento. Todavia, é através dele que aprendemos tudo. Claro, se a nossa vontade estiver voltada para o Criador.

A maternidade sendo forjada

Por que dei essa volta para falar da maternidade? Porque uma mãe não é formada se não aceitar a dor que vem com esta missão, ou seja, aceitar a dor vinda do gerar, educar e cuidar. Na verdade, ninguém se torna maduro se não travar suas batalhas diárias.  

Acima dei algumas pinceladas sobre a maternidade espiritual, uma missão extremamente bela e necessária. 

Encontro entre duas mães

Tenho uma irmã monja carmelita e toda vez que nos encontramos acontece uma pentecostes de alegria. É como se as nossas vocações se completassem e bebemos das experiências uma da outra. 

Impressionante o quanto ela consegue ter um olhar para todos os que recorrem às suas orações, uma palavra de consolo. Suas orações diárias, trabalhos, missas diárias, sacrifícios e penitências… fertilizam a vida da Igreja e do mundo. 

É uma entrega silenciosa e alegre, que não espera nada em troca, pois sabe que sua recompensa é o Senhor Deus! Portanto, consigo, fazer agora um paralelo com o meu estado de vida atual. 

Maternidade biológica

Gosto de usar alegorias para ilustrar uma ideia. A maternidade biológica é como se jogassem um balde de água gelada na sua cabeça…(muitos risos). ‘Em que sentido Fernanda?’ 

No sentido de que quando o bebê vem, tudo muda brusca e violentamente. Sim. ‘Ah, mas você está exagerando’. Não estou não! Enquanto as irmãs nas comunidades de vida religiosa, diariamente e gradualmente se preparam para a maternidade espiritual, a mãe que dá à luz aprende ao mesmo tempo que seu ser é quebrado.

Um dom de Deus

Posso afirmar que, por ser uma experiência tão dolorosa, ela é, ao mesmo tempo, maravilhosa. A vida em si é um dom e acompanhá-la desde os primeiros momentos te torna testemunha de algo único. Infelizmente, nem todas as mães têm consciência do aspecto divino da maternidade. 

Meu coração não se alarga mais para acolher a todos, mas para acolher um só com todas suas necessidades. Ao receber o meu Joaquim nos braços, nas primeiras horas de sua vida extrauterina, um frio percorreu minha espinha, ao mesmo tempo que uma força me mantinha de pé para cuidar dele, apesar da exaustão do meu corpo depois da cesariana.

Quem tem medo de sofrer não vive e nem saboreia as maravilhas da maternidade. Diariamente, somos chamadas a ser presença e dar o melhor para quem está perto, cada uma à sua maneira. Seja para um filho ou irmão de comunidade.

Falsas ideologias

Hoje em dia o individualismo e a imaturidade geraram aberrações como as políticas de esterilização e antinatalistas. Parece que ser mãe de muitos filhos hoje em dia é um crime. 

Nestes dias li uma reportagem¹ sobre uma corrente de pensamento que está ganhando força e defende que o ser humano é um parasita, e para solucionar os problemas atuais as pessoas devem parar de ter filhos. Veja só o que acontece quando o ser humano se afasta do plano original do Criador. 

Antes, eu tinha muito medo de ser mãe. Hoje, ainda tenho, mas a maternidade se me apresenta a cada dia. E é delicioso terminar o dia contemplando a casa em paz e zelando pelo sono desse pequeno. Assim, faço minhas orações noturnas e descanso, sabendo que o meu Senhor, que nunca dorme, cuidará de mim. 

Finalizo, pedindo a Deus que ilumine a mente da nossa geração a não ter medo de amar, e de viver plenamente. Isso implica enfrentar o sofrimento e dar a vida. 

Que as mulheres tenham o desejo de ser exatamente aquilo que o Criador pensa para cada uma. 

Maria Santíssima, Mãe e Mestra, nos ilumine e nos guie neste caminho de encontro.

Amém!”

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