Quarta-feira Santa: Meditação de São João da Cruz sobre a noite escura da alma
“No fim, temos de chegar à conclusão de que o que importa é ter amado.”
São João da Cruz
No poema Noite Escura da Alma, São João da Cruz narra a jornada da alma que em plena noite escura (momento de desolação) sai ao encontro do Senhor, seu criador. O pequeno poema é uma verdadeira jornada da vida espiritual.
E na Quarta-feira Santa, quando a Igreja se prepara para a Paixão do Senhor, a maior das noites escuras (onde rezamos o ofício da trevas), meditar e rezar com esse poema pode nos ajudar a viver tudo com ainda mais intensidade.
A noite escura é esse momento de desolação, de sofrimento pelo deserto árido em que a alma se encontra, mas é também um terreno fértil para Deus agir na alma, pois a luz que ilumina as trevas é o próprio Cristo. A semente que cai e morre é capaz de brotar, gerando vida! Esse é o Cristo que pode, na noite escura, trabalhar como deseja na alma e assim ajudá-la a trilhar o caminho de Santidade e a vencer os vícios.
Veja também: São João da Cruz – uma vida unida à vida de Cristo
Reze conosco o Poema de São João da Cruz Noite Escura da Alma:
Em uma noite escura,
De amor em vivas ânsias inflamada
Oh! ditosa ventura!
Saí sem ser notada,
Já minha casa estando sossegada.
Na escuridão, segura,
Pela secreta escada, disfarçada,
Oh! ditosa ventura!
Na escuridão, velada,
Já minha casa estando sossegada.
Em noite tão ditosa,
E num segredo em que ninguém me via,
Nem eu olhava coisa, Sem outra luz nem guia
Além da que no coração me ardia.
Essa luz me guiava,
Com mais clareza que a do meio-dia
Aonde me esperava
Quem eu bem conhecia,
Em sítio onde ninguém aparecia.
Oh! noite que me guiaste,
Oh! noite mais amável que a alvorada
Oh! noite que juntaste
Amado com amada,
Amada já no Amado transformada!
Em meu peito florido
Que, inteiro, para Ele só guardava
Quedou-se adormecido,
E eu, terna, O regalava,
E dos cedros o leque O refrescava.
Da ameia a brisa amena,
Quando eu os seus cabelos afagava
Com sua mão serena
Em meu colo soprava,
E meus sentidos todos transportava.
Esquecida, quedei-me,
O rosto reclinado sobre o Amado;
Tudo cessou. Deixei-me,
Largando meu cuidado
Por entre as açucenas olvidado.
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