Maria Madalena – Um caminho de Misericórdia

Quando pensamos em Maria Madalena, na maioria das vezes, lembra-se de uma mulher pecadora e de má vida no Evangelho. Aquela que se arrependeu e que dela Jesus havia expulsado sete demônios (Lc. 8,2; Mc. 16,9), o que equivale dizer “todos os demônios”.

Lembramos que Jesus ao pregar perto de Cafarnaum, a encontra. Aquele Divino Olhar recai sobre Maria, mas desta vez, esse olhar do Salvador e essa palavra penetrante mudaram seu coração mais dolorido que endurecido.

É um encontro de duas pessoas: a miserável e a Misericórdia. Podemos imaginar e contemplar esta cena, em que se encontram confrontadas a miséria do homem e a misericórdia divina, uma mulher acusada de um grande pecado e Aquele que, embora fosse sem pecado, assumiu os nossos pecados, os pecados do mundo inteiro.

Jesus elogia o amor desta mulher pecadora dizendo: “muitos pecados lhe são perdoados porque muito amou” (Lc. 7,47). Em seguida, ela seguiu a Jesus e não O deixou mais. O amor do Senhor conquistou-a, envolveu-a, apaixonou-a trouxe para ela novo sentido de vida.

Seduzida pelo Amor de Deus

Ele experimenta a fraqueza daquela mulher, prova do campo doloroso de suas necessidades, carências, necessidades e preenche os espaços vazios deste coração com o amor do Deus que ele chama de Pai.

Estes foram os efeitos do amor de Jesus em Maria Madalena, que após ter sido seduzida e transformada pela força deste amor, a tal ponto que depois de uma vida de vícios e desvarios, não ficava parada, era continuamente incomodada à servir e seguir o Mestre.

Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10,42).  Portanto, “ninguém rouba aquilo que o amor constrói”.

Não se pode negar que o amor supera em beleza, valor e essência todas as demais virtudes, inclusive a própria Fé e a Esperança. O apóstolo São Paulo, nos diz que “o amor jamais acabará” (1Cor 13, 8).

Podemos afirmar que na vida todas as virtudes somente preparam e iniciam um caminho para a verdadeira vida, mas quem a realiza de modo pleno é o amor. É o amor que vale, é o amor que permanece. Eis para nós uma grande descoberta: o nome de nosso “Deus é Amor” (1Jo 4,16).

O Amor redentor

“E, no entardecer da vida, não seremos julgados pelo que fazemos, pelas obras, mas pelo amor que colocamos no que fazemos”.

Nos apresenta a Bíblia que Maria Madalena e outras mulheres nas primeiras horas do dia foram ao túmulo de Jesus, mas não encontraram o corpo, apenas um homem vestido de branco que anunciava que Ele havia ressuscitado (Mc 16, 1ss).

Maria Madalena não se aquietava, desejava encontrar o corpo dAquele que a amou, Aquele que mudou toda a sua vida. Não parava, ardentemente desejava encontrar o seu Amado.

Mesmo assim, com seu ardor sem medida, Madalena contagiou os Apóstolos, e estes, associando-se aos mesmos sentimentos de amor, temor e esperança, partiram cheios de ânimo para o túmulo de Jesus.

Diálogo de amor

Maria Madalena em prantos, tomada de zelo dizia: “Levaram o meu senhor e não sei onde o puseram” (Jo 20, 13). Tendo dito isto, ela se volta para trás e, sem dar-se conta, vê o seu Senhor em pé, contudo, não O reconhece.

E Ele lhe pergunta: “Mulher, por que choras? Quem procuras?” (Jo 20,15). Assim, fica claro que quanto mais a pessoa explicita o amor que tem, mais nesse amor ela cresce.

Jesus disse: “Maria!” (Jo 20, 16). Bastou que o Salvador pronunciasse seu nome para que ela O reconhecesse. Imediatamente, ela se coloca aos Seus pés. Quer dizer, ela procurava o corpo, e o que encontrou? Encontrou o próprio Jesus.

Este é, justamente, o fruto do amor. Quando a pessoa deseja com muito amor, devoção, fascínio, e sobretudo, com entusiasmo, especialmente quando se trata de algo ligado a Deus, recebe mais do que aquilo que procura.

Cena do filme "Paixão de Cristo" onde Madalena estende a mão a Jesus
Imagem: projeto gospel

Não podemos ficar parados! Corramos ao Encontro de Jesus, nosso Bem supremo, Ele muda nossa vida e muda a vida dos fracos em fontes de graças para a humanidade!

Um gesto de amor pode salvar uma vida

Há muitas “Marias Madalenas” que vivem feridas pelo adultério, pela prostituição, pelas drogas. Que temem a fraqueza, que os outros as flagre no sofrimento, preferindo assumir posturas marcadas pela agressividade para esconder as próprias feridas e fragilidades.

Esta Mulher pecadora talvez represente para nós uma humanidade que grita como uma mulher em dores de parto com sede do amor de Deus. Este amor visível na vida do Cristo que passou pela cruz, por amor, somente por amor.

Evangelização Maria Madalena

Na Aliança de Misericórdia, dentro das ações realizadas com os mais pobres e excluídos, os missionários realizam a evangelização Maria Madalena, que consiste na abordagem de garotas (os) de programa, com o objetivo de resgatar a verdadeira identidade de Filhos de Deus, mostrando a eles seu verdadeiro valor, por meio do anúncio da Palavra (o kerigma), que é realizado de várias formas: com oportunidade de passeios, numa oração pessoal, diálogos, convites à piqueniques e almoços.

Uma experiência recente muito emocionante, é a que os missionários de São Paulo têm realizado, na região do Centro, com esta evangelização.

Inspirada numa situação que ocorreu com a missionária celibatária Mary de Calcutá, que estava aguardando uma “filha da Aliança”, junto a um albergue, e viu uma moça que ela tinha conversado há alguns minutos antes, saindo toda arrumada e produzida, a indagou de onde ia, e essa moça disse que ia se prostituir para obter dinheiro para comprar o “jumbo” (alimentos e produtos de higiene) para seu marido que estava preso.

Diante dessa triste situação, a missionária se compadeceu daquela moça e perguntou quanto ela cobrava. Com a resposta, pediu aquele valor a um amigo missionário que a acompanhava e deu a quantia para a moça, que começou a chorar.

A partir dessa triste experiência, houve a inspiração da evangelização Maria Madalena nos moldes descritos abaixo:

Ir ao encontro dos filhos de Deus

Ao menos uma vez ao mês, os membros se dividem em equipes, com duplas, se dirigindo a pontos de prostituição. Encontrando algumas dessas garotas de programa, as convidam para uma experiência diferente naquela noite, para rezarem e receberem oração.

Algumas aceitam desconfiadas, outras relutam. Inclusive, justificando com a necessidade de se prostituírem para poder sobreviverem.

Então, os missionários perguntam qual o valor, insistindo no convite e falando que dariam aquele valor para ir com eles.

É muito emocionante, pois muitas delas, ao final daquele momento, se recusam em receber o valor.

Enquanto isso, outros membros ficam na casa de missão, intercedendo, preparando um lanche bem caprichado, além do essencial: a presença de Jesus Eucarístico.

Ao chegarem na casa de missão, essas filhas de Deus são ali acolhidas pelos missionários com o coração aberto e terno. São convidadas para um momento de oração, em que muitas “despejam” suas dores, medos, angústias, traumas, preocupações, fraquezas… e pedem ajuda. Às vezes, só querem um abraço sincero, sem outras intenções.

Depois, sentam-se à mesa em que partilhamos do lanche preparado.

Todas que participam testemunham a alegria de viverem este momento, de se sentirem filhas de Deus, que apesar da situação de pecado que se encontram, não são órfãs, mas têm um Pai no Céu que, pelo arrependimento e conversão, as espera e as convida para a Ceia do Cordeiro.

Alessandra, missionária de aliança, nos testemunhou uma experiência que viveu durante a evangelização:

“No primeiro dia que realizamos a evangelização aqui, foi muito emocionante pois não tínhamos noção de como seria.

Antes de tudo, paramos diante do Santíssimo, rezamos pedindo muito que o Espírito Santo nos conduzisse nessa nova jornada, conscientes de que devemos seguir o caminho que o Pai nos mostra.

Assim, nos dividimos e uma das duplas que saiu para a rua abordou uma moça de 19 anos, uma moça muito bonita. Ela chegou na casa, nos sentamos à mesa, nos apresentamos, partilhamos um lanche e depois nos oferecemos para um momento de oração. Ela disse que sim e então a levamos à Capela. Durante a oração, ela chorou muito, muito, muito! Eu fiquei muito mexida com a história dela. A vi como se fosse uma filha precisando de um abraço de mãe.

Ela falou que tinha o desejo muito grande de sair dessa vida, que era do interior de São Paulo e foi para a capital para fazer faculdade. Era seu pai quem pagava tudo, mas ele adoeceu e a família passou por necessidades, pois era ele quem sustentava a casa. Então, ela começou a se prostituir para pagar os estudos e ajudar a família.

Choramos muito juntas, como verdadeira mãe e filha (eu não podia deixar de vê-la como minhas filhas, que estavam em casa).

Depois desse momento, muito emocionada, partilhamos mais da vida dela, nos comprometendo, eu e ela, a mantermos contato.

Muito bonito na despedida ela dizer que saia muito diferente do que quando chegou.

A partir dessa noite, eu fiquei com o contato dela e nós conversamos até hoje. Em uma das nossas conversas, ela me perguntou onde tinha um grupo de jovens que ela poderia ir participar. Começou a procurar um emprego formal. Agora, está trabalhando em um escritório e saiu da vida de prostituição, pela Glória de Deus..

No Domingo de Ramos, ela me mandou vídeo e fotos, mostrando que estava na missa e dizendo da felicidade em estar ali.

Além do relato dessa moça de 19 amos, todas elas que aceitam nosso convite, muitas não acreditando no princípio sobre nosso objetivo,  ficam impressionadas ao ver aquilo que é realizado como missão. Contam-nos, com muita alegria no coração, que jamais esperavam viver um momento como aquele, que tiveram o coração muito tocado. Choram muito e sentem muito o amor e o carinho de Deus”.

Essa é a Aliança de Misericórdia, indo em busca dos mais pequeninos, dos mais excluídos, daqueles que ninguém vê como filhos do mesmo PAI.

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