FaceApp e o medo da velhice

A velhice tem uma beleza comparada a das crianças. Duvida? Já percebeu como idosos e os pequenos se dão bem?

Viralizou

As redes sociais suscitam o tipo de comportamento de compartilhar as novidades de forma exaustiva. De uma hora para outra, algo se torna o assunto mais comentado e se alguém não tem conhecimento daquilo é como se não fizesse parte deste planeta.

Xuxa Meneguel FaceApp
Anos envelhecida com FaceApp.

É assim com os memes, as hashtags, jogos, assuntos que todo mundo fala e comenta de maneira compulsiva até que some com a mesma rapidez com que apareceu.

Nesses dias, um aplicativo (app) chamado FaceApp tem chamado a atenção e se tornou viral. Ele é mais um app de filtros de imagens como tantos outros, porém, o filtro “idoso” é de uma perfeição admirável e os compartilhamentos das imagens transformadas começou a ser compartilhado a princípio entre os famosos e youtubers.

Logo, diversas pessoas começaram a compartilhar suas fotos como idoso, porém, algumas se assustaram de tal maneira que não quiseram se expor. Uma pessoa (idosa) próxima de mim comentou – “Não, não precisa mostrar a velhice, pra quê?”.

Ninguém é obrigado, não é verdade? Mas a pergunta que fica no ar é: por que a velhice assusta?

Tudo o que é velho é inútil?

Enquanto fazia uma reflexão sobre o assunto, lembrei-me que várias vezes o Papa Francisco abordou o assunto da velhice com muito carinho e tato, principalmente em suas catequeses onde abordou o que ele chama de cultura do descarte”.

Ou seja, nossa sociedade muito preocupada com os avanços tecnológicos e em aprimorar seu modo de agir, por vezes acaba descartando coisas que considera inútil para o progresso e, infelizmente, os idosos estão neste montante.

As gerações mais jovens não aprenderam a ouvir os mais velhos justamente por pensarem que o tempo deles realizarem algo para o mundo já passou e tudo deve ser novo a partir de hoje. Por isso, muitos dos nossos idosos vivem sozinhos em asilos ou em suas próprias casas, sem visitas e esquecidos.

Ah, quanta riqueza de experiência e sabedoria há numa mente que viu a mudança de um século! Quantas “cabeçadas” juvenis poderiam ser evitadas se tivessem ouvido o conselho de um ancião. Antes que alguém diga “ah, mas é importante dar cabeçadas na vida para aprender” – sim, mas existem algumas que são irreversíveis e podem mudar os rumos da vida de um jovem para sempre.

Tudo que é velho é feio?

Os meios de comunicação e propagandas quando nos vendem um produto (desde pasta de dente a um carro), mostram o bem estar e a qualidade de vida que teremos se adquirirmos tal bem. E a isca é sempre uma mulher ou rapaz jovem sorrindo feliz no auge de suas forças físicas.

Anos vendo este tipo de abordagem envia para o inconsciente coletivo (se podemos dizer assim) a mensagem de que o contrário disso é a infelicidade, ou seja, a velhice não nos trará o prazer, o bem estar e a felicidade.

Veja o tanto de cosméticos e recursos que existem para retardar o processo de envelhecimento – “Atriz de 67 anos em plena forma” – corpo modelado com academia, cirurgias, produtos caros, tudo para “despistar” o inevitável.

A velhice tem uma beleza comparada a das crianças. Duvida? Já percebeu como idosos e os pequenos se dão bem? Certa vez recebemos um testemunho de uma criança do “Movimento Estrelinhas da paz” que foi a um asilo alegrar o dia dos idosos. Uma garotinha de 4 anos chegou em casa radiante e partilhou com a mãe:

“Eles se parecem comigo; uns usam fraldas, outros precisam de ajuda para comer e alguns precisam se segurar em alguém pra continuar caminhando, porque sozinhos não conseguem! Nós todos parecemos criança, né?”. 

Por traz deste depoimento está a humildade de quem conhece o pequeno e frágil, mas não deixa de ser e viver o momento que a vida proporciona hoje. Assim é a criança e assim deve ser quando chegarmos à nossa velhice.

A vocação da velhice

Em uma de suas catequeses (11/03/2015) sobre os avós, o Papa Francisco reforçou de maneira especial o papel dos idosos dentro da família e da sociedade e contou sua experiência em visita nas Filipinas.

“Quando estive nas Filipinas, o povo filipino me saudava dizendo “Lolo Kiko” – isso é, vovô Francisco – “Lolo Kiko”, diziam!

Uma primeira coisa é importante destacar: é verdade que a sociedade tende a nos descartar, mas certamente não o Senhor. O Senhor não nos descarta nunca. Ele nos chama a segui-Lo em cada idade da vida e mesmo a velhice contém uma graça e uma missão, uma verdadeira vocação do Senhor.

A velhice é uma vocação. Não é ainda o momento de “tirar os remos do barco”. Este período da vida é diferente dos precedentes, não há dúvida; devemos também “criá-lo” um pouco, porque as nossas sociedades não estão prontas, espiritualmente e moralmente, para dar isso, a esse momento da vida, o seu pleno valor.

Uma vez, de fato, não era assim normal ter tempo à disposição; hoje é muito mais. E mesmo a espiritualidade cristã foi pega um pouco de surpresa e se trata de delinear uma espiritualidade das pessoas idosas. Mas graças a Deus não faltam os testemunhos de santos e santas idosos! (…).

Nós podemos agradecer ao Senhor pelos benefícios recebidos e preencher o vazio da ingratidão que o circunda. Podemos interceder pelas expectativas das novas gerações e dar dignidade à memória e aos sacrifícios daquelas passadas.

Nós podemos recordar aos jovens ambiciosos que uma vida sem amor é uma vida árida. Podemos dizer aos jovens amedrontados que a angústia do futuro pode ser vencida. Podemos ensinar aos jovens muito apaixonados por si mesmos que há mais alegria em dar do que em receber”.

Fernanda Tabosa, colaboradora da Aliança

Com informações de CNBB

Conheça o projeto Morada Nova Luz de acolhimento de idosos

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