Em busca da verdadeira amizade
“Já não vos chamo mais servos, mas amigos” (Jo 15,15)
A verdadeira amizade
Era o último dia em que nosso Senhor passaria com aqueles que estiveram presentes em Suas provações (Lc 22,28). Até então, o Rabino de Nazaré, era chamado de senhor pelos seus discípulos. Mas, neste dia derradeiro, em que Ele se entregaria pelos Seus amigos, Jesus transforma Seus discípulos, limitados e fracos na fé, em Seus melhores amigos. Mas, o que é, de verdade, a amizade?
Para entender este sentimento profundo, devemos olhar para o mundo antigo, que antecede a nossa era comum. Uma das referências maiores que teremos é do grande filosofo grego Aristóteles. Para o mestre de Alexandre, o Grande, a amizade faz parte do caminho de felicidade de cada um de nós. Ele, em sua Ethica Nicomachea, nos ensina a respeito dos três níveis de amizade. Vejamos o que nos ensina o filósofo grego e como os seus ensinamentos encontram em Jesus a plenitude.
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Raiz filosófica
Antes de mais nada, temos que entender que o termo grego para amizade tem sua raiz na palavra philia. Este verbo está ligado ao amor. Portanto, amizade no sentido geral da palavra significa amar. Por isso que a palavra filosofia deriva de philos, isto é: amigo, amante da sabedoria. O que quero dizer com tudo isso, é que o sentimento de amizade deve ser pautado pelo amor. Um amor verdadeiro, sem pretensões, mas gratuito.
Neste sentido, Aristóteles nos diz: “Ninguém, com efeito, preferiria viver sem amigos, mesmo que possuísse todos os bens da terra!” É muito profundo este ensinamento, não é mesmo? Amigo de verdade não aquele que se interessa pelas suas posses, mas simplesmente por você. Um amigo é mais valioso do que todos os bens encontrados no mundo.
Em uma linguagem sistemática, portanto, Aristóteles nos ensinará que existem três tipos de amizades.
1- Amizade por prazer
Esta primeira está relacionada ao prazer de estar juntos. Veja que o objeto aqui não é o amor nem mesmo o caráter da pessoa, mas sim a satisfação de estar com ela. Por exemplo: os adolescentes e os jovens se encontram para uma festa ou mesmo para estarem em grupo. Este tipo de amizade está relacionado simplesmente ao simples fato de estarem juntos para uma festa ou para um momento de celebração. Mas, quando acaba tudo isso, a amizade também se desfaz.
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2- Amizade interessada
Este tipo de amizade está ligado ao fato da instrumentalização da pessoa. Isso se refere aqueles que baseiam suas amizades simplesmente por àquilo que o outro lhe pode dar. Esta amizade, claramente, não é verdadeira.
3- Amizade perfeita
Por fim, chegamos àquilo que o filosofo chamará de amizade perfeita ou virtuosa. O nível desta amizade está baseado simplesmente na pessoa e no amor a ela. Sem interesse algum e, principalmente, sem nenhuma instrumentalização. Logo, a amizade perfeita é aquela pelo qual nos tornamos um dom para o outro.
Amizade à luz de Jesus
É justamente esta última amizade que Jesus espera de nós. O amigo verdadeiro é aquele que não somente está nas horas de prazer e quando o outro pode dar algo para mim. Na verdade, o que caracterizará a verdadeira amizade é o amor que é gratuito e capaz de dar a vida pelos seus amigos.
Que em Jesus possamos aprender, à luz do Seu exemplo, que ser amigo é ser um dom para o outro. Que o verdadeiro Amigo nos ensine.
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Professor Rafael Brito
Missionário da Aliança, Mestre e Doutorando em Teologia e Filosofia
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