A traição sempre vem de quem mais amamos

“Dito isso, Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: “Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!…”

Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava. Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus*.

Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: “Dize-nos, de quem é que ele fala”. Reclinando-se esse mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: “Se­nhor, quem é?”

Jesus res­pondeu: “É aquele a quem eu der o pão embebido”. Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes”. (Jo, 13, 21-26)

Há motivos para trair?

Adentrando na Semana Santa nos colocamos a analisar e contemplar, além da Paixão do Senhor, os personagens que rondam todo este drama.

Hoje propomos uma breve reflexão sobre a pessoa de Judas Iscariotes.

É automático a aversão que muitos de nós temos quando ouvimos este nome, sendo ele até sinônimo da palavra traidor. Mas já pensou o por quê Judas traiu Jesus?

Há quem diga que ele foi tomado pela ganância, que o motivo tenha sido a decepção por Jesus não ter sido o líder político-militar que ele esperava…, porém podemos ir mais a fundo nas possíveis motivações.

Um dado importante fornecido pelos Evangelhos é que a ação do apóstolo não foi executada de uma só vez. Ela foi paulatina e planejada, esperando assim o momento certo para acontecer.

Buscando nos evangelhos

Vamos tomar por base para esta reflexão uma meditação do então Papa Bento XVI.

Primeiro ponto: a responsabilidade pessoal de Judas

“Durante a ceia – quando o de­mônio já tinha lançado no coração de Judas, filho de Simão Iscario­tes, o propósito de traí-lo”.

Os evangelistas fazem questão de, ao falar de Judas, não ocultar que ele foi escolhido por Jesus e fazia parte do seleto grupo dos Doze. Mesmo com todo este currículo, o apóstolo cedeu à tentação do maligno.

Estar em íntima amizade com Jesus não nos imuniza das tentações. Por isso, a vigilância constante com a vida de oração, sacramental e caridade formam uma defesa contra as investidas do mal.

Ao saber que o diabo sondava o coração do Apóstolo, Jesus o tratava como amigo e o convidava constantemente a olhar para onde estava indo. Ele o convida à conversão.

Assim, entramos no mistério da liberdade humana a qual nunca foi impedimento para que a Providência Divina pudesse guiar a história do seu povo.

Cada um de nós pode caminhar para a perversão do coração se não olharmos o mundo do ponto de vista do Cristo. “Não vos conformeis com este mundo”, diz Paulo.

Infelizmente, vamos cedendo ao ponto de vista do mundo atual. Somos relativos e permissivos em uma série de coisas. Afrouxamos as rédeas da nossa vontade muito facilmente.

Basta ver o que disse Jesus ao repreender Pedro que estava indo pelo mesmo caminho: “Afasta-te de mim satanás! Tu não aprecias as coisas de Deus, mas só as dos homens” (Mc 8, 32-33)!

Segundo ponto: Jesus espera a disponibilidade

São Bento, no capítulo V de sua Regra, diz: “Nunca desesperar da misericórdia”.

Sempre comparamos a traição de Judas e de Pedro. Todavia, há uma diferença fundamental entre ambos: Pedro chorou amargamente, se arrependeu e encontrou o perdão e a graça. Por sua vez, Judas, também se arrependeu, mas seu arrependimento degenerou em desespero até a autodestruição.

Judas entendeu o quão grande foi seu erro, porém, enganou-se ao pensar que ele fosse maior que a Misericórdia Divina, que acolhe todo pecador arrependido.

Ficamos admirados ao pensar que a traição de Judas levou à morte de Jesus. O mestre, ao invés, fez questão de transformar seu suplício em fonte de salvação.

Uma curiosidade: o verbo “trair” em grego deriva da palavra “entregar”. A partir deste dado Bento XVI conclui:

“Por vezes o seu sujeito (do verbo entregar) é inclusivamente Deus em pessoa: foi ele que por amor “entregou” Jesus por todos nós (cf. Rm 8, 32). No seu misterioso projeto salvífico, Deus assume o gesto imperdoável de Judas como ocasião da doação total do Filho para a redenção do mundo”.

Com informações de Arquivo do Vaticano

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