Tolkien e os tempos de crise
É em momentos difíceis que a nossa esperança é convocada. Tolkien, em um momento delicado da sua vida, teve de abrir mão de seu lar e dos seus para servir seu país na Primeira Guerra Mundial.
Tolkien e tempos de crise
Não havia a segurança de que Tolkien voltaria para continuar o seu tão belo caminho – o qual hoje somos honrados em contemplá-lo. Todavia, havia no coração desse homem algo que o impulsionava a cumprir sua missão e voltar são e salvo para o seu lar: a esperança! E foi essa virtude tão cara que o mesmo quis experienciar na sua tão aclamada obra: O Senhor dos Anéis.
O que faremos com esse tempo?
Em meio a um tempo difícil, o pequeno hobbit desesperançou, não queria carregar o peso de ser o portador do anel, de ter consigo a missão de salvar o seu lar, de salvar toda a Terra Média, não queria ter de carregar esse fardo, não gostaria que isso tivesse acontecido com ele.
Havia angustia e medo no seu coração quando conversava com o mago Gandalf (figura do profeta dentro da mitologia de Tolkien), e, então, ouve dele a seguinte frase:
“como todos que testemunham tempos como este, mas não cabe a eles decidir, o que nos cabe é decidir o que faremos com o tempo que nos é dado”.
Escolha o essencial
O medo no coração do pequeno Hobbit e a frase profética do mago Gandalf, ressoam grandemente em nossos corações se assim tivermos a abertura e humildade para tornar a experiência deles a nossa.
Não escolhemos esse tempo de recolhimento forçado, não escolhemos ter de abrir mão das nossas tarefas cotidianas que muitas vezes nos são tão caras, não escolhemos este tempo no qual temos de nos manter distantes daqueles que mais amamos e, principalmente, Daquele que mais nos ama. Mas este tempo nos foi dado e cabe a nós, apenas, decidir sabiamente o que faremos com ele.
Esperança X Medo
Como contemplamos na jornada do Frodo – pequeno hobbit – o medo que havia no seu coração só foi vencido mediante a esperança que o fez continuar a missão pelos seus.
Devemos, semelhantemente, buscar essa mesma esperança diante do medo que possivelmente assola nossos corações neste período atípico. Mas a esperança é um fruto do amor, e esse, consequentemente, é realizado no dia-a-dia, nas pequenas coisas, nas mais cotidianas, as quais, como observa brilhantemente o estimado psiquiatra Viktor Frankl, nenhuma circunstância pode tirar nossa liberdade de as tê-las ou realizá-las.
Liberdade no Amor
Existe, portanto, uma liberdade dentro de nós que nenhum acontecimento pode nos tirar, de um anel poderoso que pode sucumbir a vida na terra até um vírus que tem potencialmente o mesmo poder, e essa circunstância irrevogável é o Amor!
Não coincidentemente, fomos convocados a viver este tempo dentro de um maior, a Quaresma. Cabe a nós, darmos um sentido transcendente a tudo isso, buscando viver cada dia de forma a valer a pena, exercendo o ato mais livre de que somos capazes, o amor. Vamos mergulhar nesta jornada a qual fomos chamados inesperadamente.
Ordinário extraordinário
Existe um maravilhoso extraordinário por trás do ordinário, em um arrumar o quarto, em um lavar a louça, em uma conversa com aquele(a) amigo(a) que já não falamos há um tempo – principalmente aqueles que se encontram desesperançosos. E, para que esse amor cresça e gere frutos de esperança, é necessário fortalecer a fé, por isso, rezar, rezar e rezar, e ordenar o principal cômodo na nossa casa, o nosso coração.
Percebamos que foi um diálogo que revigorou a esperança do jovem hobbit, e é justamente nesse diálogo cotidiano com Nosso Senhor que encontraremos o sustento e a fortaleza para cumprimos a missão da qual fomos encarregados: cuidar dos nossos (FICANDO EM CASA!) e aproveitar a situação oportuna para restabelecermos a intimidade com Aquele que tanto sente saudade de nós. Que nossos pés estejam bem fixados em casa, mas que os nossos corações estejam elevados ao céu.
Escolha pela esperança
Não podemos escolher o tempo que vivemos/viveremos, mas “cabe a nós decidir o que faremos com este tempo que nos foi dado”. Portanto, nos cabe buscar um sábio recolhimento, de cuidado, de ordenamento, de volta para casa, honrando cada pequeno movimento nosso no presente, no agora, pois, para amar a Deus só temos o hoje. Que não seja um período de desesperança, mas um tempo de recomeço. A noite mais densa é sempre mais escura antes do amanhecer. Estejamos fortes e que a esperança vença o medo!
Pés em casa, coração no céu!
Deus os abençoe
Lucas Lucena
Aliança de Misericórdia, Ceará.
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